A 25 de Novembro de 1996 a exigente plateia das Antas conheceu Bote Botende. E quase morreu de tanto rir. O guarda-redes nascido no antigo Zaire incendiou de gargalhadas e incredulidade uma noite que principiara fria. Muitos não se lembrarão da personagem. É normal. Botende esteve um ano apenas no Marítimo e foi titular só nesse jogo. O primeiro e último.

O F.C. Porto goleou por 4-1, Botende resolveu. Tudo corria mal aos dragões, depois de Edmilson ter dado vantagem aos madeirenses. Mário Jardel parecia desconcentrado, Drulovic tardava em cruzar como só ele sabia, Paulinho Santos e Zahovic exibiam-se desconexos. Nenhum deles percebia que a chave da reviravolta estava na baliza do Marítimo.

José Barroso, lúcido, foi o primeiro a tomar consciência de quão escorregadias eram as luvas do zairense. Dois livres directos, dois golos. «No primeiro fiz que ia rematar em força e, perto da bola, abrandei e fiz um remate picado sobre a barreira, em jeito. O Botende ficou surpreendido e não reagiu», conta ao Maisfutebol o antigo médio do F.C. Porto.

Vitor Pereira e Pedro Martins: o terço e a toalha de fé

A bola saiu leve, doce, quase ternurenta. Botende só tinha de aceitar a oferenda. Mas não. Escorregou subtilmente, atrapalhou-se, golo, risos nas bancadas. Na segunda parte, mais um instante de humor irresistível.

Barroso aponta à baliza, a bola sai forte e em direcção a Bote Botende. O rapaz assusta-se, treme, mete mal as mãos à bola. Golo! «Calhou ao Botende, como depois veio a calhar ao PreudHomme. Não foi só ele a cometer erros. Tinha chovido, a relva estava molhada e ele não conseguiu defender.»

Botende não mais voltou à baliza do Marítimo, a não ser numa partida no Bessa, depois do titular Bizarro ter sido expulso. «O Manuel José era o treinador e lançou-o logo no estádio do F.C. Porto. Enfim, queimou-o. Nós estávamos fortes e chegámos ao tricampeonato. O Zahovic marcou os outros dois golos, eu fiz uma assistência.»

Bote Botende chegara ao Funchal proveniente dos sul-africanos do Kaizer Chiefs. Fez dois jogos oficiais no Marítimo, deu nas vistas pelos equipamentos berrantes, foi dispensado e chegou a andar em testes no West Ham. Sem sucesso, naturalmente. Depois, tornou-se um fantasma.

No F.C. Porto-Marítimo de sábado, estarão Helton e Peçanha nas balizas. Menos comédia e mais futebol, seguramente. A única imagem disponível desse jogo de 1996 é de má qualidade. À semelhança do seu protagonista. Vale a pena, porém, dar uma espreitadela. Nem que seja para rir.