Foi um confronto fraquinho, sim, é verdade, mas bem vistas as coisas que levante a mão o primeiro que se atrevia a pedir mais de duas equipas moribundas, que mesmo em áureos tempos recentes raramente conseguiam proporcionar espectáculos empolgantes. O derby da Invicta tem dificuldades em acompanhar os anseios de um povo orgulhoso, e não é de hoje. O jogo desta noite foi apenas mais uma razão para a cidade tapar a cara.
Neste cartório o F.C. Porto recolhe mais culpas. Porque perdeu, claro, mas sobretudo porque trazia mais responsabilidades. Talvez pouca gente se recorde, tantos foram os acidentes, mas foi o Boavista que pela primeira vez venceu no estádio do Dragão. Mais: depois dessa derrota tornou-se um hábito os adversários vencerem naquele recinto. Ora o mínimo que se podia esperar era um pingo de orgulho e um acerto de contas.
Mas não, nada disso, os portistas voltaram a responder ao desafio com uma exibição sofrível, sem confiança, percorrida sobre um futebol de poucos rasgos individuais e nenhuma consistência colectiva. Uma ou outra insistência de Hélder Postiga lá ia mantendo a chama acesa, sem que a equipa fizesse por merecer mais do que aquilo. Mesmo depois de conquistado o domínio do jogo, o que aconteceu após vinte minutos iniciais em que o Boavista foi fracamente melhor, o F.C. Porto nunca conseguiu provar que a posse de bola o deixava mais perto do golo. Não evitou perdas de bola primárias, falhou passes sucessivos, não teve profundidade atacante, enfim.
O melhor período do jogo foi mesmo aqueles vinte minutos iniciais de futebol axadrezado, futebol mais físico do que técnico, é verdade, mas com qualquer coisa de objectivo que permitiu ao Boavista três ou quatro oportunidades de golo. A formação de Pacheco - que mostrou saber orientar bem a equipa a partir de um camarote - teve aliás melhores entradas no jogo. Na primeira e na segunda partes. Tanto que logo no reatamento chegou ao golo do triunfo. Numa jogada de bola parada, a única forma de se poder desbloquear o nulo inicial. A propósito, só um número: dois, as finalizações dentro da área em jogadas de bola corrida, uma de Cafú e uma de Postiga. Sintomático.
A falta de ideias que começou no banco
Ora em desvantagem no resultado esperava-se que José Couceiro fizesse alguma coisa para mexer com o jogo. Puro engano. Num exemplo claro de falta de ideias, falta de rasgo, falta de ambição sabe-se lá, o treinador tratou de substituir homem por homem. Quaresma por Seitaridis com o recuo de Bosingwa e Diego por Bomfim. Pelo meio foi obrigado a tirar Postiga, lesionado, para colocar Fabiano. Continuava tudo na mesma, apenas mudavam as caras. Um livre de Ivanildo e um remate de Costinha na fase do desespero foi por isso o que a equipa fez de melhor. A crise portista é grave, é profunda e é generalizada. O Boavista jogou com ela e jogou bem. Provavelmente obrigando o adversário a despedir-se esta noite do sonho do título.