Se De Bruyne, Sané e Agüero são os miúdos arrogantes que querem sempre ter a bola, Silva, Sterling e Gundogan apresentam-se como os seus amigos, melhores-amigos à vez, verdadeiros braços direitos que os seguem para todo o lado. Hell, yeah!

A correr junto à linha, para trás e para a frente e de braço no ar, Bernardo Silva é o puto que fica todo contente por, desta vez, o terem chamado para jogar. Junto ao passeio de uma rua qualquer, espera que um dos chefes do bando acredite que ele pode fazer a diferença, enquanto não passam os carros dos vizinhos. Bate as palmas, pede a bola. Vá lá, dude!

Juntos, os outros acreditam que é entre eles, que o círculo é fechado, que para pertencer à irmandade é preciso um ritual de iniciação, uma tatuagem ou uma loucura qualquer, que lhes prove, sem sombra de dúvida, do que é feito. Se a bola vai, mais cedo do que tarde volta, porque não basta estar lá para jogar, não basta colar-se a bola ao pé esquerdo como ao de poucos, não basta tudo parecer simples. Não basta cada toque ter uma centelha de classe.

Os que vêem, das janelas, acham que nunca conseguirá integrar-se, nunca terá ordens para desafiar três ou quatro de uma só vez, aos ésses, até ao golo. Os das varandas, mais velhos, esticados nas cadeiras de pano, alternam entre o sim e o não com a cabeça de cima a baixo, de lado a lado. A bola que vai e não vem, o puto a preencher os espaços, sem conseguir juntar-se. Um corpo ainda estranho.

Os de Manchester acham tanto para tão pouco, que 50 milhões não são para rapazes que ainda querem aprender, que ficam felizes com a bola nos pés, que tantas notas pagam mais do que a aura de fora-de-série. É o valor de tabela para super-heróis.

Falta a Bernardo deixar de ser o puto a quem só convidam de vez em quando, franzir o sobrolho, cerrar os dentes, apertar os punhos, desafiar a sua própria arrogância. Que parta de vez para a baliza e ponha, finalmente, em causa todas as regras da república Omega Phi Beta. Ou Sigma Alfa-coiso. 

Não decorei, só sei que tem três letras do alfabeto grego. Ajuda?

Um Messizinho. Ao Messizinho falta-lhe um pouco da personalidade de Léo, que já nada tem de fazer para ver a bola vir ter consigo. Ainda que a tenha de pedir, e provavelmente terá de fazê-lo durante muitos anos ainda, que fique com ela, sinta o seu peso, e a devolva à baliza. Assuma a sua quota no sucesso de um colosso.

O talento é maior do que a peça do puzzle onde querem que encaixe.

Guardiola sabe. Ele, Pep, sabe. Aquele futebol, o acariciado por aquela canhota, é o seu, o do toque e o do preenchimento dos espaços, o da inteligência e da velocidade de pensamento. E não é preciso que mais ninguém o perceba.

És maior do que pensas, Bernardo!

--

«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de crónica, publicado na MFTOTAL. O autor usa grafia pré-acordo ortográfico.

--