Um encontro que já foi olhado, há muito tempo atrás, como uma entretida disputa pelo título honrado de quarto grande do futebol português, esvaziou-se completamente de emoção. Já ninguém grita pela distinção, à excepção da claque Fúria Azul por breves minutos, já nem os jogadores fazem por garantir dentro do relvado o mérito do título.
Boavista e Belenenses parecem conformados nas suas pequenas lutas. O primeiro por mais uns pontos que lhe permitam continuar a sonhar com uma competição europeia, o segundo por mais uns pozinhos que o afastem do pesadelo da despromoção. Pelo meio perdeu-se o sentimento de grandeza e a responsabilidade histórica das camisolas.
No final saiu feliz o Belenenses. Amealhou três pontos e ganhou fôlego para continuar a perseguir com satisfação o objectivo humilde da permanência. O Boavista, esse, continua em queda acentuada depois de um início de segunda volta fulgurante. Somou o terceiro jogo sem ganhar e o segundo seguido a perder, depois da derrota em Alvalade.
Sem sorte e sem João Pinto
Pior do que isso, fê-lo em casa e fê-lo com uma exibição esforçada mas esvaziada de talento. No que pode ser facilmente explicado pela ausência de João Pinto. Sem o avançado, a equipa de Carlos Brito perdeu a referência ofensiva e perdeu sobretudo a dinâmica que o número 12 costuma trazer ao jogo. Os remates de longe tornaram-se então o caminho mais fácil para a baliza de Marco Aurélio, perante a falta de talento para encontrar outras vias, mas quase sempre um caminho tortuoso. A prova disso esteve no facto de apenas por duas vezes o Boavista criar verdadeiras ocasiões de golo, ambas em finalizações dentro da área de Figueredo e Zé Manuel mal direccionadas.
Pelo meio ainda falhou uma grande penalidade, num remate completamente desastrado de Zé Manuel. Sim, que não foi só pela falta de João Pinto que este mau resultado se explica. Houve também azar. O penalty será o momento mais óbvio, mas não é o único. O segundo golo do Belenenses, por exemplo, também trouxe muito de infortunado para o Boavista. William repôs uma bola em jogo contra um defesa da própria equipa que assim isolou Meyong para um golo fácil. Antes disso já Zé Pedro tinha arrancado um remate imparável que abrira o marcador. Num gesto imparável. O Belenenses conseguia assim, em dois momentos esporádicos, uma vitória que acaba por ser penalizadora para o Boavista.