Walter Casagrande, antigo avançado do F.C. Porto e da selecção brasileira, surgiu pela primeira vez em público desde que há um ano foi internado para fazer uma cura de desintoxicação de drogas. Numa entrevista à TV Globo, o brasileiro admitiu que era viciado desde a adolescência, mas terá parado quando veio para o F.C. Porto.

«Venho de uma geração em que os ídolos morreram de overdose. Admirava Jim Morrison. Quando comecei, não foi com haxixe, foi com cocaína e heroína. Mais tarde, aqui no Brasil consumia haxixe e cocaína na véspera dos jogos, gostava da sensação de prazer. Mas depois fiquei oito anos longe das drogas, na Europa».

Ora o primeiro clube que Casagrande representou na Europa foi precisamente o F.C. Porto, na época 86-87. Em conversa com o Maisfutebol Domingos Gomes, chefe do departamento médico do clube azul e branco na altura, garante nunca ter tido conhecimento que o avançado brasileiro era viciado em droga até há pouco tempo.

«Se ele consumia drogas no Brasil, deixou de o fazer quando chegou ao F.C. Porto porque nunca detectámos nada nos controlos. Mas se o fez foi por iniciativa dele, porque nós nunca soubemos disso», referiu. «Mas é normal que o tenha feito porque já nessa altura o controlo que fazíamos era muito apertado. A própria UEFA realizava controlos regulares, muito diferente do que aconteceria no Brasil».

«Sou um cara pacato, mas tenho um poder de autodestruição enorme»

Na entrevista, Casagrande contou a sua história. «Eu injectava-me a chorar, sabia que não podia fazer aquilo, mas não resistia», disse. «Pensava que podia parar, mas a dependência química é progressiva e fatal. Vou ter que conviver com ela até o fim da minha vida, mas nunca mais quero ter uma overdose à frente de um filho de 12 anos».

Em 2006 chegou a fazer uma cura de desintoxicação por vontade própria, mas correu mal. No regresso a casa, quando estava a ver o filme Ray, sobre Ray Charles, que foi também viciado em heroína, Casagrande teve uma recaída. «Vi o personagem na televisão e pensei: quero injectar-me agora mesmo». Voltou a cair na dependência.

Em 2007, por ordem do filho Victor Hugo, de 22 anos, o brasileiro foi internado à força. Durante oito meses, não teve contacto com familiares ou amigos. Há duas semanas teve alta e desde então não se habituou às pessoas. «Tenho que ir devagar. Só saí de casa para ver um espectáculo da Rita Lee e para vir dar esta entrevista». No fim uma frase que diz tudo: «Sou um cara pacato, mas tenho um poder de autodestruição enorme».