Quarenta golos no escrete com apenas 22 anos? Isso só podia mesmo ser… Neymar.

A «Joia» atingiu marca muito significativa, graças ao «poker» ao Japão: quatro golos que puxaram o craque do Barça para o «top5» dos melhores marcadores da história da seleção brasileira.

Neymar, com 40 tentos em 58 jogos, precisou apenas de quatro anos para atingir as quatro dezenas, marca impressionante e que o coloca bem lançado para ameaçar, algures nos próximos anos, o super recorde do «Rei Pelé»: 77 tentos pela canarinha.

Para já, Neymar ainda tem média inferior: 0,69 golos por jogo (40 em 58 partidas), enquanto o «Rei» somou uns incríveis 77 em 92 partidas oficiais reconhecidas pela FIFA (média de 0,83).

Acima de Neymar está ainda Romário, que fez média de 0.78 golos por jogo (55 em 70 partidas pelo escrete).

Mas a «Joia» já supera, por exemplo, Ronaldo «o Fenómeno» (média de 0,63 por jogo) e mesmo Zico (0.68 por partida). 



Pelé/Neymar idêntico a Eusébio/CR7


A manter esta média, Neymar, que se estreou no escrete em 2010,  poderá ultrapassar o «Rei» Pelé quando tiver 26 anos. Sim, apesar da média ser inferior aos 0,83 de Pelé, a manter uma presença em dez partidas da seleção por ano, Neymar atingirá daqui a quatro anos os 77 golos somados pelo «Rei».

Trata-se, por isso, de uma situação relativamente parecida com a dualidade Eusébio/Cristiano Ronaldo: CR7 passou o rei em número absoluto de golos, mas beneficiou também do facto de haver agora mais jogos do que havia no tempo de Pelé e Eusébio. 

Miguel Lourenço Pereira, especialista em futebol internacional e historiador do desporto-rei, observa à «Maisfutebol Total»: «O conceito de melhor goleador é dificil de explicar. seguramente que Pelé acabará por ser superado por Neymar por idade, por talento e porque hoje há um maior ritmo de jogos internacionais do que houve nos anos 50 e 60. O grosso dos golos de Pelé são de amigáveis e estaduais, não de jogos internacionais. Isso no entanto não significa que Neymar seja um melhor goleador do que Pelé (ou Romário ou Ronaldo) mas sim que é a referência ofensiva de um Brasil órfão de alternativas onde tudo passa por ele (Pelé jogou com Amarildo, Vavá e Jairzinho, Romário com Bebeto e Ronaldo com ambos e também Adriano e Rivaldo), pelo que os números não são tão anormais como podem parecer.»     

Um «poker» no escrete, 14 anos depois

Mas Neymar igualou algo que Romário obteve já lá vão 14 anos: um «poker», quatro golos no mesmo jogo do escrete.

Romário tinha alcançado tal feito em 2000, nos 0-6 do Brasil na Venezuela, em partida de qualificação para o Mundial-2002. Há quase década e meia que mais ninguém tinha conseguido voltar a marcar quatro tentos no mesmo jogo pela seleção brasileira. 

O «poker» de Romário à Venezuela:



O oitavo «poker» da história do escrete

Há 14 anos que não acontecia e só sucedeu por oito vezes em toda a história do escrete. Neymar foi o oitavo brasileiro a marcar quatro golos num só jogo pela «canarinha». 

Antes da «Joia», em 2014, e de Romário em 2000, só cinco o tinham atingido (Zico fê-lo duas vezes): Ademir, no Mundial-1950, nos 7-1 do Brasil à Suécia; Zico à Bolívia (8-0 em 1977) e à Irlanda (6-0 em 1981); Careca, à Venezuela, a 20 de agosto de 1989; Zizinho (o primeiro a fazê-lo, em 1946, nos 6-1 ao Chile, em 1946); Julinho, nos 8-1 à Bolívia, em 1953.
 
Acima disso, só mesmo o «penta» de Evaristo de Macedo: cinco golos nos 9-0 que o Brasil aplicou à Colômbia, no Sul-Americano de 1957. 

De «novo Pelé» a… «futuro Pelé»?

Pode Neymar atingir, um dia, o nível de Pelé? 

A revista norte-americana Time já dedicou uma capa ao tema: a 4 de março de 2013, punha a «Joia» em grande destaque, com a manchete: «The Next Pelé».      

Jessica Corais, jornalista especializada em futebol brasileiro, comenta à «Maisfutebol Total»: «Toda a lenda é única. Para Neymar ser melhor do que Pelé, isso se um dia conseguir ser, precisa mostrar um futebol excepcional durante muitos anos, ganhar títulos, Copas do Mundo, etc. Assim como Romário marcou uma época, Ronaldo Fenómeno a mesma coisa, sem dúvida vivemos a era do Neymar. Restará saber até onde ele irá, pois indiscutivelmente vem melhorando a cada momento e se levarmos em conta sua idade e o ritmo que está jogando, podemos ver um dos maiores jogadores de todos os tempos.»

