Às vezes, só algumas vá, o melhor remédio para a falta de ideias para uma prosa épica é escrever o que quer que seja que nos bata à porta, na cabeça. É um pouco como aquelas histórias em que cada mente brilhante de um grupo acrescenta a sua frase e no fim tudo faz sentido. Ou não.

Preparem-se porque o que vai levantar em redemoinho desta mesa de sala-de-estar é mais ou menos o que cai com estrondo desses brainstormings chuvosos, que não raras vezes servem para passar o tempo quando falta a luz que nos liga ao resto do mundo. Por falar nisso, é cada vez mais raro. Ainda me lembro de amaldiçoar as bestas que me impediam de ver o jogo para o qual esperei horas a fio. Às vezes, voltava a tempo e não eram mais bestas.

Ou então, éramos mentes que davam as mãos intimamente, numa espécie de one night stand em aulas para espicaçar a criatividade. E todos achavam muita piada quando complicavam a vida do próximo.

Próximo!
Safa-te lá disto...

E vinha aí o giz, depois de triplas piruetas encarpadas, a cair sobre a mão de quem lhe dera vida.

A primeira pessoa, neste caso eu, vai ficar surpreendida com o fim que a última, que também serei eu – não está mais ninguém em casa… –, der a este texto. Sei o que vocês devem estar a pensar:

Lá está ele a aldrabar a coisa!

Talvez um pouco, mas garanto-vos que não tenho fio- condutor, punch line, ou sequer um título, que em tantos textos, meus e de muitos, é chapéu de tudo o resto.

Começo esta crónica – e vamos esperar que o seja mesmo – com um nome, o primeiro que me vem à cabeça, e aviso desde já que este ou qualquer outro que se lhe siga – juro que, depois desta vírgula, não sei ainda qual será – estará sempre influenciado pelo gosto e, obviamente, pela proximidade temporal. E também garanto que só irei atrás corrigir gralhas e ideias, nada mais que isso. Não me vou preocupar com esquecimentos, ou o politicamente correcto.

Estão prontos? Vi logo que não, mas não há como voltar atrás. 

1, 2, 3...  Haja fé!

Uma meia-Colômbia, sem o perfume intenso a expresso que espalhou há meses no Brasil. Um onze cafetero sem conseguir armar-se, com meio-Falcao, descrente, sem poder de fogo, e o garimpeiro-James, armado de peneira numa mão e caçadeira ao ombro, distante, e incapaz de transformar cada bola apanhada no rio em ouro.

Jackson a saltar para a cancha por cima do muro de descrença, sentindo-se o último dos últimos. No fim da fila, depois de Falcao, Bacca e Téo. Não é de hoje, Pekerman prefere os outros. Aposta numa dança diferente, mesmo que o Cha Cha Cha convide a sempre mais uma volta pela pista. A Colômbia candidata e sem desculpas, a sofrer um golo num lançamento lateral essa sentença de incompetência que cai com a força de guilhotina sobre as equipas...

Bruno Carvalho. Outra vez, mais uma vez. Ao seu jeito, a voltar a discursar para os que fazem círculos à sua volta. Outra vez à espera de gostos e de partilhas, de gritos de apoio que não teria com microfones afastados ao empurrão ainda em Odivelas. Mais desculpas em forma de crítica. Depois da arbitragem a arbitragem, de novo alvo das acusações pelo insucesso. Andebol. Hóquei. Futsal.

Claro que o Sporting esteve a vencer por 2-0 e deixou-se empatar. A mesma grande equipa que, em sete jogos, lutou, trabalhou, sofreu e foi digna, mas apenas ganhou uma vez ao rival. O maior erro esteve longe de ser o de arbitragem.

Falhou o andebol, mas na Luz festeja-se época brilhante nas modalidades a nível interno, complementando o bicampeonato e a Taça da Liga da praxe no futebol. Onde Jesus ainda ficou como fantasma, projecção que ganhará maior ou menor definição consoante o que for fazendo a algumas centenas de metros, do outro lado da rua, fazendo brilhar ainda mais o seu nome gravado nos dez troféus mais recentes do museu.

Chega Vitória depois do vitorioso. O Vitória dos consensos e das conciliações, o fim das roturas. O Rui tranquilo, seguro de si, que gosta de apreciar as coisas simples da vida e manter aquele olhar esfíngico perante o stress e o desafio hercúleo. Que pode não ter Maxi, mas terá miúdos, cinco, se forem bons.

Como Guzzo, talvez. Gonçalo Guedes quase de certeza. Se calhar, Nuno Santos. Parte de uma seleção tão talentosa, que desperdiçou o que não devia e desabou em definitivo com aquela Panenkada fora de tempo e que contraria a ideia de um excelente Mundial por quem meteu tão levianamente o pé à bola. E logo perante um Brasil cada vez mais incapaz de fugir às areias movediças que lhe estão a roubar o talento.

Neymar, o último dos moicanos. E não é só pelo cabelo. O último de uma raça em extinção, que se diverte a fazer cabritos aos rivais, mas continua a encontrar entre esses momentos pueris o resto de racionalidade necessário para golos e assistências decisivas. O herdeiro do trono que ficará vazio dentro de uns anos, se conseguir manter TUDO ISTO, com capitais e tudo.

Pára!

Raios, lembrei-me agora do Vítor Pereira, que ficava bem logo ali a seguir ao stress. Da louca Grécia para a efervescente Turquia. Do Olympiakos para o Fenerbahçe. Os adeptos em permanentes batalhas campais, e os autocarros a serem atingidos em todo o lado. E, de repente, salta-me ao caminho o português a festejar e a dirigir-se aos adeptos rivais, como fez em Atenas…

É melhor acabar com isto. Hora de levar ao forno, e arranjar um título. Antes que queime.

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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA»    é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias. Pode segui-lo no    FACEBOOK    e no    TWITTER   . O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico.
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