O Benfica reagiu à derrota frente ao Sporting com uma goleada em Aveiro, na visita ao Tondela (0-4). Mais uma vez, Rui Vitória demonstrou a sua predisposição para lançar jovens sem experiência na Liga: Clésio e Renato Sanches.

A exemplo do que fizera em Guimarães, onde recorria com frequência à equipa B, o sucessor de Jorge Jesus assume o risco de estrear jogadores oriundos da formação secundária na competição mais importante do calendário português.

O bicampeão nacional chega à 9ª jornada com oito jogos disputados (face ao adiamento do jogo com o União da Madeira) e espaço para a utilização de quatro jovens que não tinham minutos na Liga.

Clésio, titular em Aveiro, e Renato Sanches, suplente utilizado, juntaram-se dessa forma a Nélson Semedo e Nuno Santos.

O Maisfutebol definiu como critério a referência a jogadores que fizeram a sua estreia na Liga após no mínimo duas temporadas nos diversos escalões do Benfica, incluindo a equipa B.

Victor Andrade, embora tenha chegado na época passada para a formação secundária, era um talento com experiência ao mais alto nível no Brasil e representou um investimento avultado, a rondar os 4 milhões de euros.

O critério escolhido permite enquadrar outros jovens que, embora pareçam num olhar superficial produtos do clube, entraram no Benfica já com idade sénior.

Nélson Semedo, a grande revelação da presente época, assinou pelos encarnados em 2012, com 18 anos, trocando o Sintrense pelo clube da Luz. Existe porém mérito da estrutura de formação, com a deteção do talento, seguido de um empréstimo ao Fátima e duas épocas na equipa B antes de ser potenciado por Rui Vitória.

Clésio chegou na mesma altura ao Benfica, vindo do Ferroviário de Maputo, igualmente com 18 anos. Teve como primeiro destino a equipa de juniores, tal como Nuno Santos, que assinou em 2013, depois de uma época no Rio Ave e a formação no FC Porto.

Renato Santos, Gonçalo Guedes (conquistou a titularidade esta época) e João Teixeira (ainda por estrear na Liga) são os produtos com clara definição Made in Seixal.

João Teixeira foi o primeiro a chegar, em 2005, com apenas 11 anos. Logo depois surgiu Gonçalo Guedes, com 10 anos. Renato Sanches tinha igualmente 11 anos quando rumou ao Benfica, já em 2008.



Quatro estreantes em oito jogos na Liga

Contas feitas, tendo como base apenas os jogos da Liga – para deixar de lado a Taça de Portugal e a Taça da Liga, onde é habitual serem utilizados jovens em eliminatórias precoces -, o antigo treinador do Vitória de Guimarães já deu mais minutos aos jogadores provenientes da formação secundária que Jorge Jesus nas épocas em que esteve no clube.

Após oito jogos no campeonato, os quatro jovens oriundos da equipa B jogaram 637 minutos. O anterior máximo eram somente 392 minutos, em todo campeonato de 2013/14, quando Jesus lançou quatro nomes: Ivan Cavaleiro, João Cancelo, Victor Lindelof e Bernardo Silva.

Nessa temporada, em que o Benfica conquistou o primeiro de dois títulos da Liga consecutivos, foi notória a preocupação dos responsáveis encarnados em potenciar valores da formação. Para além do quarteto que jogou no campeonato, nota ainda para Hélder Costa, que fez um jogo na Taça da Liga.

Jan Oblak conquistou a baliza mas não entra nesta análise porque vinha de três épocas a atuar no escalão principal em Portugal (Olhanense, União de Leiria e Rio Ave), por empréstimo do clube encarnado. Pelo mesmo critério, foram excluídos em 2011/12 os nomes de André Almeida (chegou ao Benfica como sénior, depois de jogar na Liga pelo Belenenses) e Nélson Oliveira (experiência na Liga em cedências a Rio Ave e Paços de Ferreira).



