Manuel Cajuda é um exemplo de que o aumento da idade não diminui a vontade de aprender e conhecer novas realidades. Em 2009 o treinador deixou Portugal para aventurar-se na Liga dos Emirados Árabes, onde assumiu o comando técnico do Sharjah. Continua a «ter grandes objectivos» e está certo de que pode «fazer muito mais» do que já fez, disse em conversa com o Maisfutebol.
Chegou aos Emirados às 23h30 e foi recebido por 43 ºC. As barreiras linguísticas fazem com que pratique o inglês. Ter uma equipa com nove polícias, que trabalham das 7h30 às 14h30 e treinam às 18 horas, implica uma gestão diferente do treino - quase todos os jogadores são amadores, apenas quatro são profissionais. A realidade é bem diferente da portuguesa? Sim. Mas mudar pode ser bom. Pelo menos é essa a ideia deixada por Cajuda.
Que balanço faz desta experiência?
«Faltam dois jogos para terminar a primeira volta e, mesmo correndo o risco de me chamarem egoísta, diria que o balanço é muito bom. A minha equipa foi a pior do ano passado. Desceram duas equipas e o Sharjah evitou a despromoção no último jogo. É um grande clube, mas está em dificuldades há vários anos. Já foi campeão, mas por pouco não desceu de divisão. A equipa é, basicamente, a mesma da época passada e, neste momento, temos cerca de metade das equipas atrás de nós. Já estivemos no quarto lugar e na Taça da Liga estamos no segundo posto. Não estou num clube que esteja a lutar para o título, mas a equipa está bem.»
O que lhe pediram quando o contrataram?
«Pediram-me para fazer uma nova equipa, lançar novos jogadores e para restituir a alegria e orgulho ao grupo. Disseram-me para não me preocupar com títulos. Não me exigiram o que quer que fosse. Convém recordar que a equipa foi a primeira a ganhar o campeonato dos Emirados e é aquela que mais Taças possui e tem apresentado um percurso inconstante.»
Como tem sido a sua adaptação?
«O Homem é uma criatura de hábitos. Estou num país que, por um lado, tem coisas maravilhosas, mas, por outro, tem algumas a que é difícil nos habituarmos. O futebol é, consideravelmente, mais fraco que o nosso. Existem hábitos culturais e sociais diferentes dos nossos, mas acabamos por acostumar-nos. No entanto, acho fantástico ainda poder dizer que sou uma criança e que ainda posso aprender muitas das coisas que o mundo tem para me mostrar. Nunca me passou pela cabeça trabalhar num país onde as temperaturas atingem os 50 ºC e treinar com 43 a 44 ºC. Tudo isto faz com tenhamos de reorganizar os conhecimentos que temos. Para treinar em condições a que não estava habituado fui obrigado a rever algumas coisas e a aprender outras.»
Há a possibilidade de renovar?
«Quando se falou do meu possível regresso a Portugal [Sporting], o meu presidente reagiu. Disse que nem por dez milhões eu saía. Mas quem conhece o futebol sabe que não é bem assim. Mantém-se a expectativa de renovar o contrato. Já lhe pedi para aguardar, porque quero ver o que consigo fazer e quais são as possibilidades de me darem uma equipa muito mais forte que esta, para tentar jogar para os primeiros lugares ou até tentar ser campeão. Se essa possibilidade for viável renovarei, se não for rumarei a outras paragens. Não me interessa lutar pelo 7º lugar ou para não descer de divisão e, nesta altura, tenho uma equipa para não descer. Isto pode ser considerado um insucesso em Portugal, mas não é. Tenho uma equipa para não descer e, em poucos meses, já fizemos muita coisa. Mas é mais provável que perca jogos do que ganhe.»
Como perspectiva a sua carreira a curto/médio prazo? Que objectivos tem?
«Continuo a ter grandes objectivos. Continuo a dizer que tenho muita coisa para fazer. Continuo a dizer que tudo o que fiz, apesar de ter sido muito, não é nada que me permita dizer que não quero ir mais além. Tenho experiência e capacidade para fazer muito mais do que fiz. Sei que posso fazer muito mais e tenho vontade de fazer mais.»