José Fonte deu uma entrevista à revista do Sindicato de Jogadores, na qual revisitou a carreira e partilhou alguns momentos curiosos.
 
Uma das quais, por exemplo, diz respeito à forma como assinou pelo Benfica, quando estava praticamente certo no Standard Liège.
 
«Não foi preciso muito, para ser sincero. É verdade, estava com o Michel Preud’Homme e com o Luciano D’Onofrio, com o contrato à frente, e recebi a chamada do presidente Luís Filipe Vieira. Perguntou-me: ‘o que é que andas aí a fazer?’, respondi que ia assinar, tinha o contrato à frente e não tinha hipótese de sair dali», contou.
 
«E ele disse: ‘vais fazer o seguinte, pede 24 horas.’ Foi o que fiz. Disse que pre­cisava de pensar melhor e apanhei o primeiro avião para Lisboa. Foi uma situação engraçada, de algum stress, mas o facto de as­sinar pelo Benfica tem grande peso em qualquer jogador.»
 
A assinatura de contrato com o Benfica aconteceu em dezembro, depois de José Fonte ter rescindido contrato com o V. Setúbal por salários em atraso. Nessa altura, confessa, passou por dificuldades devido à falta de dinheiro.
 
«Foi difícil. Infelizmente é uma situação muito recorrente em Por­tugal e é óbvio que é difícil. Nem todos os jogadores têm contra­tos milionários e na altura foi extremamente difícil», começou por dizer .
 
«Lembro-me que até foi o Benfica, quando me contratou em Dezembro, que me pagou os ordenados que tinha em atraso. Foram três ou qua­tro meses difíceis mas que, mais uma vez, serviram para apren­der outra lição e foi outra rampa para voos maiores.»

 
Antes disso, a carreira de José Fonte já parecia embruxada.
 
O jovem central foi formado no Sporting e representava a equipa B, que fechou portas. Seguiu para o Salgueiros, que fechou portas. Saltou para o Felgueiras, que fechou portas. Depois Setúbal, e os ordenados em atraso.
 
«Realmente tive ali um, dois anos complicados. Mas a nível futebolístico e pessoal as coi­sas correram-me muito bem. Se pensei em deixar o futebol? Não, isso nunca me passou pela cabeça. Sempre tive a força, a ambição, o querer e a confiança de que ia chegar longe e que nun­ca iria desistir.» 
 
Foi aliás por isso que o Benfica o contratou depois disso.
 
Chegou a fazer uma digressão e uma pré-temporada, mas não ficou na Luz, foi emprestado ao Estrela da Amadora, depois ia ser novamente emprestado e decidiu seguiu outro caminho: o Crystal Palace e o futebol inglês.
 
Curiosamente no primeiro ano foi Fernando Santos que prescindiu dele, como já tinha prescindido no Sporting. Fernando Santos que o foi buscar agora para a seleção nacional.
 
«Tenho noção de que há dez anos não era o jogador que sou hoje, portanto foram decisões que o míster tomou e que aceitei com normalidade, mas isso ainda me deu mais força para con­tinuar a trabalhar. Não foi possível continuar a minha ligação ao Sporting nem ao Benfica, mas não guardo mágoa. »
 
Em Inglaterra, no Southampton, José Fonte reencontrou Ronald Koeman, o primeiro treinador que teve no Benfica, e que fez dele agora capitão da equipa inglesa.
 
«Se falamos dos tempos que ele passou em Portugal? Ele fala sempre da grandeza do Benfica, de Cascais, da Quinta da Marinha, do tempo, da comida, do golfe... Adorou o tempo que passou em Portugal e ter treinado o Benfica.»
 
Antes disso, no Crystal Palace, José Fonte teve uma experiência rara: partilhar durante seis meses o balneário com o irmão Rui Fonte, que agora está no Sp. Braga.
 
«Foi engraçado, mas por vezes difícil. Temos uma relação muito forte e sempre que estávamos em campo eu estava mais preocupado com a exibição dele ou se ele sofresse uma entrada mais dura do que com o meu próprio jogo»
, sorri.
 
«Mas as coisas correram bem, ele fez muitos jogos e foi uma experiência positiva.»
 
Por fim, refira-se que a entrevista começa por perguntar a José Fonte por que é que o Sporting forma tantos extremos. O que proporcionou uma resposta bem humorada.
 
«Não sei se é coincidência ou se é por alguma coisa que metem na água, a verdade é que o Sporting tem dado muitos extremos de grande qualidade», referiu.
 
«Agradeço tudo o que o clube fez por mim, como é óbvio, apesar de não ter chegado à equipa principal, mas foi um orgulho ter passado pelo Sporting.»