Pela primeira vez, uma equipa de Gales jogou na Premier League, desde a formação desta, em 1992. Contra todas as probabilidades, o Swansea manteve-se no topo do futebol britânico. Terminou o campeonato no 11º lugar. O principal responsável é Brendan Rodgers, o homem que Mourinho contratou para, na altura, dirigir a academia do Chelsea. Agora, tornou-se no novo treinador do Liverpool.
A história de Rodgers começa mal. Aos 20 anos teve de deixar o futebol. Tinha um problema genético no joelho que o impediu de prosseguir a carreira de futebolista. Depois de jogar pelo Ballymena United, clube da Irlanda do Norte, onde nasceu, Rodgers mudou-se para o Reading. Nunca passou das reservas. Ou melhor, passou das reservas para treinador. Foi orientar os mais jovens do clube. Logo ele que tinha acabado de sair da adolescência.
Rodgers nasceu a 26 de janeiro. É, precisamente, dez anos mais novo que José Mourinho. A ligação entre o técnico norte-irlandês e o setubalense vai muito além do mesmo dia de aniversário. Quando chegou ao Chelsea, vindo do FC Porto, Mourinho procurou incessantemente por alguém que assumisse a formação dos «blues». Encontrou Rodgers, que ganhava reputação nas camadas jovens.
«Gosto de tudo nele. É ambicioso e não vê o futebol de um modo muito diferente do meu», disse o Special One, citado pela BBC, num trabalho realizado aquando da subida do Swansea à Premier League.
«Tem uma mentalidade aberta, gosta de aprender e de comunicar», acrescentou o treinador do Real Madrid sobre Rodgers. Um pouco da filosofia de Mourinho chega a Anfield.
Antes da glória no Swansea, o técnico teve de ultrapassar mais obstáculos. Na carreira e na vida. Um ano antes de disputar a final de acesso à Premier League, em Wembley, Rodgers perdeu a mãe. Mesmo doente, com cancro, o pai assistiu à final, ironicamente disputada com o Reading, o clube em que começou e que orientou no início da carreira: esteve nas camadas jovens, regressou como principal, mas, tal como Mourinho no Benfica, ficou apenas uns meses.
«Aos 4-2, e a 30 segundos do fim, a minha mente viajou pela minha carreira de treinador, coisa que nunca, mas nunca fiz antes», contou Rodgers, sobre o jogo que levou o Swansea do Championship à Premier League.
«Desde a altura em que tinha 20 anos, a trabalhar com miúdos, a conduzir muitas horas, a perder tempo com a família, todas essas emoções, essa viagem passou-me pelo pensamento», contou.
O pai, Malachy Rodgers, acabou por falecer, vítima do cancro. Brendan fez questão de suportar nos ombros o caixão do progenitor. E é o pai que recorda, quando lhe pedem para falar de futebol.
«Costumava ajudá-lo a pintar e a decorar, para ganhar algum dinheiro. Ele instruiu-me nos valores do trabalho diário, acreditava que isso levava ao sucesso em qualquer atividade. Ele tinha razão», explicou o treinador.
«Ele trabalhava de manhã à noite para assegurar que a família tinha tudo e acho que se pode ver isso nas minhas equipas», considerou Brendan Rodgers. O cancro, o maldito cancro que lhe tirou o pai, combateu-o com uma subida ao Kilimanjaro, num ato de beneficência. Rodgers chegou ao topo eufórico, mas voltou com os pés assentes na terra. Levou o Swansea ao 11º lugar da Premier League e, agora, prepara-se para escalar uma montanha chamada Liverpool FC.