Rui Vitória para os adeptos de futebol em geral, «pé de chumbo» para as pessoas de Alverca. Pelo menos as mais velhas, aquelas que ainda se lembram do novo treinador do Benfica em criança, quando começou a jogar federado.

Nascido em Alverca no ano de 1970, Rui Vitória cedo se habituou a acompanhar o clube da terra, pela mão do pai. Aos nove anos entrou para a equipa de escolas, e foi aí que começou a surgir a alcunha do «pé de chumbo».

«Era um jogador de primeira. Mas não era de primeira divisão, era de primeiro toque! Bola vinha...bola ia. Mesmo hoje as pessoas mais velhas de Alverca ainda identificam-no melhor por “pé de chumbo” do que se perguntarmos pelo Rui», revela ao Maisfutebol Paulo Xavier, amigo de longa data do novo treinador do Benfica, e seu colega de equipa nessa altura.

Rui Vitória: o «princípio do sonho», com dedicatória óbvia

Rui Vitória «começou por ser central e depois foi avançando, ao contrário do que é habitual, que é ir recuando», acrescenta. Apesar da simplicidade de processos na fase inicial da carreira de jogador, a verdade é que o «pé de chumbo» tornou-se um médio com apreciável qualidade técnica.

«Era um pensador de jogo. Uma espécie de «10», embora mais recuado. Um construtor de jogo, e não um finalizador. Um pouco à imagem de Rui Costa, no devido contexto», recorda Xavier, que mais tarde viria a ser treinado pelo amigo.

Isto no Vilafranquense, o clube onde Rui Vitória passou a maior parte da carreira sénior. Vestiu anda as camisolas do (Sport Lisboa e) Fanhões, Seixal, Casa Pia e Alcochetense, onde pendurou as chuteiras, em 2003.

«No último ano de jogador até acaba a época a marcar um golo de cabeça. Já não me lembro se foi anulado ou não, mas de qualquer forma sei que foi uma festa tremenda. Era impensável», recorda Xavier, entre sorrisos.

O antigo guarda-redes revela que o amigo «era um jogador mais encolhido no jogo aéreo e nos duelos individuais». «Gostava de ter o seu espaço (risos)», brinca.

Os «quilinhos» a mais e o talento na bateria

Uma semana depois de ter pendurado as chuteiras, em Alcochete, Rui Vitória recebeu dois convites para tornar-se treinador. Um era do emblema da margem sul do Tejo, de resto, mas a opção foi regressar ao concelho de residência, e a um clube que melhor conhecia, o Vilafranquense.

Catorze anos depois, Rui Vitória chega ao cargo de treinador principal do Benfica. Com poucos cabelos brancos, mas com alguns quilos a mais.

«Sempre foi uma característica dele. Nos escolinhas há sempre aquele jogador com uma camisola que mal lhe serve. Era ele!», recorda Xavier.

Duarte Machado, jogador de Rui Vitória no Fátima, confirma que o técnico gosta de um bom convívio com os amigos à mesa, mas também diz este «sempre teve tendência para ganhar uns quilinhos e não é preciso comer muito».

«Às vezes falo com o Prof. Arnaldo [adjunto de Rui Vitória] e digo-lhe para meter um travão para o mister não tornar-se um balão», brinca o lateral direito, agora no Olhanense.

A vida profissional ocupa muito tempo a Rui Vitória, mas o técnico procura ao máximo reservar as horas livres para estar em tranquilidade com a família. E sempre que possível aperfeiçoa o talento para a bateria.

«O irmão dele costuma dizer, a brincar, que quando ele for despedido tem sempre a possibilidade de ganhar dinheiro a tocar bateria. Penso que em Guimarães chegou a proporcionar-se uma atuação com o Neno a cantar e ele a tocar bateria, com mais algumas pessoas a tocar também. Pode fazer sucesso como baterista», garante Xavier.

Manter o contacto com os amigos é que nem sempre é fácil, neste contexto profissional intenso, mas as ligações mais fortes resistem a isso.

«Às vezes passam meses sem falarmos, mas quando nos reencontramos isso não se nota. Parece que estivemos sempre em contacto», diz Xavier.

Depois de vários anos a trabalhar a mais de 300 quilómetros de casa, Rui Vitória estará agora mais próximo, mas pela frente terá também o desafio mais exigente da carreira até aqui. É ele o novo treinador do bicampeão nacional.