Não há muitos jogadores no futebol português com um curriculum mais vasto do que César Peixoto. O médio que joga, atualmente, no Gil Vicente é um colecionador de troféus nato. Ganhou no F.C. Porto, ganhou no Sp. Braga, ganhou no Benfica. Aos 32 anos, parece estar na curva descendente, mas nada parece adquirido para o esquerdino que diz não ter «espírito de emigrante» e que lamenta o pouco que se aposta no futebolista português por estes dias.

Liga dos Campeões, Taça UEFA, Intercontinental, Intertoto, campeonatos, Taças de Portugal, Supertaças, Taças da Liga. Há de tudo isto no seu currículum. Acha, por isso, que merecia outro tipo de consideração porque continua a não ser um jogador consensual?

Tenho muitos títulos, venci títulos em quase todos os clubes onde joguei e tenho-me apercebido, ao longo da minha carreira, que não dão valor a isso. Se calhar acham que foi só sorte. Muitas vezes dizem que tive padrinhos o que é totalmente mentira. Nunca tive, subi a pulso na minha carreira e se pararem para pensar vão perceber isso. Joguei com os melhores jogadores portugueses, fui treinado pelos melhores e fui sempre opção para eles. Sinto que não dão o devido valor ao que consegui no futebol, mas continuo a jogar como se nada fosse e durmo de consciência tranquila.

Mas sente-se injustiçado?

Sim, sinto-me injustiçado, por vezes. Até pela comunicação social. Custa-me ler algumas crónicas nos jornais. Fico a pensar que não viram o mesmo jogo que eu. Respeito as opiniões, claro, mas acho que também têm de tentar ser mais coerentes. Acho que não vão com a minha cara, se calhar. Mas, como disse, é algo que não me tira o sono nem a confiança para jogar.

Olhando para trás, qual foi a melhor fase da sua carreira até ao momento?

A minha carreira foi de altos e baixos. Tive fases muito boas mas também muitas lesões. O período que passei no F.C. Porto foi maravilhoso, porque ganhámos praticamente tudo o que havia para ganhar, com uma excelente equipa. Depois tive também um período muito bom no Sp. Braga, onde sentia que era influente na equipa e ganhámos a Taça Intertoto. E ainda a fase do Benfica, claro, sobretudo o ano em que fomos campeões. O Benfica já não ganhava há alguns anos, foi maravilhoso ser campeão lá. Mesmo a festa em si, foi enorme. São histórias marcantes.

Acaba por ser um jogador que fez praticamente toda a carreira em Portugal, com exceção de uma pequena passagem pelo Espanhol. E isso não o impediu de somar títulos. Por que não tentou mais vezes o estrangeiro? Foi opção?

Adorei Barcelona, qualquer pessoa, aliás, gosta daquela cidade. Mas praticamente não joguei por causa de uma lesão. Fiz 20 minutos num amigável e estive oito meses sem treinar, praticamente. Ora, estar fora de casa e lesionado ainda era pior. Como nunca tive espírito de emigrante optei por rescindir o contrato e voltar para Portugal.

Gostava de ver os clubes portugueses a apostar mais no produto nacional?

Sinto que não se aposta no jogador português. Somos um país pequeno que, nos últimos anos, produziu dois jogadores que foram considerados os melhores do mundo. Os nossos grandes jogadores vão para fora, até os jogadores médios, por assim dizer, vão para fora. Não damos valor ao que temos. Se vêm cá comprar é porque são bons e é preciso saber rentabilizá-los.

Com tanto título ganho, o que faltou na sua carreira?

Faltou-me ter mais sorte no capítulo das lesões. Tenho a certeza que se não tivesse lesões tão graves, as coisas teriam sido diferentes. Olhe, se calhar teria de ter o tal espírito de emigrante que digo que não tenho. Gostava de ter sido mais vezes internacional, mas acho que isso também se deveu às lesões que me travaram em fases onde poderia lá chegar. Gostava de ter representado mais vezes a seleção, mas a vida é assim.