Depois de ter eliminado o FC Porto na Liga Europa 2015/16 e ter vencido o grupo da Liga dos Campeões deste ano que incluía o Sporting – em ambas as ocasiões com vitórias em Portugal -, o Borussia Dortmund tem agora encontro marcado com o Benfica nos oitavos de final da «prova milionária».

A realizar uma campanha irregular na Bundesliga, a equipa de Thomas Tuchel vem de uma derrota no reduto do último classificado, Darmstadt, alimentando as críticas ao rendimento da equipa e aumentando a importância do duelo com o Benfica no debate relativamente ao futuro do técnico.

Se na primeira metade da época o Dortmund apresentou-se preferencialmente em 4x1x4x1, esquema utilizado nos dois jogos com o Sporting, nas últimas semanas a equipa tem derivado para um 3x5x2 (ou 3x4x2x1).

Onze base (em 4x1x4x1 ou 3x5x2)

A mudança não é radical, sobretudo em ataque posicional, até porque a equipa já estava habituada a apresentar uma saída a três, recorrendo ao recuo do médio mais defensivo ou com um dos laterais a ficar em linha com os centrais. 

Dortmund frente ao Legia, com o 4x1x4x1 a transformar-se em 3x6x1

Em todo o caso a alteração introduzida por Thomas Tüchel na vitória sobre o RB Leipzig, equipa-sensação da Bundesliga, e mantida desde então, tem o objetivo de reforçar o corredor central, explorado de forma sagaz. A ideia seria também estancar a fragilidade defensiva da equipa (36 golos sofridos), mas para já esse efeito não se tem visto (em alguns aspetos, como no controlo da profundidade, a equipa até parece mais descoordenada). 

Dortmund em 3x5x2 com o RB Leipzig

Se a estrutura pode variar, a mentalidade é a mesma que FC Porto e Sporting conheceram: o Dortmund gosta de comandar o jogo, procurar pontos de rutura na estrutura defensiva do adversário e depois acelerar o jogo de forma vertiginosa (66 golos em 30 jogos, 52 dos quais em ataque organizado, o que atesta a tendência para mandar nos jogos).

Fiel a um futebol apoiado a partir da retaguarda, mesmo sob pressão, o Dortmund é muito sagaz a explorar o corredor central, criando muitas linhas de passe dentro da muralha defensiva adversária, seja qual for o esquema tático. Os centrais têm responsabilidade acrescida na construção e «carta branca» para avançar se não surgir ninguém a tapar o caminho.

Julian Weigl destaca-se desde logo pela forma como cria linhas de passe nas costas da primeira linha de pressão. Refira-se, a esse propósito, que a exibição do jovem médio em Alvalade podia servir de "manual para um trinco moderno" [veja em vídeo].

Weigl recebe a bola nas costas do avançado que está a fazer a cobertura ao portador da bola (Bas Dost) e assim foge ao outro avançado, que para o acompanhar tem de percorrer uma distância maior.
Ao livrar-se várias vezes da cobertura do segundo avançado, em Alvalade, Weigl atraiu muitas vezes o «8» do Sporting (Bruno César), libertando um dos médios interiores (neste caso Gotze).

Tuchel continua fiel a dois médios interiores, que procuram constantemente receber a bola entre linhas, ou esboçar movimentos de rutura no espaço entre central e lateral.

Passe vertical à procura do médio interior
Aubameyang faz movimento de aproximação ao portador da bola e Gotze explora o espaço nas costas

Indisponível para o jogo da Luz devido a lesão, Götze tem estado longe do nível exibicional com que saiu (apenas dois golos e duas assistências), e com Shinji Kagawa também aquém do esperado (quatro golos e duas assistências), o português Raphael Guerreiro (quatro golos e três assistências) tem sido uma boa opção para este papel, sem esquecer o “especialista” Gonzalo Castro (três golos e seis assistências).

Se em 4x1x4x1 também é pedido aos extremos que apareçam frequentemente no corredor central, trocando até com os interiores, em 3x5x2 o técnico deixa a largura entregue a dois alas e assume um reforço da zona central. É por isso que o irreverente Dembelé (cinco golos e doze assistências) tem aparecido mais por dentro nos últimos tempos (reveja a segunda imagem do artigo), com Reus a jogar mais como segundo avançado e empenhado em compensar o tempo perdido por lesão (seis golos e quatro assistências…em onze jogos).

As características destes jogadores fazem também com que o Dortmund apareça muitas vezes em 3x4x2x1, com Raphael Guerreiro próximo de Weigl e Dembelé (ou Emre Mor) quase em linha com Reus, no apoio a Aubameyang. 

O (já analisado) reforço do corredor central promove a habitual reação forte à perda de bola, com pressão imediata, de forma instintiva e quase anárquica. Se o adversário for lento a elaborar a transição, vê-se "asfixiado" no seu meio-campo defensivo, mas quando tem capacidade para fugir da zona de pressão começa a abrir ferida num Dortmund descompensado.

Vários jogadores «saltam» para a pressão sobre o portador da bola

As bolas paradas têm um peso algo significativo nos golos sofridos, já que cinco foram de canto e quatro na sequência de livres indiretos.

Curiosamente, o Borussia Dortmund não tem qualquer golos sofrido de livre direto, mas também não tem nenhum marcado, ainda que conte com alguns jogadores competentes na matéria, como Raphael Guerreiro, Reus ou Castro.

A FIGURA:

Pierre-Emerick Aubameyang: a influência de Weigl é espantosa, o impacto do regresso de Reus é notório, mas a grande figura do Borussia Dortmund é o avançado gabonês. Sozinho na frente ou com Reus por perto, Aubameyang apresenta argumentos para qualquer oposição. Seguro a jogar de costas para a baliza, veloz a explorar a ala (sobretudo a direita), acutilante a explorar as costas da defesa e letal na área. Soma 21 golos apontados (e três assistências) em 26 jogos.