Em janeiro de 1998 o Alverca lutava por uma inédita subida à Liga, o que viria a conseguir no final da temporada: ficou em terceiro lugar, atrás de União Leiria e Beira Mar.

Mais do que isso, porém, a equipa ribatejana dava nas vistas por ser uma espécie de satélite do Benfica. Luís Filipe Vieira era o presidente e montara uma sucursal do clube encarnado.

Mário Wilson era o treinador, Raul José, Pietra e António Veloso estavam como adjuntos, Maniche, Hugo Leal, Deco, Veríssimo, Bruno Basto, Sousa, Veiga, Cajú, Ramires e Anderson Luís brilhavam dentro de campo.

Todos ainda jovens, magrinhos e com uma barba frágil. Uns meninos, mas cheios de sonhos.

A TVI foi a Alverca conhecê-los melhor e percebeu que havia muita insatisfação dentro do plantel. No fundo todos sentiam que podiam estar a jogar no Estádio da Luz.

Vale a pena lembrar que o Benfica era orientado por Graeme Souness. Foi uma temporada em que o clube começou com jogadores como Jorge Soares, Scott Minto, El-Hadrioui, Leônidas, Luís Carlos, Gaston Taument ou Brian Deane e acabou por ter três treinadores. Ficou a nove pontos do FC Porto e foi afastado da Taça UEFA na primeira eliminatória pelo Bastia.

Ora perante isto, os miúdos do Alverca não escondiam a desilusão.

«Somos dos melhores a nível das camadas jovens das seleções e quando chegámos a seniores muitos jogadores desaparecem porque não existe a aposta nos jovens», dizia Hugo Leal.

«É um bocado mau olhar para o que se passa no futebol. É muito complicado para nós ver os clubes contratarem estrangeiros de qualidade inferior. Sentimo-nos inferiorizados.»

Maniche assinava por baixo.

«Se vamos à seleção é porque temos valor, mas depois chegamos aos clubes e não apostam em nós, nem nos dão uma oportunidade.»

A frustração era evidente e era normal: qual de nós não ficaria desiludido ao perceber que Leônidas fez mais jogos em seis meses na equipa do Benfica, entre uma aventura no Torpedo e outra no Arsenal Tula, do que nós em toda uma carreira?

Afinal de contas, e como o futuro veio a mostrar, alguns daqueles jovens tinham de facto muito valor. Hugo Leal, por exemplo, brilhou no At. Madrid e no PSG. Bruno Basto chegou a jogar no Bordéus e no Feyenoord. Deco e Maniche até ganharam uma Liga dos Campeões... no FC Porto.

Já Leônidas passou pelo Levski Sofia, pelo Novo Horizontino e acabou no Santa Marta de Penaguião.

«Máquina do tempo» é uma rubrica do Maisfutebol que viaja ao passado, através do arquivo da TVI, para recuperar histórias curiosas ou marcantes dos últimos 30 anos do futebol português.