Bruno Fernandes, antigo guarda-redes do Flamengo, foi condenado pelo Tribunal de Júri de Contagem a 22 anos de prisão, esta sexta-feira, Dia Internacional da Mulher, três anos depois de uma declaração polémica, na qual afirmou ser «normal trocar socos com a parceira».

«Quem nunca saiu na mão com sua mulher?», disse Bruno a 6 de março de 2010, ao ser questionado sobre um episódio de agressão mútua entre o jogador Adriano e a noiva dele. A declaração, feita três meses antes da morte de Eliza Samudio, chegou a obrigar o guarda-redes a pedir desculpas públicas: «Eu fui muito mal interpretado, talvez não tenha usado o termo certo na declaração. Peço desculpas a todos pelo que foi dito. Tenho filhas e amo-as muito. Todas as mulheres merecem carinho».

De acordo com o Ministério Público, Bruno agrediu Eliza mais de uma vez antes de planear o sequestro e morte dela. A primeira agressão ocorreu em julho de 2009, no hotel Barrabela, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o guarda-redes tê-la-á ameaçado de morte caso ela não abortasse.

Um mês depois, quando a vítima estava hospedada no Hotel Transamérica, também no Rio, o guarda-redes fez novas ameaças de morte e agrediu Eliza fisicamente, segundo a denúncia do MP.

Na primeira semana de setembro de 2009, a modelo teve um sangramento por conta da gravidez e foi internada no hospital Leila Diniz, no Rio. Ao avisar Bruno do ocorrido, foi novamente ameaçada de morte.

Na madrugada de 13 de outubro de 2009, Eliza foi sequestrada por Bruno e dois amigos na porta da casa onde morava com uma amiga, no Rio. Com a ajuda de Luiz Henrique Romão, o «Macarrão», e outro amigo, o guarda-redes atraiu a modelo para dentro do carro e, no automóvel, apontou-lhe uma pistola e esbofeteou-a no rosto.

Em seguida, os três levaram.a para o apartamento de Bruno na Barra da Tijuca. Lá, o grupo obrigou Eliza a ingerir medicamentos abortivos. Segundo a denúncia do MP, Eliza ficou dopada por quase 12 horas.

Eliza ainda conseguiu recuperar e foi a uma delegacia de polícia denunciar o guarda-redes pela agressão. Uma equipa de reportagem do jornal «Extra» entrevistou a modelo na porta da delegacia..

Depois desse episódio, Eliza mudou-se para São Paulo, onde foi morar na casa de uma amiga até ao nascimento da criança.

Após o desaparecimento da modelo vir à tona, organizações feministas acusaram a Polícia Civil de não fazer cumprir a lei Maria da Penha, que prevê a detenção dos agressores de mulheres e determina que estes não se aproximem das agredidas.

Durante a sessão na qual Bruno foi condenado, o procurador Henry Wagner de Castro citou o Dia da Mulher para sensibilizar o Conselho de Sentença, composto por cinco juradas e dois jurados. «As senhoras merecem rosas. Merecem rosas pelo Dia Internacional da Mulher. Rasguem as vendas dessa defesa descomprometida.»