Começando pelo princípio, reparem bem neste golo:



Depois, muito depois, no fim do trajeto, há este, marcado a 20 de setembro, oito anos depois do primeiro e quatro anos, dia por dia, sobre uma data que lhe mudou a vida de forma drástica:



Pelo meio, há um homem com mais há uma história com bem mais para contar que os oito anos a separar estes dois momentos de glória. Ao marcar, neste domingo, o tento de honra do São Paulo, na derrota contra o Avaí (2-1), o central Breno Vinicius Rodrigues Borges fez muito mais do que somar o terceiro golo como profissional. O remate de pé esquerdo com que bateu o guarda-redes Vagner, restabelecendo uma igualdade momentânea, parece simbolizar o fim do capítulo mais sombrio numa história que já foi do sonho ao pesadelo e chegou a ameaçar não ter escapatória nem final feliz.

O primeiro vídeo desta peça, datado de setembro de 2007, marca o nascimento de uma estrela: ainda antes de completar 18 anos, Breno confirmava-se como um dos centrais mais promissores do futebol brasileiro, com este golaço marcado aos rivais do Santos, na caminhada para o título. Estes e outros apontamentos de classe tornaram-no num dos nomes mais apetecidos pelos grandes da Europa – e o Bayern Munique ganhou a corrida por antecipação, contratando-o em dezembro desse mesmo ano, a troco de 12 milhões de euros.

Mas o jovem originário da povoação paulista de Cruzeiro dá-se mal com o frio. O frio clima alemão, e o frio acolhimento que lhe reservam companheiros, técnicos e dirigentes nos primeiros meses na Europa. A situação agrava-se em 2009, com a chegada de Van Gaal, que o julga demasiado inexperiente. Breno pede para voltar ao Brasl, por empréstimo, mas vai rodar para o Nuremberga. Aí, lesiona-se com gravidade num joelho, ao fim de apenas sete jogos. Volta à procedência para uma lenta e penosa recuperação, que lhe desencadeia os primeiros sintomas de depressão.

A instabilidade emocional agudiza-se em 2011, e a 20 de setembro, o jogador dá entrada num hospital de Munique, com ferimentos ligeiros, na mesma noite em que a sua casa é destruída por um incêndio. A investigação policial desconfia das circunstâcias, e quatro dias mais tarde Breno é colocado em prisão preventiva, acusado de fogo posto. Em julho de 2012, o processo chega ao fim, e o central é dado como culpado, vendo-se condenado a três anos e nove meses de prisão.

O Bayern não o deixa cair, e o São Paulo, que nesse mesmo verão assina com ele um contrato válido até 2015, também não. Quando, no verão de 2013, Breno passa a cumprir a pena em regime semiaberto, o Bayern integra-o nos quadros do departamento de formação, pondo-o a trabalhar com os escalões jovens. O dinheiro ganho no auge da carreira é gasto em despesas legais e advogados. O salário de 3 mil euros mensais, correspondentes às novas funções no Bayern, obriga-o a mudar as rotinas mas, ao mesmo tempo, ajuda-o a reencontrar uma espécie de equilíbrio, acentuado pela proximidade com a família.

No fim de 2014, Breno vê a luz no fundo do túnel, quando o tribunal da Baviera declara a pena suspensa e, no início do ano, o melhor central do Brasileirão de 2007 volta a casa: é apresentado como reforço do São Paulo, que lhe dá todas as condições para um lento regresso à forma. A 9 de agosto, dá-se o primeiro jogo oficial da nova vida de Breno, um empate com o Corinthians. Mais pesado, mas mais determinado que nunca, recupera os hábitos competitivos e, ao quinto jogo, volta a festejar um golo, com a braçadeira de capitão do tricolor paulista. Companheiros e técnicos cairam-lhe em cima, num abraço colectivo, partilhado nas redes sociais por muitas figuras do futebol: