Ainda não foi desta que Portugal voltou a ter um representante no último quarteto de ases. Esta foi a noite em que o Benfica esteve mais perto do que alguma vez tinha estado, na era Champions, de chegar a uma meia-final da Liga dos Campeões, algo que, ainda na versão Taça, conseguiu pela última vez em 1990. Ainda assim, apesar da réplica intensa dos encarnados, o Bayern, que Guardiola transformou numa uma autêntica máquina de guardar a bola, confirmou, nos números e na tradição, uma superioridade crónica diante de equipas portuguesas - que já não tem exceção desde a final de Viena e o calcanhar de Madjer, há 29 anos. E se o Bayern é papão dos portugueses com quem se cruza, que dizer de Thomas Müller, que com o golo na Luz passou a fazer o pleno das equipas portuguesas que defrontou?

Mas nem só na Luz se viveu uma grande noite europeia: no Vicente Calderón confirmou-se a maldição dos campeões europeus, que desde 1990 não conseguem defender o título. E confirmou-se também a eficácia da fórmula Simeone - que não podia ser mais distante da escola de futebol aplicada pelo Bayern e pelo Barcelona. O At. Madrid voltou a deixar os culés pelo caminho, e a deixar o seu ataque em branco, tal como sucedera há dois anos. E o secar a tripla MSN foi apenas parte de uma proeza, que acentua o estatuto do técnico argentino como um autêntico fazedor de milagres - ao mesmo tempo que prova não ser obrigatário assumir em permanência a iniciativa de jogo para se conseguir resultados. Não há um caminho único para o sucesso, e a composição destas meias-finais, com quatro equipas de identidades profundamente distintas, é a melhor prova disso mesmo.

91%- se há traço de identidade que define este Bayern Munique é a qualidade de passe. Na Luz, voltou a ser assim: a equipa de Guardiola acertou 643 dos 707 passes tentados, e manteve a sua eficácia média desta campanha da Liga dos Campeões. O Benfica, pelo contrário, por força da excelente pressão defensiva dos alemães, foi obrigado a baixar significativamente a qualidade de passe: em média, os encarnados acertavam 83% nos jogos da Champions, nesta quarta-feira foram obrigado a cair para 72%.

26- os jogos feitos pelo Bayern Munique contra equipas portuguesas, com um saldo inequívoco: 15 vitórias alemãs, 9 empates e apenas duas derrotas – com o FC Porto, uma delas a valer o primeiro título europeu dos dragões. Contra o Benfica, este foi o terceiro empate do Bayern na Luz, a que se juntam cinco vitórias – quatro em Munique e uma em Lisboa, em 1995. Além dos três grandes, o Bayern já defrontou Boavista, Belenenses, V. Setúbal e Sp. Braga – a única equipa portuguesa que não perdeu com o papão, tendo empatado no confronto solitário para a Taça UEFA, em 2007/08.32%- a percentagem de posse de bola que o Benfica conseguiu ter neste segundo jogo – menor do que a conseguida no jogo de Munique, onde além de ter mais tempo a bola em seu poder, fez mais passes, e com maior eficácia (76% de acerto contra 72% na segunda mão). Em relação a esse primeiro jogo, o Benfica só melhorou claramente num item: o dos remates que chegaram à baliza (cinco, contra apenas um na primeira mão). Ainda assim, essa não foi a percentagem mais baixa de um jogo do Benfica em casa para a Champions: esse registo foi imposto pelo Barcelona de Tito Villanova, em 2012/13, quando os culés venceram por 0-2 e só deixaram 25% de posse de bola aos encarnados.

6 golos- o total assinado por Thomas Müller no confronto com equipas portuguesas. Ao marcar o segundo do Bayern na Luz – que efetivamente matou a eliminatória – o avançado alemão fez o pleno às equipas portuguesas com que se cruzou: três golos à seleção, no Mundial 2014, um nos 7-1 ao Sporting, no que foi o seu jogo de estreia na Champions, em 2009 e um ao FC Porto nos 6-1 da época passada. Já o chileno Arturo Vidal, carrasco dos encarnados nestes quartos-de-final, com um golo em cada jogo, nunca tinha marcado a equipas portuguesas – e já tinha sido eliminado pelos encarnados, quando representava a Juventus.26 anos- o tempo que passou desde a última vez que um campeão europeu defendeu o título com sucesso: foi o Milan, de Arrigo Sacchi, a consegui-lo em 1989 e 1990 (neste último caso, vencendo o Benfica na final). Daí para cá, ninguém conseguiu vitórias consecutivas, o que equivale a dizer que não há um bicampeão de facto em toda a era Champions, iniciada em 1992/93.

735 dias- ou dois anos e quatro dias: foi o período de tempo em que o Barcelona marcou sucessivamente nos seus 22 jogos para a Liga dos Campeões. A última vez que os catalães tinham ficado em branco na Europa já tinha sido graças à fórmula Simeone: a 9 de abril de 2014, na segunda mão dos quartos-de-final, diante do At. Madrid. Nessa ocasião, os colchoneros apuraram-se com uma vitória por 1-0.

452 minutos- o jejum goleador de Messi, que não marca pelo Barcelona há cinco jogos oficiais (três para a Liga e dois para a Champions). Desde 2011 que o argentino não ficava tanto tempo sem fazer o gosto ao pé pelo catalães – embora pelo meio registe um golo pela seleção do seu país, diante da Bolívia.

7- o total de países que conseguiram chegar às meias-finais da Liga dos Campeões no século XXI. Portugal (FC Porto, em 2004) e Holanda (PSV, em 2005) fizeram-no apenas por uma vez. A França conseguiu-o em duas ocasiões (Mónaco e Lyon). A parte de leão é dividida pelos quatro mais poderosos: Itália (8), Alemanha (10), Inglaterra (19) e Espanha (23). Real Madrid e Barcelona (nove meias-finais cada) são os dominadores do século XXI, seguidos de Chelsea e Bayern Munique (7). Espanhóis e ingleses brilham pela diversidade: já houve seis clubes de cada um destes países a chegar a esta fase da competição. O Manchester City é o mais recente integrante deste clube de elite, que de 2000/01 para cá contemplou apenas 23 equipas.

Presenças nas meias-finais desde 2000/01:

  • Real Madrid e Barcelona (9)
  • Chelsea e Bayern (7)
  • Man. United (5)
  • Milan (4)
  • Liverpool (3)
  • At. Madrid, Arsenal, Inter e Juventus (2)
  • FC Porto, PSV, Mónaco, Lyon, Villarreal, Valencia, Corunha, Leeds, Man. City, Schalke, Leverkusen, Dortmund (1)