CAMINHOS DE PORTUGAL é uma nova rubrica do jornal Maisfutebol. De 15 em 15 dias trará aos nossos leitores o retrato de um clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco, de duas em duas semanas, os CAMINHOS DE PORTUGAL.

GRUPO DESPORTIVO FABRIL DO BARREIRO, III DIVISÃO

Herdeiro orgulhoso, prossecutor fiel, autêntica fénix das cinzas renascida. O Grupo Desportivo Fabril carrega a hercúlea responsabilidade de alavancar, no presente e no futuro, a história riquíssima da antiga CUF.

A brilhante prestação na Taça de Portugal remexe a memória, rejuvenesce o entusiasmo e atira o gigante do Barreiro para o foco mediático.

A decadência industrial do pós-25 de abril assolou a Margem Sul e decepou a vida da CUF. A empresa desapareceu e o clube de futebol foi levado atrás. Em 1977 a companhia fundiu-se com os Nitratos de Portugal(Alverca) e o Amoníaco Português(Estarreja). Nasceu a Quimigal e o respetivo Grupo Desportivo.

Mais recentemente, a denominação voltou a mudar. O Grupo Desportivo Fabril do Barreiro é o proprietário e usuário do mítico Estádio Alfredo da Silva. Um relvado, 22 mil lugares, memórias frescas e a ambição de voltar a ser grande.

Na sexta-feira, o Fabril disputa a V Eliminatória da Taça de Portugal no Restelo. O Belenenses é o oponente perfeito para reviver a beleza de um passado que não se esquece.

O Maisfutebol foi perceber o que é este Fabril, o que resta das conquistas da CUF e encontrou uma organização bem estruturada, francamente eclética e em crescimento.

O presidente António Fernandes fala-nos de um clube com «condições muito interessantes», capaz de permitir a prática desportiva «a 1000 atletas», em modalidades tão díspares como o «futsal, o kickboxing, o hóquei em patins ou o remo».

Recordar 1968/69 e 1972/73

O brilharete na Taça de Portugal não é, porém, o mais importante para o GD Fabril. O objetivo da equipa de futebol passa pela «subida à II Divisão» e a ansiada «consolidação financeira». António Fernandes não fecha, no entanto, a porta ao sonho do Jamor.

«Os sócios mais velhos recordam as presenças nas meias-finais [1968/69 e 1972/73]. Por isso é impossível que as conversas não versem o sonho de estar no Jamor», refere o máximo dirigente do GD Fabril.

O clube está empenhado em «reviver os bons momentos» das décadas de 50, 60 e 70, época áurea da CUF. «Queremos crescer tranquilamente. As nossas instalações são fantásticas, o clube está equilibrado, mas não temos a veleidade de apontar, para já, aos escalões profissionais».

É preciso «mais qualquer coisa» para ver o verde do Barreiro nas duas principais divisões do futebol indígena. Nada que impeça, contudo, de celebrar a superioridade sobre o «velho rival» da urbe, o Barreirense.

«No Fabril há vida. Eramos um clube suburbano, de fábrica, e soubemos readaptarmo-nos. O Barreirense perdeu muito com a redução da indústria», profere António Fernandes, já em pulgas para defrontar o Belenenses, no Restelo.

E o prémio? «Os jogadores são amadores e sabem que não damos o que não temos. Pode haver uma pequena compensação financeira, um estímulo para a união, não mais».

«Fui a duas finais e isto mexe comigo»

A dupla técnica não podia estar mais de acordo com o presidente. O experientíssimo Conhé e o adjunto Marco Tábuas olham «com ambição» para o Restelo, sem esquecerem a «importância maior» que é dada à III Divisão.

«Fui a duas finais da taça e isto mexe comigo. Ganhei uma ao Benfica e perdi outra com o F.C. Porto», lembra Marco Tábuas, no que é acompanhado por Conhé.

«Estamos a exceder as expetativas e acreditamos em coisas boas. Agora já não consigo segurar os jogadores. É bonito ver a minha CUF nos grandes palcos».

É mesmo isso. A CUF está de volta, mesmo que o nome leve ao engano.