Já respirou, caro leitor? Acredito que sim, caso contrário não estaria aqui a ler-me: e saber que estamos aqui os dois é uma excelente notícia.

Mas enfim, acabou o campeonato, o fim de época já bate à porta, vamos inspirar fundo, encher o peito de ar e olhar em frente.

Para onde? Para a Taça das Confederações.

Vem aí mais uma grande competição e eu tenho este péssimo hábito de fazer perguntas. Neste caso questiono-me se será Portugal capaz de se encontrar. Será? Já lá vamos.

Antes de mais é preciso dizer que os portugueses têm um problema patológico para encontrar o que quer que seja: até, obviamente, eles próprios.

É doentio, neste país só se consegue encontrar alguém por um acaso muito feliz.

Uma pessoa chega a casa e pergunta ao miúdo onde é que está a mãe dele. Está lá em baixo, responde.

Lá em baixo na casa da vizinha? Ou lá em baixo na cave a arrumar a tralha? Se calhar está lá em baixo no jardim a dar milho aos pombos.

Pior ainda: está lá fora.

Mas quão lá fora? No estrangeiro? Na floresta da Amazónia?

Os portugueses são os mestres da imprecisão. Arrastam-se entre incertezas. Não conseguem ter correção, clareza ou retidão.

Pergunta-se a um amigo, por exemplo, se encontrou a praia da Maria Rita e ele responde que ah, e tal, que acabou por ficar numa praia pequenina no fim de um caminho de terra batida. E era boa? Sim, dentro do género não era má.

Dentro do género, portanto. Espero que esteja a falar do género feminino, caso contrário não era uma praia, era um aterro.

Mas em frente.

Um português pergunta onde fica a Rua do Ouro e outro responde-lhe que segue por esta avenida, vai encontrar uma rua à direita e segue em frente, pouco depois encontra outra rua à direita e segue em frente, quando encontrar outra rua à direita vira aí, depois tem logo uma esquerda, segue e é na próxima à esquerda.

Claro que podia dizer que é a terceira rua à direita e a segunda à esquerda, mas nesse caso não seria um português: era um alemão.

Para completar o ramalhete, o português que pediu a informação ainda agradece e acrescenta que não fazia a Rua do Ouro tão lá para dentro.

Pois não, mas por isso é que não foi ele a desenhar a Baixa. Foi o Marquês de Pombal.

A esta distância é mais fácil perceber como Pedro Álvares Cabral saiu para o mar à procura da Índia e encontrou o Brasil. Porque essa é a única forma dos portugueses encontrarem alguma coisa: por engano.

Dois amigos combinam sair e o que dizem? Que se encontram por aí. Onde? Num sítio qualquer. E encontram? Claro que não, mas encontram alguém de certeza.

Esta é no fundo a beleza de ser português: nunca saber muito bem o que esperar. O rigor não é propriamente a nossa característica mais evidente.

Por isso ninguém me tira da cabeça que o que aconteceu em França foi um acidente cósmico: Portugal encontrou-se por uma sucessão de acasos tão feliz como a que levou Pedro Álvares Cabral ao encontro do Brasil.

Não quero com isto passar uma mensagem de pessimismo ou duvidar da qualidade da seleção. Pelo contrário, acho que está ali um grupo de gente com muita qualidade.

Só tem um problema: são demasiado portugueses.

Ora os portugueses não são propriamente fortes no sentido de orientação. Pode por isso um grupo deles, por muito jeitosinho que seja, encontrar-se duas vezes seguidas?

Não sei, mas há uma coisa que tenho por segura: Fernando Santos passou onze anos na Grécia, onde um homem um dia correu 42 quilómetros sem se perder para entregar às mulheres gregas a notícia de que tinham vencido a guerra contra os persas.

Se há português que deve ter bom sentido de orientação é ele, portanto.

Mister, vá no Batalha com esta conversa. E não se perca.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, editor do Maisfutebol, que escreve aqui às sextas-feiras de quinze em quinze dias