Vinte e duas derrotas, apenas nove vitórias e seis empates. Só 31 golos marcados, 48 sofridos. O terceiro pior ataque, a quarta pior defesa do Brasileirão. E, claro, a equipa que mais perdeu no Brasileirão 2014.

É este o saldo que custou ao Botafogo a segunda descida na sua história, confirmada ainda antes da última jornada (será no próximo domingo, com o Atlético Mineiro, e não será fácil de digerir para jogadores, técnicos e adeptos do «Fogão»).

Longe, tão longe da sua época de ouro, há mais de 50 anos (entre as décadas de 50 e 60 do século passado), o Botafogo passa pelos dias mais tristes da sua história.  

Campeão brasileiro em 1968 e 1995, o conjunto carioca tem também nos seu palmarés 20 títulos estaduais cariocas e uma taça conmebol (além de vários outros triunfos a nível estadual e nacional).

Mesmo só tendo dois títulos de campeão, o Bota, há meio século, clube de topo no futebol brasileiro: é, até, o clube que mais jogadores cedeu ao escrete em campeonatos do Mundo e detém ainda o recorde de participações de jogadores em partidas da seleção brasileira (1094 no acumulado).

Aliás, no título mundial conquistado pelo Brasil em 1962, no Chile, a base do onze do escrete era do Botafogo: Nilton Santos, Mário Zagallo, Didi, Amarildo e Garrincha.

Além desses cinco campeões do Mundo de 1962, outros grandes jogadores da história brasileira, como Túlio Maravilha, Renato Gaúcho ou Mirandinha defenderam as cores do «Alvinegro» carioca.

Mais recentemente, foi também o caso de Clarence Seedorf, um dos melhores jogadores holandeses das últimas décadas, que terminou a sua carreira de futebolista no Botafogo, passando diretamente de jogador do Bota para treinador do AC Milan ( cargo que viria a desempenhar por apenas meio ano).

O ano todo em aflição

2014 foi mesmo um «annus horribilis» para o Botafogo.

Depois de terminar 2013 conseguindo vaga na Libertadores, a equipa carioca acusou, de forma mais aguda do que se imaginaria, a saída de Oswaldo de Oliveira. Eduardo Húngaro, antigo treinador do Sertanense, não foi feliz na promoção interna a treinador principal e viria a dar o seu lugar ao técnico Vagner Mancini.

Mas a aflição foi permanente, com as derrotas a somarem-se no Brasileirão, aliando-se ainda uma má campanha na Libertadores (queda inédita na fase de grupos, na quarta presença do clube na prova máxima da América do Sul). 

Todos estes problemas tiveram no passado domingo um desfecho infeliz, mas já relativamente previsível, para o Botafogo: a confirmação da descida, após derrota em Santos, por 2-0

Receando a reação furiosa dos adeptos, a equipa até optou por fintar os seus «simpatizantes»: a direção do Bota antecipou o regresso ao Rio de Janeiro, que estava previsto para a manhã de segunda-feira, de avião, passando a ser feita de autocarro. Assim, os jogadores chegaram à cidade carioca pelas cinco da manhã, sem o risco de «receção» violenta por parte dos adeptos, que pensavam que a comitiva perdedora chegaria de Santos horas depois... 

Só que a equipa viajou de madrugada, de autocarro, tendo chegado por volta das cinco da manhã.

Os momentos da confirmação da descida




Minutos depois da confirmação da descida, o Bota reagiu no seu twitter oficial, com uma mensagem de esperança e uma certa desculpabilização, no twitter: «Em 2015, vamos juntos, clube, torcida, diretoria, com o retorno do nosso estádio», aludindo assim ao «Engenhão», que não pôde ser utilizado por estar em obras.

«Infelizmente, o Botafogo jogará a Série B. Foram muitos problemas, erros e derrotas. O clube pede desculpas a essa torcida apaixonada. Em 2015, vamos juntos, clube, torcida, diretoria, com o retorno do nosso estádio. Vamos fazer essa estrela voltar a brilhar».

E agora, Bota?

Não foi só a descida à Série B: talvez ainda mais preocupante é mesmo a situação financeira do clube carioca.

Carlos Eduardo Pereira, novo presidente do Bota, assumiu esta segunda, no dia seguinte à confirmação da queda: «A situação é pior do que imaginava. A gente acreditava que, se tivesse mais alternativas na área trabalhista, encontraria um caminho mais pavimentado. Vamos ter que começar o Ato Trabalhista praticamente do zero, será um caminho bem longo para trilharmos. A situação do clube é muito complicada. É importante que o sócio e o torcedor tenham isso em mente.»

O referido «Ato Trabalhista» permitirá ao Botafogo ter acesso a um pagamento faseado das suas dívidas e evitaria a penhora de receitas e também a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal do Desporto.

A «outra» descida

O primeiro «rebaixamento» da história do Botafogo aconteceu em 2002, ano extremamente conturbado no clube carioca.

A «dança de treinadores» que o clube viveu nesse ano (Abel Braga, Zagalinho, Dé, Arthur Bernardes, de novo Abel Braga, Ivo Wortmann e Carlos Alberto Torres, tudo em 2002) diz bem da total instabilidade vivida.

Mesmo assim, a passagem do Bota na Série B durou apenas um ano.

Com Levir Culpi (que recentemente venceu a Copa do Brasil, ao comando do At. Mineiro) como treinador, o Botafogo foi segundo na Série B do Brasileirão 2003, só atrás do Palmeiras, voltando rapidamente ao convívio dos melhores.

BOTAFOGO NA SÉRIE B EM 2003



E agora, como será?