Textos por Artem Frankov

Parceiro na Ucrânia: revista «Football»

«Análise tática e questões chave»

Por um lado, a tática da Ucrânia sai direitinha do molde moderno de um 4-2-3-1 como aperfeiçoado pela Espanha. Por outro lado, o esquema adotado pela equipa de Mykhaylo Fomenko tem as suas especificidades próprias: há uma forte ênfase no contra ataque, mantendo a forma e a disciplina até haver uma oportunidade – talvez mesmo apenas uma durante um jogo – se materializar.

No coração da sua abordagem está um esquema defensivo compacto que envolve entre sete e nove jogadores. Até os extremos estrelas da equipa, Andriy Yarmolenko e Yevhen Konoplyanka, são esperados a jogar mais atrás e os três médios centrais são responsáveis por proteger os quatro da defesa.

O último ponto significa que a Ucrânia não têm um nº10 claro; todos os três médios são jogadores box-to-box. Ruslan Rotan tem uma capacidade considerável para os lances de bola parada e marcará a maioria deles, embora Yarmolenko, de pé esquerdo, cobre muitas vezes os cantos do lado direito. Os defensas centrais Yevgeny Khacheridi e Olexandr Kucher são uma ameaça pelo jogo aéreo, assim como o lateral direito Bohdan Butko e o médio Taras Stepanenko.

Os perigos que eles representam são reais, mas a pedra angular do jogo da Ucrânia será a confiabilidade da Roménia. Certamente que contra a Alemanha e a Polónia, e talvez até mesmo contra a Irlanda do Norte, se pode esperar por um jogo denso e sufocante que não enjeita bolas longas. Neste contexto, é fácil ver por que Fomenko é visto por muitos como um treinador conservador - muito semelhante, de facto, ao seu mentor ilustre Valeriy Lobanovskiy.

Fomenko tem uma abordagem de tudo ou nada na gestão das pessoas. Nos últimos meses, apenas o jovem médio do Shakhtar Viktor Kovalenko tem feito o seu caminho no sentido de uma equipa estável e definida. O conservadorismo de Fomenko significa, porém, que o onze titular pode ser previsto com um nível razoável de confiança: Pyatov; Butko (Fedetskiy), Khacheridi, Kucher (Rakitskiy) e Shevchuk; Stepanenko e Rotan; Yarmolenko, Garmash (Kovalenko) e Konoplyanka; Zozulya.

Seria necessário circunstâncias extraordinárias – como uma lesão ou castigo de um jogador chave – para ver qualquer outro jogador de início e essa estabilidade é uma grande arma desta equipa ucraniana. Por outro, é também uma fraqueza, pois há uma limitação óbvia quanto aos suplentes se as coisas não estiverem a correr bem.

O que resulta no final é que não há uma alternativa ao defesa central Roman Zozulya. Não importa o facto de ele – juntamente com Rotan – ter sido banido do futebol ucraniano por seis meses antes, em maio, depois de ter atacado um árbitro na meia-fial da Taça; a falta de outras opções significa que a mentalidade em torno da equipa nacional deve ser pragmática e prática. Como a Inglaterra e a Espanha, a Ucrânia vai provavelmente viajar com apenas três defesas.

«Que jogador Ucrânia vai surpreender no Euro 2016?»

Com apenas 20 anos, Kovalenko é o futebolista ucraniano mais talentoso e promissor da sua geração – e, provavelmente, o único playmaker da equipa. Ganhou a titularidade no Shakhtar desde a venda de Alex Teixeira e contribuiu para chegarem às meias-finais da Liga Europa. Caso Fomenko tenha confiança nele em alguma fase do Euro 2016, é capaz de ser uma surpresa muito positiva.

«Que jogador poderá ser uma deceção?»

Deceção é a diferença entre a expectativa e a realidade. A este respeito, Yarmolenko e Konoplyanka, o par que os adeptos ucranianos sempre aguardam para os milagres no ataque, é vulnerável. Ambos são suscetíveis de inconsistência desaparecendo em alguns dos maiores jogos. A temporada errática de Konoplyanka no Sevilha pode jogar contar contra ele, enquanto a necessidade de jogar bem para conseguir uma mudança para uma liga forte, de preferência Inglaterra, pode pesar sobre Yarmolenko. Novamente, é difícil ficar muito desapontado se não se esperar algo especial da equipa como um todo. O principal perigo para a Ucrânia é a incoerência, com pontos de interrogação sobre a natureza exuberante de Yevhen Khacheridi, Denis Garmash e Zozulya e uma questão óbvia sobre o ritmo do defesa central de 33 anos, Oleksandr Kucher, que vê muitos cartões vermelhos.

«Até onde pode a Ucrânia ir no Euro e porquê?»

Um impressionante segundo lugar no Grupo B após vitória sobre a Irlanda do Norte e o resultado necessário contra a Polônia no terceiro jogo. Depois disso, as coisas tornam-se completamente imprevisíveis. A forma mais provável de atingir os oito últimos seria com um empate 0-0 e uma vitória nos penáltis, como a Ucrânia conseguiu frente à Suíça no Mundial 2006. Isso seria motivo para um feriado nacional; se chegar às meias-finais, as celebrações podem até começar antes do jogo.

