O internacional português Rogério Matias criticou esta terça-feira a decisão da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) ao recusar a sua inscrição pela Académica. O defesa promoveu uma conferência de imprensa, em Lisboa, para lembrar que qualquer pessoa tem direito ao trabalho e que se sente prejudicado com a situação, aos 33 anos. Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores, avisa que o caso do futebolista pode vir a ter repercussões internacionais, a uma escala semelhante a Bosman. Matias vai recorrer à FIFA.
«O problema é mesmo o direito ao trabalho a que um jogador de futebol também tem», começou por referir Evangelista, antes de explicar: «O Rogério e o Standard Liège rescindiram contrato em Maio por mútuo acordo. Ele até podia ter rescindido por justa causa, mas optou por chegar a um entendimento.» Desta forma, e segundo as leis da FIFA, o jogador fica apto para negociar com qualquer clube e pode ser inscrito em qualquer altura do ano, não tendo a obrigatoriedade de o fazer nas duas janelas de transferências: a primeira, desde o fim da época até 31 de Agosto, e a segunda, durante o mês de Janeiro.
Como tal, e seguindo as normas, a Académica demonstrou interesse no jogador, já depois da primeira janela de transferências ter fechado. Matias treinou no clube, recebeu o aval da equipa técnica, passou nos exames médicos e até teve direito a casa em Coimbra. Os «estudantes» solicitaram à LPFP a inscrição do futebolista, mas esta foi recusada. A Académica, podendo contratá-lo no mercado de Janeiro, voltou atrás e já não o quis. «Estava tudo tratado para assinar. O que mais me revolta é poder ser inscrito em qualquer país da Europa menos no meu. E o pior é que não tenho direito nem ao subsídio de desemprego nem ao próprio emprego», explicou o lateral, que pretende que o seu caso faça jurisprudência. «Espero que os jogadores fiquem protegidos neste tipo de situações», acrescentou.
Para trás fica a Académica. «Queriam-me já e entendo que não me queiram mais tarde. Não fiquei triste com o clube porque percebo a posição do presidente e das pessoas», adiantou. Joaquim Evangelista explicou, depois, que o «importante é que a Lei da FIFA permite a inscrição do Rogério agora». E defendeu que Portugal pode ser o futuro do antigo internacional: «É uma violação do direito ao trabalho. O Rogério, como internacional, quer reagir porque se sente lesado. É um jogador que deu muito ao país e gostava de o ver a jogar aqui, porque há mais estrangeiros no campeonato do que portugueses.»
Por fim, o presidente do Sindicato dos Jogadores informou que vão agir imediatamente, actuando a dois níveis: nacional e internacional. «Ao nível nacional, junto da Federação Portuguesa de Futebol, com o envio de um recurso, e dos tribunais competentes, tendo em vista a declaração de ilicitude do regulamento da LPFP e das normas da FIFA em relação às janelas de transferências. Queremos fazer ainda um apelo à solidariedade activa de todos os jogadores. No plano internacional, vamos interpor um recurso à FIFA», confirmou.
Joaquim Evangelista disse ainda que «já vários países colocaram a hipótese de anular as duas janelas de transferências» e que é através deste tipo de reacções que mais tarde se molda o futuro. Não afastou, por outro lado, que se trata de um novo «caso Bosman»: «Caso Matias já o é e pode vir a ter uma dimensão internacional muito grande.»