O patamar que surgiu em 2012 com a equipa B

Jorge Jesus tem a seu favor um dado incontornável: a equipa B do Benfica regressou apenas em 2012, ao passo que o treinador chegou ao clube em 2009. Na primeira época, lançou Roderick num jogo da Liga Europa e outro da Taça de Portugal. O central fez a estreia no campeonato em 2010/11, alinhando em cinco jogos, para um total de 379 minutos.

Na época seguinte houve uma tentativa de rentabilização dos jovens do clube mas Luís Martins foi o único a jogar pela primeira vez na Liga depois de crescer no Benfica. David Simão atuou apenas na Taça de Portugal.

Com a reativação da equipa B, surgiu num patamar de transição para os talentos formados no Seixal. Na temporada de estreia, André Gomes foi o nome lançado por Jorge Jesus, atuando em 7 jogos da Liga 2012/13. O médio tinha chegado ao Benfica um ano antes.

A evolução competitiva com o surgimento da formação secundária permitiu uma aposta mais efetiva na época seguinte. Surgiram Ivan Cavaleiro, João Cancelo, Bernardo Silva e Victor Lindelof, para além de Hélder Costa, que jogou apenas na Taça da Liga. Destes, Cavaleiro foi o único a fazer mais de um encontro no campeonato. Fez oito, aliás.

Na temporada passada, esse processo de transição não foi tão efetivo. Gonçalo Guedes esteve em cinco jogos na Liga mas apenas por 37 minutos. João Teixeira foi suplente utilizado na Champions (ainda não se estreou no campeonato) e Rui Fonte atuou somente na Taça da Liga.



O cenário terá estado na origem da declaração de intenções de Luís Filipe Vieira, em dezembro de 2014, garantindo a presença de jovens no plantel 2015/16. Entretanto, Jorge Jesus não acordou a renovação, saiu para o Sporting e Rui Vitória surge como intérprete desse novo guião do Benfica.

Na sexta-feira, no Relatório & Contas, o presidente dos encarnados voltou a recordar o caminho a seguir.

«Nunca foi fácil mudar mentalidades, mas a verdade é que o tempo é sempre o nosso melhor aliado e o juiz das nossas opções. Nélson Semedo e Gonçalo Guedes são apenas os primeiros jovens a mostrar que a nossa aposta tinha razão de ser, que o talento existe nas nossas camadas de formação, mas que é necessário dar-lhes oportunidades e mostrar-lhes que as portas da equipa principal também estão abertas para eles. Mostrar-lhes que a juventude e a ‘marca Seixal’ não devem ser, nem nunca deviam ter sido, obstáculos na sua progressão.»

Jogadores vindos da equipa B que se estreiam na Liga:

2015/16 com Rui Vitória, à 9ª jornada: 4 jogadores
Nélson Semedo: 6 jogos (540 minutos)
Clésio: 1 jogo (64 minutos)
Nuno Santos: 1 jogo (18 minutos)
Renato Sanches: 1 jogo (15 minutos)
TOTAL: 639 minutos na Liga

2014/15 com Jorge Jesus: 1 jogador
Gonçalo Guedes: 5 jogos (37 minutos)
TOTAL: 37 minutos na Liga

2013/14 com Jorge Jesus: 4 jogadores
Ivan Cavaleiro: 8 jogos (294 minutos)
João Cancelo: 1 jogo (62 minutos)
Victor Lindelof: 1 jogo (28 minutos)
Bernardo Silva: 1 jogo (8 minutos)
TOTAL: 392 minutos na Liga

2012/13 com Jorge Jesus: 1 jogador
André Gomes: 7 jogos (363 minutos)
TOTAL: 363 minutos na Liga

2011/12 com Jorge Jesus: 1 jogador
Luís Martins: 4 jogos (182 minutos)
TOTAL: 182 minutos na Liga

2010/11 com Jorge Jesus: 1 jogador
Roderick: 5 jogos (379 minutos)
TOTAL: 379 minutos na Liga

2009/10 com Jorge Jesus: 0 jogadores