Para Bora Milutinovic, saltitar entre continentes, passar do Médio Oriente para a América Central e vir logo a seguir à Europa é a coisa mais normal do mundo. Estamos a falar do segundo treinador com mais presenças em Campeonatos do Mundo (cinco, apenas atrás de Carlos Alberto Parreira) e um verdadeiro globetrotter, um trota mundos apátrida.

Presente no VIII Congresso do Futebol Internacional na Maia, Bora Milutinovic concedeu uma entrevista ao Maisfutebol e aceitou recordar alguns dos episódios de uma carreira que começa na década de 70 e persiste, excêntrica e exuberante. «Atualmente sou coordenador da federação do Qatar e respondo perante o rei», esclarece ao nosso jornal, logo de entrada.

No Mundial-86, Bora conduziu o México aos quartos de final; no Itália-90, levou a frágil Costa Rica aos oitavos de final; quatro anos depois, orientou os Estados Unidos da América e repetiu o feito, tal como em 1998 à frente da seleção da Nigéria; apenas em 2002, ao serviço da China, não logrou passar a primeira fase.

Bora Milutinovic, 64 anos. «Espero voltar a ter a oportunidade de disputar um Mundial. Sinto-me bem, com saúde, passo a vida a viajar e estou perfeitamente atualizado. Cheguei dos EUA, fico três dias em Portugal e vou estar em mais seis países europeus», atira sem avisar.

De 1986 a 2002: cinco Mundiais

Comunicador nato, o homem nascido em Belgrado e mexicano por adoção fala cinco idiomas e é um contador de histórias por natureza.

«A minha melhor experiência num Mundial? Talvez no México, por ter sido a primeira vez. Realizámos 65 jogos amigáveis em dois anos, antes da fase final. Tinha Hugo Sanchez, Negrete, uma boa equipa. A minha esposa é mexicana e é lá que tenho a minha residência oficial», apresta-se a explicar.

O homem a quem chamaram «treinador-milagre» tem, porém, um «carinho muito especial» por outro episódio mundialista. «Levei a Costa Rica ao Mundial da Itália sem fazer qualquer jogo de preparação. A federação tinha comprado os bilhetes de regresso para o dia a seguir ao terceiro jogo. Disse-lhes que assim não ia. E tinha razão. Passámos um grupo com Escócia, Brasil e Suécia. Um milagre.»

Em 1994, Bora deu um novo fôlego ao estafado soccer. «Perdemos só contra o Brasil nos oitavos. Nem eu acreditei que estivéssemos tão bem. Enchemos estádios num país que não entendia o nosso futebol. Foi uma grande experiência e só lamento ter sido eliminado tão cedo.»

Só com a China os resultados desportivos não corresponderam aos anseios. «Foi com esse balneário que estabeleci a melhor relação. Eles só falavam chinês, eu só não falava chinês. Era um grupo de bons rapazes.»

Para o Euro-12, Bora indica três favoritos: «Espanha, Holanda e Alemanha. Portugal? Grande equipa, teve azar no grupo.»

«O meu irmão marcou quatro golos ao Sporting»

Num percurso com mais de 30 anos, Bora Milutinovic já passou por Argentina, Itália, Honduras, Jamaica, Arábia Saudita e Iraque. E de Portugal, nunca recebeu um convite? «Já fui abordado por dirigentes portugueses, sim, mas as condições nunca foram interessantes.»

«Estou a adorar o vosso país e a cidade do Porto. O F.C. Porto é conhecidíssimo em todo o mundo e é a primeira vez que cá estou. Só tinha estado em Lisboa», conta o simpático Bora.

O jornalista já se despedia, mas Bora Milutinovic lembrou-se de mais uma história. Uma que até contara minutos antes à plateia de estudantes do ISMAI. «Sabe que o meu irmão marcou quatro golos em dois jogos ao Sporting em 1955? Jogava no Partizan Belgrado. A minha família é a única a ter três internacionais pela Jugoslávia.»

Um encanto de homem.

Imagens de Bora Milutinovic: