CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá a nossa atenção.

JUVENTUS DA TRIANA FUTEBOL CLUBE – Futsal – Escalões de formação

Não tem a maior legião de seguidores de toda a Itália ou um plantel milionário, com algumas das maiores estrelas do futebol europeu; não joga numa moderna arena em Turim, tampouco coleciona scudetti… Esta Juventus é bem mais modesta, porém, mora a cinco quilómetros do Estádio do Dragão.

Foi criada na Triana, zona de Rio Tinto (concelho de Gondomar), quase nos limites da cidade do Porto, em setembro de 1974 por um grupo de seis amigos, andou pelo futebol popular durante anos, até que no final da década de 80 se dedicou em definitivo às vertentes que hoje mantém o clube em atividade: futsal e formação.

«Aquando da nossa fundação havia a moda de escolher nomes de clubes estrangeiros: aqui perto havia o Arsenal de Parada, o Inter de Milheirós, o Ajax de Carreiros, nosso vizinho, que era nosso rival no futebol popular… Como o clube foi fundado por seis jovens, eles optaram pelo nome de Juventus, como referência à juventude», conta ao Maisfutebol Vítor Azevedo, irmão de um dos fundadores e presidente da Mesa da Assembleia Geral desde 2005. Vítor, técnico de litografia de 52 anos, foi presidente da direção entre 1996 e 2005 e, antes disso, na década de 80, chegou a ocupar o cargo apenas com 18 anos.

Desse tempo, recorda-se da curiosidade que o nome despertava. «Quando comprámos a nossa carrinha, nas deslocações a Lisboa ou ao Algarve as pessoas ao verem o nome e o símbolo – decalcado do da Juve original – dirigiam-se a nós a falar italiano…»

O clube até tentou aprofundar essa ligação e, nos anos 80, explorou a possibilidade de ter um vínculo formal à Vecchia Signora: «Fomos ao consulado italiano, no Porto, escrevemos uma carta à Juventus a pedir que nos reconhecesse como filial, mas nunca tivemos resposta e acabámos por desistir.»

Não terá sido isso a impedir a Juventus da Triana de tornar-se um clube importante na formação de jovens, como explica André Ferreira, ex-jogador que é o diretor-desportivo de um clube que há meia-dúzia de anos desistiu do futsal sénior masculino, por uma questão financeira – «era difícil suportar multas e policiamento». A aposta agora é sobretudo na juventude e nas equipas femininas: «Temos cerca de 90 atletas. Quatro escalões masculinos: benjamins, infantis [na foto principal do artigo], iniciados e juniores; e dois femininos: juniores e seniores. Desempenhamos um papel importante no desporto para os miúdos desta zona», conta André Ferreira, interrompendo um torneio de dominó na sede do clube para falar ao Maisfutebol.

Sede da Juventus da Triana

Manuel Pinto, oficial de justiça de 45 anos que é tesoureiro da equipa, sublinha precisamente a função social do clube: «Até há dois ou três anos, os miúdos jogavam aqui de forma completamente gratuita. Agora, têm de pagar uma mensalidade de 12,5 euros mensais porque o clube não tem possibilidades para custear na totalidade os dois treinos semanais. Mas continuamos a garantir transporte para todos e lanche nos dias de jogo. É uma missão social que temos. Estamos a falar sobretudo de miúdos de bairros sociais aqui da zona, cujas famílias são carenciadas e não têm grandes condições de pagar para os filhos jogarem. Gostaríamos de em breve voltar a ter equipa de seniores masculinos, mas aí o investimento é maior. Temos de ir passo a passo. Só quando houver estrutura para isso, avançamos», garante o dirigente, que tal como a maioria da direção é portista – no seu caso, «de lugar anual no Dragão».

A preferência não difere muito na maioria dos jovens atletas do clube. «Também há benfiquistas e de vez em quando aparece um sportinguista, mas 60 ou 70 por cento dos miúdos são portistas, claro», salienta Vítor Azevedo.

Apesar do nome e do símbolo que fazem parte da sua história, não há grandes dúvidas sobre por quem esta Juventus torcerá na noite desta quarta-feira no FC Porto-Juventus da 1.ª mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

É uma questão de boa vizinhança.