Caro leitor, esqueça por uns momentos que sou jornalista.

Pense em mim como alguém que gosta de futebol e que, mais do que isso, gosta que um jogo de futebol se pareça com um intervalo delicado na vida dura de quase todos os dias, de quase todas as pessoas. E que, ainda mais do que isso, alguém que ao pensar em futebol não pode deixar de pensar nuns senhores de bigodes diplomáticos, longos calções e balizas às costas.

Uns senhores de outros tempos, de outros jogos.

Se pensar em mim assim perceberá como é difícil elogiar o Benfica de hoje em dia.

Tanto como sempre foi difícil, para mim, elogiar Pinto da Costa. Mourinho sim, claro. Robson, evidentemente. Mais alguns fantásticos jogadores que passaram (e passam) pelo Dragão. Mas o presidente do F.C. Porto não.

Nunca precisei de escutas para compreender Pinto da Costa. Nunca precisei da Benfica TV para entender Luís Filipe Vieira.

O tipo em mim que gosta de futebol admira a equipa que Jorge Jesus tem construído. O tipo em mim que gosta de futebol tem pena que o Benfica seja hoje um clube distante dos valores que o fizeram Benfica.

Mas, claro, Cardozo, Saviola, Aimar, certamente Di Maria e David Luiz não têm culpa. Os benfiquistas mais fáceis de conquistar dirão que a estrutura (para usar, de propósito, uma palavra que diz tudo e nada) que envolve hoje a equipa de futebol é a necessária para equilibrar as contas com o rival do Porto e permitir que a equipa jogue e vença. Talvez.

Não me obriguem é a gostar hoje de métodos que sempre entendi errados no passado.

Mas, dizia eu, os jogadores nada têm a ver com esta história. E foram esses jogadores que esta tarde venceram o Herta de Berlim por 4-0. Se tiver paciência, caro leitor, procure na história do Benfica o número de vezes que os «encarnados» derrotaram um clube germânico por esta marca. Aconteceu pouco.

Claro que este jogo, para a Liga Europa, não entrará na história do Benfica exactamente no mesmo capítulo de um célebre 6-0 ao Nuremberga, para a Liga dos Campeões, a 22 de Fevereiro de 1962. Claro que este Herta é tão último na Bundesliga que isso o torna mais uma equipa austríaca do que uma potência alemã. Mas nada disso impede o óbvio: o Benfica jogou muito bem, goleou e segue com mérito e ambição na Europa. E isso merece todos os elogios.

Até porque esta foi a vitória 150 do Benfica na Europa, algo que só nove clubes tinham conseguido.