CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do Maisfutebol que visita passado e presente de clubes dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção.

FC MAIA LIDADOR: Divisão de Elite da AF PORTO

27 de maio de 2001. Naquela última jornada da II Liga de 2000/2001 o FC Maia foi do céu ao inferno em dois minutos.

Os maiatos venciam em casa do Sp. Espinho por 3-2, enquanto o Vitória de Setúbal, competidor direto na luta pela subida, empatava em casa com a Naval por 1-1.

No entanto, num ápice tudo mudou. Culpa de quem? Albert Meyong, histórico goleador dos sadinos.

O avançado camaronês marcou e de uma assentada colocou o Vitória na Liga e fez o sonho do FC Maia cair por terra.

Este pode ter sido muito bem, o princípio da queda. O investimento do clube era alto, a equipa estava consolidada na II Liga, mas os responsáveis maiatos almejavam mais. Porém, tudo fugiu por entre os dedos naqueles dois minutos. Os «fatídicos dois minutos», que ainda hoje são recordados pelas pessoas da cidade da Maia.

O FC Maia desapareceu em definitivo em 2011 devido aos problemas financeiros, mas, antes da sua extinção, já fora criado em 2009 o seu sucessor: o FC Maia Lidador.

Atualmente, o clube milita na Divisão de Elite da Associação de Futebol do Porto e joga as suas partidas no Estádio Professor Doutor José Vieira de Carvalho, o mesmo onde jogava o FC Maia.

Fundado em 2009, o FC Maia Lidador foi batizado tendo em conta três princípios fundamentais: praticar futebol, representar a cidade e homenagear Gonçalo Mendes da Maia, «O Lidador», a maior figura histórica do município.

António Fernando, presidente do clube, realçou a história da cidade da Maia como um alicerce para o clube.

«Pretendíamos ter um clube que não só aproveitasse a história do futebol do concelho, mas também que potenciasse e fizesse uso de uma figura muito importante para os maiatos: «O Lidador». O uso da sua imagem é uma forma de captar novos públicos e atletas e fazer jus ao nosso lema, espírito de conquista», afirmou.

Uma das mudanças no clube, para além do nome, foi o seu emblema, inspirado na história do comandante militar e cavaleiro português do século X e XI.

«O elmo é uma proteção utilizada no ambiente bélico destinada a defender a cabeça do soldado. O escudo é a parte principal da figura que forma um brasão em heráldica. Estes dois elementos aliados às cores oficiais do FC Maia Lidador, o azul e o vermelho, constroem o símbolo do nosso clube», refere o site do FC Maia Lidador.

Chamar adeptos é uma questão de resultados

As diferenças entre os dois emblemas não ficam por aqui. Há quem reconheça mudanças principalmente a nível organizativo ou na ligação dos maiatos ao clube. 

«A grande diferença foi ao nível da formação, que começou a trabalhar de forma independente, deixando o Maia Lidador com uma autonomia diferente nos seniores», afirmou António Vasconcelos, Chefe do Departamento Médico do Maia Lidador, que chegou ainda ao antigo clube em 2005.

Para o capitão, Vasco Nogueira, jogador formado no FC Maia e que representa há quatro temporadas o Maia Lidador, a grande diferença é a ligação das pessoas ao FC Maia, diferente da atualmente com o Maia Lidador.

«O Maia Lidador está numa fase muito embrionária. A principal diferença é que o FC Maia trazia mais adeptos ao estádio e a cidade estava mais envolvida com o clube. Agora, tudo é uma questão de resultados e de o clube começar a subir patamares. De certeza, que a cidade voltará a estar com o clube», destacou.

Rui Carvalho, também formado no clube e que esta temporada regressou a casa, corroborou a ideia do capitão, anotando: «A ligação das pessoas da cidade ao clube é aquilo que noto com mais diferença, para a altura do FC Maia. As pessoas compareciam muito mais ao estádio.»

É notória a falta de identificação das pessoas da Maia com o Maia Lidador, muito por culpa da curta existência do clube. É um processo que requer tempo e os bons resultados podem voltar a unir os maiatos em redor do clube.

«É um processo moroso, requer tempo e confiança. Há pessoas que ainda não se reveem muito no projeto Maia Lidador. No entanto, o que tenho notado de época para época é que os sócios têm aderido aos jogos em maior número. Estão a acompanhar mais o Maia Lidador, vendo neste momento o clube como o FC Maia antigo», explicou António Vasconcelos ao Maisfutebol.

