CAMINHOS DE PORTUGAL  é uma rubrica do jornal  Maisfutebol  que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção.

Caldas Sport Clube: Campeonato de Portugal – Série D

A semana é histórica para o Caldas. Pela segunda ocasião em 101 anos de existência o clube chegou aos oitavos de final da Taça de Portugal – a única vez que tal havia acontecido foi no longínquo ano de 1957.

Nas últimas duas épocas esta equipa feita com a prata da casa já havia ameaçado, mas em ambas acabou eliminado pelo Estoril. Desta vez, o Campo da Mata quase encheu para ver uma equipa que anda pelo meio da tabela na Série D do Campeonato de Portugal tombar nos penáltis (após 1-1) o Arouca, da II Liga, como salienta o técnico José Vala.

«Eliminar uma equipa da II Liga é surpreendente, embora nós, grupo de trabalho, soubéssemos que tínhamos alguma percentagem de sucesso. Nas duas últimas épocas, apesar de eliminados pelo Estoril, demos muita luta. Desta vez, os adeptos acreditavam mesmo que conseguiríamos passar. De tal forma que este ano frente ao Arouca estava muito mais gente do que nos receções anteriores contra o Estoril. Infelizmente não temos aquela assistência nos nossos jogos habitualmente, embora este ano contemos com um grupo de miúdos que formaram a claque que nos apoia: o Sector 1916, que se chama assim por causa do ano da fundação do clube», explica ao Maisfutebol o treinador do Caldas e professor de educação física no Carregado.

Por causa da Mata das Caldas que o envolve o estádio caldense é conhecido por «mini Jamor». E a verdade é que no último domingo desde a manhã que o espírito de uma final da Taça invadiu as imediações do recinto, recorda o presidente.

«Havia a expetativa grande de fazer um brilharete. Desde as 9 horas da manhã até à hora do jogo (15h) que muita gente apareceu para conviver e fazer piqueniques. Temos 470 atletas na formação e muitos deles convidaram familiares que apareceram para fazer a festa. Transformámos o nosso campo num pequeno Jamor. Tudo aquilo fez lembrar a envolvência do Estádio Nacional», salientou Jorge Reis, acrescentando que agora «o importante é aproveitar esta dinâmica para aproximar a cidade do clube»: «Temos 1200 sócios. É pouco para um concelho de 50 mil habitantes.»

Únicos amadores nos oitavos

Momentos antes do sorteio, Jorge Reis confessou ao Maisfutebol a vontade de receber um grande na próxima eliminatória. Calhou a Académica de Coimbra e um novo duelo em casa com uma equipa da II Liga. Não será tarefa fácil, dada a diferença entre dois emblemas de divisões e realidades distintas.

«Somos a única equipa amadora que está nos oitavos de final da Taça de Portugal, mesmo considerando as restantes equipas do Campeonato de Portugal», destaca o dirigente, que trabalha no departamento de Recursos Humanos do Centro Hospitalar do Oeste: «Tal como toda a direção, equipa técnica e jogadores têm outras profissões além do futebol.»

Caldas eliminou o Arouca da Taça de Portugal no último domingo

O treinador José Vala detalha como realidade da sua equipa está longe do profissionalismo: «Quase todos os jogadores são das Caldas da Rainha ou arredores. Treinamos ao final do dia, depois do trabalho, e não de manhã, como boa parte dos nossos adversários no Campeonato de Portugal. Só um jogador nosso, o Felipe Ryan, é que se dedica em exclusivo ao futebol. O resto são estudantes, empregados de fábrica, vendedores, um que é professor, outro que é auxiliar num hospital…»

Esta época o Caldas fez apenas duas contratações. De resto, manteve 18 jogadores e promoveu três juniores. Num plantel de 23 jogadores, a maioria (12) foram formados no clube.

Pelo que os «Pelicanos», alcunha clube que adotou por fazer parte do brasão da cidade, não têm expetativas de subida à II Liga. «O Caldas neste momento não tem estrutura para jogar numa divisão profissional», palavra de presidente.

E fazer um brilharete na Taça de Portugal? Tentar eliminar a Académica e chegar aos quartos de final seria um feito. Porém, os sonhos não passam para lá do Jamor a sério, conta bem humorado o treinador José Vala: «Às vezes brincamos entre nós: “Havemos de ir à final da Taça. Mas só à sardinhada.”»