Chamaram descarado ao V. Setúbal. Foi ao Estádio da Luz, a 30 de Dezembro de 1973, vencer o Benfica por 3-2 na 15ª jornada do campeonato. Um Benfica com Eusébio lesionado, Toni castigado, Artur Jorge a recuperar de uma operação, mas, ainda assim, um Benfica de glórias, um Benfica que não perdia em casa, para o campeonato nacional, há oito anos.
«A lenda desmoronou-se», escreveu o jornal «A Bola» do dia 31 de Dezembro. E Jacinto João, recentemente falecido, foi quem mais fez para a fazer cair. Dos seus pés veio a bola que Artur desviou sem querer para a sua própria baliza, logo no primeiro minuto. Dos seus pés veio o livre que Duda levou depois à trave e Octávio Machado às malhas aos 55. E, para terminar, o livre certeiro que bateu José Henrique aos 65 minutos.
Era o escândalo. O V. Setúbal já tinha liderado o campeonato durante várias jornadas, é certo. Estava agora no segundo lugar, a apenas um ponto do líder leonino, mas, mesmo assim, jogava na Luz e tinha o «descaramento» de ir mandar no jogo durante 85 minutos. Ficaram os 5 minutos finais para o Benfica e ainda chegaram para os golos de Jordão e Vítor Martins, mas não foram suficientes para apagar a má prestação encarnada.
Era dia não para o Benfica. No final, um adepto encarnado ainda foi preso por atirar uma garrafa de plástico ao juiz de linha. Conta «A Bola» que a frase que se ouviu nas bancadas foi o resumo perfeito do dia. «Aconteceu-nos tudo. O único benfiquista com pontaria foi preso...»
No Estádio da Luz, sob a arbitragem de António Garrido e com uma assistência de 40 mil pessoas, as equipas alinharam e marcaram:
Benfica: José Henrique; Malta da Silva, Humberto Coelho, Bastos Lopes e Artur; Vítor Martins, Vítor Baptista e Simões (cap.); Nené, Jordão e Diamantino.
V. Setúbal: Joaquim Torres; Rebelo, Cardoso (cap.), Mendes e Carriço; Octávio, Matine e José Maria; Duda, José Torres e Jacinto João.
Marcadores: 0-1, Artur (1 m, n.p.b.); 0-2, Octávio (55 m); 0-3, Jacinto João (65 m); 1-3, Jordão (87 m); 2-3, Vítor Martins (88 m, g.p.)