O facto de Neymar ser, de longe, o melhor jogador brasileiro pode constituir um problema para o equilíbrio da seleção canarinha? Jessica Corais vê possíveis questões a levantar, pelo menos: «A Neymardependência já aconteceu durante a Copa do Mundo e isso sim preocupa. Não pode jogar em suas costas todas as chances de vitória do Brasil. A questão é que ele é venerado por todos os seus companheiros, desde os mais novos até os mais velhos. Mas é preciso que outros também assumam a responsabilidade numa eventual exibição ruim ou abaixo da média. Talvez essa "Neymardependência" diminua com as boas atuações de Oscar, Kaká, Robinho, etc.»

Luís Miguel Pereira , autor do livro «Neymar Total», tem visão semelhante, mas ressalva, em conversa com a «Maisfutebol Total»: «Se é certo que o Neymar é, de longe, o melhor jogador brasileiro da atualidade, é verdade também que mesmo com ele seria difícil evitar o desastre do Brasil na Copa. Os sinais desse desastre já se identificavam bem antes da lesão do Neymar com a Colômbia». 

Já Miguel Lourenço Pereira observa: «Quando há um jogador top mundial numa equipa onde não existem outros futebolistas a um nivel parecido isso é inevitável. passa com o Brasil, com a Argentina ou com Portugal por oposição a equipas mais corais como Alemanha, Espanha ou Itália. Portanto o risco da Neymardependência vai estar sempre aí, não tanto no volume de golos mas sim na forma como a equipa se organiza.»      

Até onde, Neymar?

Quem, como Neymar, já chegou aos 40 golos no escrete em apenas 58 jogos, aos 22 anos, pode chegar… ao céu?

Que limite terá a «Joia» do futebol brasileiro? Jessica Corais contextualiza: «Craque em evolução. Neymar é bom em tudo, é a essência do jogador completo, mas ainda em formação. Não podemos esquecer que ele ainda tem relativamente pouco tempo de Europa e sem dúvida vai aprender ainda muito mais. Neymar tem tudo para ainda jogar, no mínimo, mais 10 anos. É apenas o começo.»

O jornalista Luís Miguel Pereira, que também publicou uma «Bíblia da Seleção Brasileira», vai um pouco mais longe: «Ele tem tudo para bater todos os recordes. Vai a caminho disso, pelo menos. Será seguro, para já, afirmar que ele é o melhor jogador do Mundo da sua idade. Ninguém com 22 anos está ao nível dele. Há outros valores em afirmação, mas não ao nível a que Neymar já chegou».

Para este jornalista, grande conhecedor do percurso e das características de Neymar, «já há algum tempo que todos os dados apontavam para que Neymar viesse a ter este trajeto, que aponta para vários recordes».

Luís Miguel Pereira avalia: «O Neymar será o último sobrevivente do melhor futebol brasileiro. Aquele futebolista-arte, com muita técnica, alegria e qualidade. Diria até que o Neymar tem sido extraordinário apesar de de ter apanhado uma fase complicada da seleção brasileira, em que claramente há menos talento do que noutras gerações, como por exemplo o Brasil de 70». 

Para o autor de «Neymar Total», o jovem craque do Barça «tem excelentes condições lutar pela Bola de Ouro de forma repetida, daqui a uns dois ou três anos». 

Já Miguel Lourenço Pereira considera: «Neymar tem uma margem de crescimento muito grande e este ano vai ser fundamental. Terá de afirmar-se com a chegada de um predador da área como Suarez e de um Messi mais solto do que nunca em campo. Passou o ano de adaptação e da pressão psicológica de jogar com Messi, o ano do Mundial. Não tenho a menor duvida que Neymar vai a caminho de se converter na maior estrela mundial nos próximos cinco anos a nível técnico e de números e automaticamente uma figura maiúscula do futebol brasileiro. Vejo dificil que o Brasil ganhe um Mundial ou uma Copa América até 2022 sem que seja por culpa de Neymar».      


OS MELHORES MARCADORES DA SELEÇÃO BRASILEIRA:


1 – Pelé, 77 golos (92 jogos, média de 0,83 por jogo)
2 – Ronaldo, 62 (98 jogos, média de 0,63)
3 – Romário, 55 (70 jogos, média de 0,78)
4 – Zico, 48 (71 jogos, média de 0,68)
5 – NEYMAR, 40 golos (58 jogos, média de 0,69)
6 – Bebeto, 39 (75 jogos, média de 0,52)
7 – Rivaldo, 35 (74 jogos, média de 0,47)  


* nota: contabilizados os golos em jogos oficiais FIFA. Nas partidas não oficiais, Bebeto e Jairzinho estão à frente de Neymar, com 52 golos em 88 encontros e 44 em 106, respetivamente. Rivelino tem 40 golos em 120 jogos (não oficiais incluídos); Leónidas 37 em 37; Tostão 36 golos em 65 partidas