De Cosme Damião até João Neves.

De Eusébio a Jonas, passando por Nené, Coluna, Chalana, Veloso, Nuno Gomes, Luisão ou João Félix.

120 anos de história do Benfica. 155 jogadores marcantes. Mais de 300 cromos icónicos.

Hugo Silva conduziu a sua paixão pelo colecionismo com o regresso aos livros. «Ases da Luz» conta a história de 120 anos do Benfica, assinalados no passado dia 28 de fevereiro, a partir de jogadores marcantes da história dos encarnados, desde 1904 até 2024.

Entre estatísticas de jogos, golos e títulos e resenhas de cada nome que deixou marca no Benfica, há verdadeiras raridades do colecionismo. Dos 155 jogadores, 30 foram elencados em páginas douradas como os inevitáveis. Os mais dos mais importantes. Cada um deles com seis cromos. Seguem-se, numa segunda categoria, 45 jogadores históricos com dois cromos cada. E, numa terceira, 80 figuras do passado e do presente do Benfica, cada uma com um cromo.

Entre todos eles, um dado que espelha a criteriosa seleção para quem quis juntar o gosto e a curiosidade pelo colecionismo a um documento histórico. «O primeiro cromo de todos os jogadores no Benfica está sempre presente. É um dos que foi sempre escolhido. Depois, todos os outros cromos foram escolhidos em épocas onde existiu algo marcante em torno desse jogador. Ou porque foi o melhor jogador do campeonato nesse ano, o ano em que foi a maior contribuição em jogos, o ano em que foi o melhor marcador no campeonato, numa competição europeia, ou o ano em que chegaram a uma final europeia. Portanto, os cromos são de anos em que houve acontecimentos históricos. Depois, o livro tem a informação de que caderneta é retirado o cromo e o porquê de ser daquele ano, porque é que foi aquele cromo e não outro», explica Hugo Silva, ao Maisfutebol.

Mas, afinal como é que foi possível reunir cromos de jogadores de 120 anos de história? O bichinho dos cromos, à partida, ajudou, mas foi preciso mais.

«Eu tenho uma base de dados muito grande de cromos e colecionismo. Para além de colecionador, sou muito curioso acerca da história dos cromos e os meus dois anteriores livros foram nesse sentido, a história do cromo do futebol e todo o passado das coleções que foram existindo desde 1929 até hoje, as cadernetas que existiram. Tenho muitos desses cromos nas minhas bases de dados digitais, mas a maioria das coisas que estão no livro são cromos que tenho, cadernetas que possuo», refere Hugo, que passou cerca de um ano em torno da execução do projeto.

«Não é a minha área profissional. No fundo, é um hobbie, mas claro que deu muito trabalho recolher todos os dados dos jogadores, 155 já é um número relevante e é trabalhoso encontrar os dados dos jogadores para serem corretos. Depois, a procura dos cromos não é fácil. Embora eu tenha as coleções, embora as conheça, é preciso procurar as épocas relevantes e dentro delas, os cromos que podem estar presentes no livro, os que se enquadram melhor. Nem sempre é fácil o processo de encontrar o primeiro cromo do jogador no clube. Por exemplo: há um jogador que chegou em 1984 e basta ir às cadernetas de 1984. Mas nem sempre é assim. Muitas vezes, o jogador chegou ao clube em 1984, mas não jogou muito nesse ano. Então, em 1984, ele não tem cromo», exemplifica.

Caso disso é, por exemplo, Eusébio, um dos 30 nomes nas páginas douradas: chegou ao Benfica em 1960/61, mas o primeiro cromo nas águias data só de 1961/62. Um dos seis que constam no livro.

«É difícil às vezes conseguir encontrar. Agora que só há uma caderneta por ano, é fácil. Se não está numa, temos de ver na do ano seguinte. Mas quando existem sete a oito cadernetas por ano, precisamos de vê-las todas, ter a certeza que não está em nenhuma para procurar no ano seguinte. As cadernetas mais antigas - não como agora que normalmente têm à volta de 16, 18, 20 jogadores - tinham 11. Eram os 11 mais utilizados. Quero colocar sempre o primeiro cromo que existiu daquele jogador no clube e tenho de fazer uma pesquisa extensa para ter a certeza de que encontro o primeiro cromo dele. Dá muito trabalho», atesta.

Numa obra que, diz, «é bem mais do que um livro de cromos», para «mostrar os 120 anos do Benfica e dos seus jogadores», Hugo explica que a ideia era ter no mínimo 120 jogadores. Mas acabou a perceber que era «difícil deixar de fora alguns».

«Num clube como o Benfica, com 120 anos, já passaram muitos jogadores relevantes, com história. Alguns mais pelo que trouxeram ao clube ou por serem jogadores que naquela altura foram nomes sonantes, outros porque os adeptos sempre recordaram com carinho, outros porque ganharam imensos títulos. Fiz uma base de dados em que contemplei várias coisas para me dar uma lista dos que mais deram ao clube em títulos, jogadores internacionais pelos seus países mais vezes, o número de golos, o número de jogos. Tudo foi tido em consideração e juntou-se esta lista de 155, os que se achou que seriam os mais importantes», justifica.

«Ases da Luz» vai do mais antigo cromo ao mais recente. Vai de Cosme Damião a João Neves. Do fundador a uma das atuais figuras do plantel. «O mais antigo de todos é o Cosme Damião, mas tem uma particularidade. Na altura em que ele jogou e em que tudo isto começou, não existiam cromos. Portanto, não existem cromos da altura em que o Cosme Damião jogou. Os cromos são mais recentes, são já reproduções de fotografias antigas que saíram em cadernetas mais recentes. Os mais recentes são o António Silva e o João Neves», conta.

Depois do Benfica, Hugo revela que há já outra ideia na mira. Entre cromos e história do futebol português. «Existe essa ideia e penso que vai ser concretizada, de fazer o que foi feito no livro do Benfica, também para Sporting e FC Porto.»