Contradições entre testemunhas designadas pela acusação marcaram a sessão desta quarta-feira do julgamento do «caso Euroárea», que tem como principal arguido o ex-presidente do Benfica Vale e Azevedo.
Este julgamento, no qual Vale e Azevedo é acusado de branqueamento de capitais, falsificação de documentos e peculato, refere-se à alegada venda ilícita de terrenos da urbanização Sul do Benfica. António Correia e Sérgio Almeida Branco foram os administradores da Euroárea arrolados como testemunhas pelo Ministério Público e constituídos assistentes, mas os seus depoimentos não foram totalmente coincidentes.
António Correia disse ter visto Vale e Azevedo assinar os dois cheques na altura da celebração de um contrato de promessa de compra e venda entre o Benfica e a Euroárea. Mas, Sérgio Almeida Branco referiu ter sido José Capristano (na altura vice-presidente do Benfica) a assinar os dois cheques e, quando questionado, afirmou não ter visto Vale e Azevedo a assiná-los.
Outra das contradições consiste na presença de um notário no escritório de Vale e Azevedo onde foi celebrado o contrato. Sérgio Almeida Branco disse que esteve presente um notário ou uma notária (que não conseguiu precisar), enquanto António Correia disse precisamente o oposto. Os testemunhos dos dois administradores da Euroárea também não coincidiram no número de pessoas presentes na sala onde foi celebrado o contrato. António Correia afirmou também não se lembrar de que a comunicação social tenha tido conhecimento do contrato nos dois dias seguintes à sua assinatura, mas Sérgio Almeida Branco admitiu recordar-se de ter sido elaborado um comunicado divulgado depois por alguns jornais
A sessão ficou ainda marcada por um pedido de anulação, feito pelo advogado de Vale e Azevedo, de todos os actos praticados desde que o juiz Ricardo Cardoso decidiu, em Maio, manter o ex-presidente benfiquista em prisão preventiva. O advogado do arguido, José António Barreiros, considerou haver uma sobreposição de competências, já que a decisão do juiz Ricardo Cardoso (a quem inicialmente foi atribuído o processo) aconteceu depois de estar formado um novo colectivo de juízes e quando já estava marcada a data do julgamento.
A presidente do colectivo de juízes, Ana Wiborg, rejeitou a nulidade suscitada por José António Barreiros. À saída da sessão no Tribunal de Monsanto, José
António Barreiros admitiu a possibilidade de haver uma anulação do julgamento, se o Tribunal Constitucional revogar todos os actos depois da decisão do juiz Ricardo Cardoso. «Neste momento há um colectivo de juízes a julgar e outro que despacha outras questões, como a prisão preventiva. Para mim é uma situação nova. Não vejo que a lei o admita», disse José António Barreiros em declarações citadas pela agência Lusa.
O julgamento do caso Euroárea prossegue segunda-feira à tarde, no Tribunal de Monsanto.