Bruno Lage fez um apelo à reflexão sobre o calendário do futebol português na antevisão de um dérbi que está marcado para uma sexta-feira à noite, poucos dias depois de ter defrontado o Rio Ave num jogo que começou às 21h15. Nesse sentido, o treinador do Benfica deu como exemplo o futebol inglês que, segundo defende, respeita mais os adeptos que gostam de futebol.

«Andamos sempre a correr um lado para o outro e temos pouco tempo para pensar certas coisas que acontecem no nosso futebol e porque é que acontecem. Continuamos a fazer as coisas só porque sim», começou por dizer o treinador antes de avançar com um exemplo que registou em Inglaterra quando foi adjunto de Carlos Carvalhal no Swansea.

«Em Inglaterra estava a fazer o aquecimento, íamos jogar num sábado, às três da tarde, e vinte minutos antes do início do jogo chega-nos o quarto árbitro e os delegados do jogo a dizer que o jogo vai atrasar em meia-hora. Achámos estranho, procuramos saber as razões. A razão era que tinha havido um acidente na autoestrada e íamos ter de aguardar pelos adeptos. O que é afinal o jogo? O jogo vive da paixão pelos adeptos. Temos de respeitar os adeptos, temos de respeitar quem viaja para ver o jogo e que depois faz uma viagem de regresso», contou.

«O Bruno Fernandes e o Pizzi se tiverem de chamar nomes um ao outro chamam»

Daí passou para o jogo com o Rio Ave, o tal que começou às 21h15 na passada terça-feira. «Vejam o exemplo do Rio Ave que veio aqui jogar às 21h15 da noite. A que horas é que o Rio Ave voltou a Vila do Conde? Teve de ficar num hotel? Como é recuperou?», referiu.

Embalado, o treinador avançou com mais um exemplo. «Penso que somos o único país onde é obrigatório o uso da braçadeira de treinador no banco. No ano passado fui operado ao tendão de Aquiles e andava de muletas. Num jogo, atrapalhei-me com a muleta e tirei a braçadeira, meti-a no bolso. O quatro árbitro reparou e fui multado em 500 euros. Em Portugal, toda a gente conhece os treinadores da Liga, e até os da II Liga. Porque tenho de estar identificado no banco? São questões que fazemos porque sim e não refletimos», acrescentou.

Resumindo, o treinador defende que o calendário tem de ter em conta a disponibilidade dos adeptos. «É preciso dar cada vez mais importância ao que se vive dentro do campo, com o que vem da bancada, e dar aos adeptos condições para assistirem aos jogos a uma hora decente. Este jogo e o FC Porto-SC Braga mereciam ser jogados ao fim de semana e à tarde. Vivia-se um sábado de futebol como antigamente», destacou ainda.