Telmo Batista, psicoterapeuta com vasta experiência na questão do luto, fala ao Maisfutebol sobre as consequências que a morte de Miklos Fehér terá no plantel do Benfica: «Uma morte é algo que geralmente união. Há toda a vivência que é chocante e intensa, e a perda de alguém significativo num grupo que está sempre junto é uma perda intensa e quando se dá significado, e é importante dar significado à vida e à morte, serve como um factor de união. Porque mais que não seja porque nos põe face a uma coisa que é a nossa vulnerabilidade face à morte. Não é uma coisa que gostemos de pensar muito. Não só pelo sentido de fragilidade mas pelo sentido que tem ser uma equipa terá muito mais coesão.»

Telmo Batista prefere não se alongar em divagações sobre a opção que o Benfica deve tomar para ajudar os companheiros de equipa a superar a perda do amigo Miki. Este professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação deixa claro que as pessoas do Benfica saberão se será melhor optar por resguardar o plantel num longo estágio ou decidir não alterar o dia-a-dia da equipa: «Ajudaria ter algum descanso e recato. Não conheço o que se está a passar na equipa mas ali temos outros factores pois há pessoas que não são portuguesas e têm expressões culturais de vivências diferentes e aí não lhe sei dizer se o melhor é fechar toda a gente num hotel. Só pode ser avaliada por quem está a lidar com a situação. As expressões do luto são diferentes de cultura para cultura.»

Telmo Batista reforça que cada jogador irá reagir e aceitar a morte de Fehér à sua maneira e uns levarão mais tempo a superar que outros: «Estas coisas são impossíveis de esquecer. Apesar de ser um grupo tem de se respeitar os processos individuais. Muitas pessoas gostam de falar e expressar as suas emoções para o exterior, outros preferem fazê-lo interiormente e tem que se dar espaço a que o possa fazer com muito recato que é fundamental neste momento.»

«Não havendo causa para a morte há um processo de persistência da procura»

A autópsia de Miklos Fehér foi inconclusiva e por isso ainda não se sabe o que todos os jogadores do Benfica tanto desejam: Qual a causa da morte de Fehér? Telmo Batista considera que esta ausência de explicação irá ser negativa para todos: «As pessoas querem dar sentido às coisas e para isso querem explicações. Quando têm explicações ajuda mas mesmo assim não chega. Há coisas que são inexplicáveis e o ser humano gosta de dar sentido às coisas e o inexplicável pode levar a uma procura de explicações. O facto de não se conseguir encontrar uma causa para a morte pode levar a um processo de persistência da procura de um significado para a causa. O ser humano procura causas para tudo e está pouco preparado para lidar com as coisas quando não há uma causa.»

Telmo Batista sublinha no entanto que o fundamental é os jogadores encarem que mais importante que a causa é aceitar a morte do amigo Miki: «O luto tem várias fases e uma delas é este primeiro momento que é muito marcante. Depois as pessoas têm que lidar com o acto emocional da perda. A certa altura deixa de ser tão importante a causa e o lado importante é que se perdeu e que ligações é que se mantém com o sentido que se dá e há coisas que ficam naturalmente por esclarecer. O ser humano não tem ainda a possibilidade de esclarecer tudo e temos que lidar ainda com algum grau de incerteza. É claro que mais facilitador quando se sabe porquê, pois temos a ideia que temos de controlar o Mundo. A primeira reacção das pessoas à morte é não querer acreditar e muitas vezes procurar causas várias. Há muitas pessoas que recusam de imediato, e no fundo para se protegem um pouco, do impacto da coisa, procurando a causa. Esse processo desaparecerá no seu devido tempo.»

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