Sintoma nítido de um problema mais vasto, o da relação cada vez mais conflituosa entre clubes e selecções, o caso Cristiano vale como símbolo de um futuro que já esteve mais distante. Um tempo em que as selecções nacionais só poderão contar com os seus melhores jogadores se, e quando, os clubes estiverem de acordo.
A Federação está escaldada pela gripe oportunista que levou Cristiano Ronaldo a falhar o particular com o Liechtenstein, para jogar um particular pelo Real Madrid três dias mais tarde. Por isso, exige a presença do jogador na concentração esta quarta-feira, a data limite prevista pelos regulamentos da FIFA.
O Real Madrid está escaldado pela lesão de Cristiano Ronaldo com a Hungria e receia que a Federação - e, por arrastamento, o seu departamento médico - faça o que não deve. Isto é, ponha Cristiano Ronaldo a jogar com a Bósnia, mesmo não tendo condições para o fazer.
Simplificando: está irremediavelmente instalada a desconfiança. De um lado e de outro, parte-se do pressuposto de que a outra parte está, ou poderá estar, a agir de má-fé. E Cristiano Ronaldo, emparedado entre as legítimas angústias patronais e o estatuto de capitão da Selecção, continua, como em Agosto, sem tomar uma posição pública sobre o assunto - que seria por certo determinante para acabar com todo o ruído inútil.
Assim sendo, como em todos os litígios em que as partes fecham a porta a um entendimento, resta agir rigorosamente by the book. No caso da Federação, isto vale por exigir a aplicação à letra do artigo 1º do anexo da FIFA às regras de estatuto e transferências, relativo a libertação de jogadores para as associações nacionais. Depois, feita a avaliação, cumpre aplicar o bom senso e focar no essencial: preparar os jogos com a Bósnia, sem o fantasma de um Cristiano Ronaldo salvador da pátria a dominar as conversas.