Há jogadores que querem tudo de uma vez, o bolo inteiro, e conseguem-no. Nada há de mal nisso, desde que, depois, não se esvaziem com o tempo.

Não pode, o futuro é todo dele.

Esta época, não há quem tenha crescido mais do que Bruno Fernandes.

A liderança, embora mais discreta, a qualidade e a potência de remate, mas mais dispersa. A criatividade, contudo mais camuflada. Estava há muito tudo ali. Nas seleções, o jeito do craque que comanda. Na braçadeira, no dorsal orgulhoso. Em Udine, a seguir por Génova, nos golos que cá chegavam. Primeiro, através do twitter. Depois, no cabo, nos resumos da jornada.

Um bombardeiro português, coisa rara. Um dez com ar de Matthäus, com ordem para chutar. Não só. Para defender, para correr, para suar, roubar a bola e atacar, até à exaustão, tal como o alemão. Já o escrevi antes, e estou cada vez mais convencido.

Por cá, soltou ainda mais o pé. Marcou mais golos de levantar o estádio, empurrou a equipa para a frente. Foi ele a voracidade do leão, partida após partida. Ele, Gelson e Dost, mas muito ele. De todos, ele.

Como se cresce tanto, em tanto pouco tempo? Como se cresce tantos anos em apenas um?

O tanto o que ele já era nunca foi nem metade disto.

Ainda mais agressivo. Ainda mais incisivo. Mais forte fisicamente. Mais presente perto da baliza. Os golos começaram a cair primeiro, depois as assistências. As roturas, os desequilíbrios, as oportunidades.

A influência aumentou com cada minuto. Cada jogo. Campeonato, taças, Liga dos Campeões, Liga Europa. Quando El Cholo Simeone disse o que disse ninguém se surpreendeu.

Não é só a maturidade, embora lhe possam entregar a braçadeira sem ficarem desiludidos. É ele quem assume, quem pega no jogo, quem distribui e gere os ritmos. É ele que procura os espaços, e reordena o território. É o dono disto tudo.

As perguntas, essas, continuam sem resposta.

A resposta mais simples está em Jesus, e não dizendo que não, custa-me acenar logo com o sim.

A resposta mais completa está nele. No trabalho que gera resultados, que gera confiança e reforça resultados. Depois, o treinador, que terá ficado convencido que a este pôs mesmo a jogar o dobro. Só que Bruno Fernandes acreditou primeiro que o conseguia fazer.

Que delícia aquele passe para Dost!

Será entre ti e Jonas, Bruno, e ninguém chegará perto. Falta-lhes influência ou classe, apesar da grandeza a que eles próprios chegaram. Sem serem grandiosos. Como vocês os dois.

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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de crónica, publicado na MFTOTAL. O autor usa grafia pré-acordo ortográfico.

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