Vinte e quatro dias depois dos incidentes de Guimarães, Jorge Jesus continua sem ser ouvido pela Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga de Clubes. O treinador do Benfica, recorde-se, perdeu a cabeça após o jogo na Cidade-Berço, realizado a 24 de setembro, e envolveu-se em cenas feias com agentes da PSP.

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Maisfutebol contatou o advogado do treinador, Luís Miguel Henrique, para saber em que data o técnico poderá ser inquirido. O causídico não soube responder.

Da parte da Liga de Clubes, o departamento de comunicação também não nos pôde elucidar. A informação não circula e o tema surge envolvido em secretismo. Paulo Gonçalves, soubemos, é o dirigente do Benfica encarregue da gestão deste dossier. O clube também nada adianta.

Os únicos dados confirmados prendem-se com a audição de algumas testemunhas de defesa de Jorge Jesus, esta quarta-feira.

Raul José (treinador adjunto do Benfica), Shéu Han (dirigente) e Manuel Sérgio (conselheiro do técnico) estiveram nas instalações da Liga a prestar declarações no âmbito do inquérito disciplinar levantado a Jesus.

À margem desta ação do foro desportivo, corre no Tribunal de Guimarães um processo-crime. Fonte da PSP disse ao Maisfutebol que o auto enviado para tribunal descreve o que é possível ser visto nas imagens televisivas, ou seja, o seguinte: «Jesus a dar uma primeira pancada no braço do polícia. Uma segunda na cara, na qual perde o relógio. Depois volta a bater no braço do polícia.»

O enquadramento

O que se poderá esperar deste processo? Quanto tempo pode demorar e que riscos corre o treinador do Benfica?

Tendo em conta casos anteriores com o atual treinador do Benfica, como o que o opôs a Luís Alberto, em 2011, poderíamos esperar um processo a arrastar-se por alguns meses.

O presidente do F.C. Porto, Pinto da Costa, comentou recentemente ao jornal «O Jogo» que não se admirava se «o caso só ficasse resolvido lá para o verão».

A verdade é que não há uma data limite que se possa estabelecer, mas há prazos que os regulamentos prevêem para estas situações.

Olhemos para os factos: o caso ocorreu a 24 de setembro passado. No dia seguinte, a Comissão de Instrução e Inquéritos (CII) da Liga instaurou um inquérito ao treinador do Benfica, aos delegados Paulino Carvalho e Carlos Santos e aos quatro elementos da equipa de arbitragem: Bruno Esteves, Mário Dionísio, Rui Teixeira e Manuel Oliveira. No caso dos árbitros e dos delegados, o processo deve-se a indícios de omissão do dever de informação nos respetivos relatórios.

Por enquanto, o caso está apenas da CII, uma vez que o Conselho de Disciplina da FPF remeteu os elementos para a comissão de instrução da Liga, que será, digamos, a primeira instância.

O artigo 208.º do Regulamento Disciplinar da Liga prevê, no seu ponto 3, alínea b), que «compete à CII dirigir a instrução dos processos disciplinares, mesmo quando mandados instaurar por outro órgão ou entidade».

Mais de três semanas depois, estamos ainda na fase de audição de testemunhas. Só depois dessa fase se concluirá a instrução, com eventual instauração de processo, já com nota de culpa ao treinador.

Só a partir daí fará sentido antecipar possíveis sanções. A questão central será saber se do processo decorrerá uma acusação de agressão a agentes de segurança, apenas uma tentativa de agressão ou mesmo só um incitamento à indisciplina.

Os regulamentos disciplinares de Liga e FPF prevêem sanções para estas três situações, numa moldura que poderá ir de 18 meses a três anos ( nos artigos 131 e 132 do Reg. Disciplinar da Liga, estão definidas as sanções para agressão, tentativa de agressão e incitamento à indisciplina).

Os prazos

Estamos, para já, na fase inicial da instrução. Jorge Jesus ainda nem sequer foi ouvido (cabe ao instrutor chamá-lo), mas já indicou testemunhas de defesa.

A existir acusação, o próximo passo é do Conselho de Disciplina da FPF, que tem dois dias para notificar o arguido.

Mesmo que seja o CD da FPF a abrir o processo disciplinar, ele volta à CII, para instrução.

A partir daí, dependerá muito do número de testemunhas a chamar, sendo que pelo meio há prazos de garantia para contestação.

Tudo somado, até haver uma sentença final no plano desportivo poderá durar perto de dois meses. Ou mais, nestas coisas nunca se sabe e depende também da forma como no sigilo das justiça desportiva se procedem às diferentes diligências.