O otimismo é partilhado pelo presidente do clube.

«A identificação com o clube é cada vez maior. À medida que o clube vai subindo patamares futebolísticos e que a nossa estrutura de formação cresce, vamos tendo mais apoiantes», sublinhou António Fernando, convicto numa falange de apoio cada vez maior por parte das gentes da Maia.

Formar jogadores e… adeptos

Tal como muitos outros clubes, o Maia Lidador vive da aposta nos jovens talentos para abastecer a equipa principal. Longe do fulgor de outros tempos, em que os apoios financeiros eram maiores, o clube olha para a formação como um «viveiro» de talento.

António Fernando destaca a aposta nos miúdos e da melhoria nas condições de treino para os atletas.

«Fizemos uma aposta muito credível na formação, não só na formação dos jogadores, mas também ao nível de adeptos. De centenas de jogadores formados nos escalões jovens todos os anos chegam alguns à equipa sénior. Por outro lado, o clube tem vindo a apostar seriamente em condições de treino com conforto e qualidade para os seus atletas», explicou o líder do clube maiato, sublinhando duas vertentes que se complementam: «Formamos atletas enquanto pessoas e jogadores, mas também enquanto adeptos de futebol, pois temos uma componente lúdico-formativa. A ligação entre os seniores e os mais jovens é feita de várias formas.  Por exemplo, o capitão da equipa sénior está ligado a formação, pois faz parte de uma equipa técnica da formação.»

Igor e Cafú: uma frente de ataque com 78 anos

Os responsáveis do Maia Lidador acreditam que o clube pode voltar a atingir patamares competitivos elevados, sustentados num plano traçado pela direção do Maia Lidador.

António Vasconcelos acredita na margem de progressão do clube, de forma a alcançar um patamar que o FC Maia, representou anteriormente. «Na minha humilde opinião, as pessoas que estão à frente são muito ponderadas e estão a construir de base um clube consolidado», declarou o chefe do Departamento Médico.

A margem de progressão do clube é suportada na média de idades do jovem plantel do Maia Lidador, mas também em dois veteranos de créditos firmados e que oferecem experiência a equipa: Cafú, com 40 anos, e Igor, com 38. Juntos, fazem uma frente de ataque de respeito com… 78 anos.

«A nossa média de idades sem o Igor e o Cafú é 22 anos de idade; com eles é de 24. É importante, porque trazem muita experiência ao grupo e são como pais para nós, ensinam-nos bastante daquilo que é o futebol», explicou Vasco Nogueira, capitão do Maia Lidador.

O presidente reforçou as palavras do capitão, demonstrando a importância dos dois jogadores mais velhos para a equipa:

«O Maia tem uma equipa muito jovem e que carece de experiência. Os jogadores mais experientes são um ponto de referência para os mais novos. O Cafú está no Maia Lidador há dois anos. Veio no ano transato e teve um comportamento exemplar como atleta e pessoa e ficou. O Igor é um produto do Maia, cresceu aqui e assenta que nem uma luva neste clube. Sempre que contratamos um jogador experiente, não tem só peso a vertente futebolística, mas também aquilo que é enquanto pessoa e líder.»

Recordações da quase subida à I Liga

O Igor, que o capitão e o presidente falaram, é o mesmo Igor que fazia parte da equipa que em 2000/2001, que esteve perto de subir à II Liga.

O avançado brasileiro de 38 anos voltou esta temporada ao emblema maiato e fala constantemente aos colegas de equipa sobre aqueles dois minutos fatídicos em que a equipa quase subiu à elite do futebol nacional.

«O Igor fala muitas vezes sobre esse ano e sobre o jogo decisivo contra o Espinho. Perder aquela oportunidade foi complicado para ele. Nessa altura, seguia o Maia e agora estou a jogar com o Igor. É uma boa experiência», contou Vasco Nogueira.

Rui Carvalho, avançado do Maia Lidador, recordou ao Maisfutebol as lembranças deste momento triste para os adeptos do Maia. «Eu jogava nas escolinhas. O que mais me recordo é que todas as entidades do clube andavam muito entusiasmadas pela possível subida, que depois não se concretizou. Foi uma pena…», recorda o agora jogador recuando às memórias da infância.