Duas palavras ajudam a explicar este nulo: Peter Jehle. O guarda-redes do Boavista pareceu nascer destinado a ser herói nas grandes noites. Quem viu os jogos no Bessa do F.C. Porto e do Sporting sabe do que se fala. A partir daqui não é preciso dizer mais nada. Embora seja irresistível usar mais um adjectivo (só mais um): fantástico.
O futebol viveu muito de explosões individuais, aliás. Foi bom, é verdade que sim, acelerou o ritmo cardíaco e prendeu até ao fim, mas alimentou-se de rasgos. De Peter Jehle, mas também de Rodriguez, Di Maria, Léo, Nelson, Rui Costa, Mateus ou Zé Kalanga. Jorge Ribeiro, esse, fez a pior exibição do ano. O que condicionou.
Voltando atrás, ao primeiro parágrafo, Peter Jehle. Quando o nome de um guarda-redes ajuda a explicar um jogo, fica logo dita muita coisa. O Benfica foi melhor, teve maior iniciativa, criou mais jogadas de perigo, teve mais oportunidades de golo, fez por merecer mais a vitória. Faltou-lhe apenas conseguir concretizar as ocasiões que teve.
Sobretudo na segunda parte, o domínio encarnado foi enorme. Já no primeiro tempo a equipa tinha estado por cima, mas sem ser tão evidente. Uma entrada muito forte no regresso dos balenários começou por estabelecer distâncias que a entrada de Di Maria concretizou. O que indica também a importância de Chalana nesta segunda parte.
O treinador percebeu o crescimento encarnado e aproveitou um amarelo a Maxi Pereira para colocar o jovem argentino. Desviou Rui Costa para a direita e deu um carácter mais ofensivo à equipa. A partir daí o Benfica começou a criar ocasiões de golo com uma cadência admirável. Peter Jehle, Moisés e a barra foram obstáculos intransponíveis.
Mais alma boavisteira, mais futebol encarnado
Mesmo depois de ter ficado reduzido a dez jogadores, por expulsão justa de Rissut, o Boavista mostrou (maus trocadilhos à parte) uma chama imensa. Uma alma enorme, à imagem do treinador Jaime Pacheco que nem esteve no banco. Agarrou-se com unhas e dentes a um registo impecável em casa e segurou até ao fim um nulo precioso.
Até porque antes da segunda parte demolidora do Benfica, os axadrezados não tinham deixado nada ao acaso. Mesmo sem tanta posse de bola, criaram a melhor ocasião de golo do jogo: uma grande penalidade desperdiçada por Jorge Ribeiro. Para além disso, em desvios de Zé Kalanga e num remate do mesmo Jorge Ribeiro quase marcavam.
O Benfica respondera com remates de Cristian Rodriguez, Rui Costa e Cardozo (duas vezes) que também criavam perigo. Notava-se aliás que de cada vez que a equipa acelerava pelas alas, criava qualquer coisa. Primeiro através dos laterais, na parte final mais pelos alas. Na segunda parte, aliás, essa tendência acentuou-se. Como tudo.
No final foi evidente o desencanto encarnado. O Benfica fez tudo para merecer outro resultado, para ultrapassar o V. Guimarães e para resgatar o segundo lugar isolado. Não o conseguiu e, pior ainda, perdeu dois pontos para o rival Sporting. Que está agora a apenas precisamente dois pontos. A luta pelo segundo lugar está ao rubro.