Total desacordo com Valentim Loureiro e com as recentes medidas da Liga de Clubes no âmbito do «caso Mateus». Assim se pode sintetizar a longa conferência de imprensa de Cunha Leal, ainda director executivo da Liga, que ainda pediu a imediata demissão de Valentim Loureiro das suas funções. O dirigente mostrou incredulidade diante da decisão de suspensão de dois jogos relativos à 1ª jornada dos dois campeonatos profissionais e defendeu que a mesma não poderia ter acontecido em nome do «interesse público relevante e prevalecente».
O dirigente historiou todos os passos do processo, iniciado em Janeiro, e sublinhou que o mesmo nunca deveria ter saído do âmago dos tribunais desportivos, realçando que nesta última fase, em que o Gil Vicente recorreu ao Tribunal Administrativo de Lisboa, nada impedia Valentim Loureiro de fazer cumprir as decisões do CD da Liga e do CJ da FPF. «A obrigação da Liga era manter a normalidade das competições. Ao abrigo dos regulamentos, era imperioso emitir uma resolução fundamentada tendo por base o grave prejuízo público que a suspensão dessas duas partidas poderia causar.»
Ainda relativamente à providência cautelar interposta pelo clube minhoto nos tribunais civis, Cunha Leal vincou que a mesma ainda não teve qualquer decisão final. «O Gil Vicente interpôs um recurso à decisão do CJ da FPF, junto do Tribunal Administrativo de Lisboa. No entanto, sobre isso não há qualquer decisão final, a não ser a suspensão das decisões dos tribunais desportivos. Ou seja, a Liga revogou decisões da sua CD, quando só o poderia ter feito se o Tribunal Administrativo tivesse proferido uma decisão final a favor das demandas do Gil Vicente. O que não sucedeu.»
Número dois da Liga defende implicitamente descida do Gil
Entre muitas críticas e explicações mais ou menos complexas para o comum leigo em matéria judicial, Cunha Leal pediu implicitamente a despromoção do Gil Vicente. «Os regulamentos são claros e o recurso aos tribunais civis é sancionado com a despromoção. Nesta matéria houve outros clubes que quiseram inscrever jogadores em iguais circunstâncias e não o fizeram. O Paços de Ferreira foi um deles», confidenciou, antes de pedir a «imediata demissão» de Valentim Loureiro do cargo de presidente da Liga. «O que ele fez é mau demais para o futebol português.»
«Se a decisão da CD da Liga poderia levantar dúvidas, devido aos enormes volte-faces que houve ao longo do processo, a decisão do CJ da FPF teria que ser respeitada, já que este órgão decidiu sem controvérsia e por unanimidade», declarou, fazendo questão de reforçar que, desde o início deste caso, nada o moveu contra o Gil Vicente. «Inicialmente, não registei o contrato do jogador Mateus porque não o podia fazer. Depois, o Tribunal de Braga mandou registar a inscrição provisoriamente e eu registei. Mais tarde, o tribunal mandou cancelar a mesma inscrição e eu cancelei-a.»
Relativamente a uma possível punição da FIFA aos clubes portugueses, Cunha Leal teme que as mesmas aconteçam em breve. «A FIFA defende a regra do não recurso aos tribunais e é muito dura nas sanções. Temo que haja sanções aos clubes nacionais e é público que a FIFA já recomendou à FPF que actue sobre o recurso do Gil Vicente aos tribunais civis.»
As recentes eleições na Liga também tiveram direito a comentários por parte de Cunha leal. «Se calhar daqui a um ano, ainda estamos todos por cá. Todos menos eu. Solicitei ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral que a tomada de posse fosse feita no mesmo dia das eleições, mas ele não marcou qualquer data porque o Presidente da Liga assim não o quis.»
Por tudo isto, o responsável da Liga insta a FPF para que «chame a si as responsabilidades» na resolução do caso e «agarre» a condução do futebol português. «Não acredito que a direcção da federação tomasse esta decisão», referiu, concluindo com mais uma acusação.