«Segredos por detrás dos jogadores»

Yaroslav Rakitskiy

Em maio de 2015, Olga Rakitskaya organizou um concerto a que assistiram os companheiros de equipa do marido no Shakhtar bem como as suas famílias. O principal destaque da noite foi o vídeo de sua canção, «Olá, minha cidade» – uma melodia sentimental sobre o desejo de voltar a casa para uma cidade de onde se partiu há muito. A mulher de Darijo Srna, grávida, até chorou; o conto trágico à volta de Donetsk é bem conhecido e o defesa direito croata já se tornou um verdadeiro «Donchanin». Quanto ao próprio Yaroslav, muitos adeptos da equipa nacional ficaram irritados com o facto de ele não cantar o hino nacional antes dos jogos. Olga explica: «O Yaroslav simplesmente está tão focado no jogo. Eu canto-lhe pelo aparelho de televisão.»

Denis Boyko

A segunda escolha para guarda-redes da Ucrânia é um museu da tatuagem em andamento. O jogador do Besiktas aplicou a sua primeira tinta com a idade de 17 anos e, agora, tem tantas tatuagens que quase podia ganhar dinheiro com pessoas interessadas em vê-las. Os significados das imagens nem sempre são claros e Boyko não tem muito interesse em explica-los, mas os nomes de seus pais – Alexander e Irina – podem aparecer ao lado do signo Aquário e, por qualquer motivo, Drácula. A vida de Boyko foi cheia de aventuras, por isso, a mania das tatuagens adequa-se bastante.

Oleg Gusev

Gusev, agora com 33 anos, é um líder de longa data no Dínamo Kiev e na Ucrânia, mesmo que os anos tenham vindo gradualmente a cobrar o seu preço. Ele chegou ao topo vindo do nada – começou no defunto clube da terceira divisão Frenzenets League 99, da cidade de Sumy. Foi o antigo treinador do Arsenal Kiev Vyacheslav Grozny que viu pela primeira vez o seu talento abrindo o caminho para que ele chegasse ao topo no Dínamo. O seu progresso é, na verdade, uma espécie de milagre: Gusev sofreu problemas de saúde em criança e, consequentemente, não foi chamado para o serviço militar – uma circunstância conhecida na Ucrânia e outros estados da antiga URSS como «obter o bilhete branco». Felizmente, isso não o impediu de jogar futebol e a maior ameaça à sua vida veio de um jogador adversário. Esse homem foi Boyko, cujo joelho atingiu Gusev na cabeça quando disputaram um cruzamento no jogo entre o Dínamo e Dnipro em 2014. Gusev caiu e não mostrou sinais de vida. Viu-se que ele tinha enrolado a língua e ele foi salvo pelo jogador georgiano do Dnipro Jaba Kankava, que desobstruiu as suas vias respiratórias e começou a fazer a CPR. Aquele momento de raciocínio rápido ajudou Gusev a recuperar os sentidos e ele escapou com pouco mais do que um pequeno choque.

Denys Garmash

O médio do Dínamo Kiev é um jogador extraordinário, conhecido não só pelas suas qualidades futebolísticas, mas por um temperamento explosivo que pode colocar em apuros tanto ele como a sua equipa. Isso é segredo pouco escondido para os que estão familiarizados com o futebol ucraniano; menos conhecida é a história da sua terra natal, Melovoye. A sua localização faz lembrar o filme franco-italiano de 1958, «La legge è legge», cuja ação tem lugar numa cidade que fica bem na fronteira entre a França e Itália, com muitas situações tragicómicas que se seguem. Melovoye está situada diretamente na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, uma fronteira que atravessa hortas locais, ruas e até mesmo um salão de cabeleireiro local, dois terços dos quais fica na Ucrânia.

«A figura Taras Stepanenko»

A reputação do futebol de Yarmolenko precede-o. Ele é um goleador prolífico e rumores de que irá para a Premier League – se para o Everton ao qual tem sido muitorelacionado ou outro – fazem-se sentir desde há dois anos. Mas Stepanenko talvez seja menos conhecido fora da Ucrânia, mesmo que ele também tem professado uma admiração pelo futebol Inglês no passado.

Stepanenko nasceu perto de Donetsk, mas formou o seu futebol em Zaporizhia, nos arredores. Ele treinou com um clube local, o Torpedo, antes de ingressar na equipa profissional do Metalurg – clube que foi dissolvido em 2015.

Muito antes, porém, Stepanenko já estava longe. O m+edio foi para o Shakhtar, que seguia a sua evolução há algum tempo, e em 2010 levou o seu talento para a Donbass Arena. Quando era criança treinou combate corpo a corpo e isso às vezes tem-se visto em campo: uma abordagem excessivamente física traz seu quinhão de cartões amarelos e vermelhos – a principal falha num jogador excelente.

«Eu estava um pouco nervoso», lembra sobre o dia em que, com apenas 20 anos, se juntou ao Shakhtar: «Uma série de jogadores jovens que vêm para o Shakhtar não vingam e eu não queria ser mais um.» Não precisava de ter-se preocupado. O progresso do Stepanenko no Shakhtar tem sido meteórico, ultrapassando a concorrência de jogadores como Mariusz Lewandowski, Tomas Hubschmann e Igor Duljaj. Exatamente o mesmo aconteceu na equipa nacional, com o veterano condecorado Anatoliy Tymoshchuk entre aqueles da velha guarda forçados a sair para dar lugar a Stepanenko.

«A pessoa que quer conseguir alguma coisa atinge o seu objetivo gradualmente», diz Stepanenko: «A sorte não cai simplesmente sobre a cabeça vinda dos céus.»