O treinador do Benfica não tem dúvidas. No domingo, em Guimarães, viveu um dos maiores dramas da sua carreira desportiva. É o que se pode reter da entrevista de Camacho ao diário espanhol «Marca», publicada esta terça-feira e cujo tema-forte é a morte de Miklos Fehér. Não podia deixar de ser. Também os vizinhos ibéricos não passaram ao lado do terrível desaparecimento do internacional húngaro. «Quando vês uma tragédia como esta pela televisão, por exemplo, como foi a de Foé, pensas no quanto terrível ela é. Agora quando a sentes na carne, é incrível. É duríssimo. O mais duro que me aconteceu no futebol», sublinha o técnico ao jornal do seu país.

Quando o drama aconteceu em pleno relvado, Camacho não conteve as lágrimas e chorou como uma criança. O que se passou na cabeça dele? «Pensei no que lhe disse minutos antes [o jogador entrou a 15 minutos do final do jogo com o V. Guimarães], que não podíamos fazer nada por ele, chorei de raiva e de impotência. Estava muito magoado. Vês que ele está ali no chão e não podes fazer nada, que o ajude...» As palavras do técnico dizem tudo aquilo que sentiu num dos momentos mais difíceis da sua carreira: «Estas coisas marcam. Quando estas tragédias que só vês na televisão te tocam, apercebeste de muitas coisas».

Apesar de várias correntes darem a entender que a ambulância, por exemplo, não foi célere na hora de entrar no relvado para prestar auxílio a Fehér, o treinador do Benfica deixou bem claro, em entrevista à Marca, que não houve qualquer tipo de negligência médica. «Se era preciso fazer algo mais, isso foi feito. Não lhe faltou nada. Acho que todos actuaram bem e o mais rápido possível. Se não o puderam salvar, é porque não havia remédio. Sei que tem havido polémica, mas creio que não faz qualquer sentido». Mas Camacho deixou uma crítica ao quarto árbitro que não o deixou entrar no terreno de jogo quando os médicos davam os primeiros socorros ao jogador húngaro. «Não entendo a sua atitude. Era uma coisa tão grave».

A revolta para com o quarto árbitro

A par do treinador do Benfica, também o adjunto Pepe Carcelén passou momentos complicados quando o avançado caiu no relvado. «O quarto árbitro e o juiz de linha tiveram um comportamento estúpido ao não nos deixar entrar em campo. Foi a pior coisa que me aconteceu no futebol, a mais terrível. Espero que não se repita nunca mais», desejou. Mas Camacho foi ainda mais além. Voltou atrás no tempo e expressou tudo o que sentiu naquela hora de agonia: «Quando Fehér estava deitado no chão, pensei que cada segundo que passava era um mundo. Se passasse mais tempo, ele ficaria ali. Chorava de raiva e de impotência. É uma sensação inimaginável».

Mas a imagem de dor não se resume só a estas palavras. Há outras bem mais dolorosas: «Aconteceram-me muitas coisas no futebol, umas boas e outras más, mas esta é a mais dura e que faz muitíssima diferença».