CAMINHOS DE PORTUGAL é uma nova rubrica do jornal Maisfutebol que visita o dia-a-dia de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

VILA FLOR SPORT CLUBE, A.F. BRAGANÇA

Gente de têmpera, esta transmontana. A dureza é um modo de vida, a adversidade um mero acessório. No Vila Flor Sport Clube, novel campeão dos distritais de Bragança, o lema encaixa tão perfeitamente como peças multicolores de um jogo de tetris.

É de dificuldades que esta reportagem vive, de resto. De limitações gritantes e histórias de superação. André Morais, presidente da comissão administrativa do clube, fala de um verdadeiro milagre ao Maisfutebol.

O pequeno Vila Flor, clube com menos de 200 sócios, ascendeu ao Campeonato Nacional de Seniores. Pela primeira vez na sua história de quase 50 anos jogará uma competição nacional. Duas, aliás, pois a equipa estará também na Taça de Portugal.

As inibições estruturais e financeiras continuarão a povoar o dia a dia do Vila Flor, sempre devidamente doseada com ambição, paixão e crença. «Aproveitámos a reformulação dos quadros competitivos para dar este salto e esperamos um bom retorno. Para o clube e a região», diz-nos o jovem dirigente, no que é acompanhado por Gilberto Gomes, treinador dos seniores.

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«Vila Flor nunca vivera nada assim. Tivemos várias vezes o estádio cheio. Agora jogaremos contra equipas profissionais e entraremos sempre para ganhar. Não queremos estar despromovidos a meio da época. Só quem não nos conhece pensa que isso pode acontecer».

O clube tem características especiais e conseguiu um feito absolutamente histórico com muito pouco. Ora veja-se: o Vila Flor tem um funcionário a tempo inteiro, uma equipa de oito pessoas a fazer todo o tipo de trabalhos (logístico, administrativo, técnico) e um plantel de 21 jogadores; não tinha rouparia, traje de passeio e almoço para a equipa ao domingo.

«Nos jogos em casa comíamos todos em casa e uma hora antes do jogo estávamos no campo. Fora? Bem, o almoço era antecipado para as 11 da manhã e depois tínhamos uma viagem de autocarro pela frente. E neste distrito as distâncias são enormes», explica André Morais.

A subida ao terceiro escalão nacional «obriga a melhoramentos», mas muito do que tem sido o Vila Flor Sport Clube continuará na mesma. Boavista, Salgueiros, Freamunde, Amarante, Lixa, Cinfães e outros que se cuidem. Para este clube, os maiores apertos não são colocados pelos adversários.

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