* em Londres

Para quem tenha crescido a invejar a paixão, intensidade e criatividade que os adeptos ingleses põem nos cânticos de apoio à sua equipa, ver um jogo europeu do Chelsea na zona nobre de Stamford Bridge pode tornar-se uma experiência algo desconcertante. Nos camarotes, entre a entrada e o prato principal do jantar requintado no pré-jogo, as conversas em redor são sobre quase tudo, menos futebol. E até dois minutos antes do pontapé de saída, é patente a falta de tensão e expectativa tão comum em ambientes menos seletos.

Talvez seja preconceito, mas apetece duvidar que boa parte dos ocupantes das suites com nomes de antigas glórias do clube saibam quem foram os Vialli, Bonetti, Wise, Zola ou Di Matteo que os acolhem. Sinal dos tempos, e de um clube que se reinventou já em pleno século XXI, a presença naquela zona do estádio, em traje formal, tem bem mais de ritual de status, e de localização na escala social, do que de partilha de emoções.

Terá sido mera sugestão a partir do ambiente, mas foi fácil imaginar, nesta quarta-feira, que a equipa de José Mourinho se tivesse deixado contagiar, por momentos, pela frieza algo blasé dos seus adeptos VIP, para assinar outra falsa partida no seu grupo da Liga dos Campeões. Menos embaraçoso do que a derrota de há um ano, com o Basileia, o empate (1-1) com o Schalke, primeiro jogo sem vitórias dos «blues» nesta época, teve, ainda assim, algo de anticlímax, bem patente na expressão pesada de Mourinho perante os jornalistas no final do jogo. «Eles estão contentes e nós estamos frustrados. O ponto é bom para eles e não tanto para nós. Mas é um ponto para cada, e dois pontos que os teus adversários também não conseguiram somar», resumiu o técnico português, sem esconder que esperava mais.

Nem a embalagem de um arranque perfeito na Premier League, nem o mau início de época do Schalke, agravado pela razia na habitual linha defensiva dos alemães, puseram o Chelsea ao abrigo de um adormecimento que se manifestou entre o final da primeira parte e a entrada dos últimos 20 minutos.  Coroando um início em que o Schalke praticamente não conseguiu sair a jogar, o golo madrugador (11 minutos) de Fábregas – precedido de falta do catalão num desarme sobre o aniversariante Mayer, e prolongado por uma fantástica assistência de Hazard – pareceu ser o ponto de partida para outra vitória tranquila dos «blues». 

Com Drogba a titular na vaga de Diego Costa – Mourinho explicaria depois que o internacional espanhol tem problemas musculares que não lhe permitem jogar de três em três dias – o Chelsea mandou na primeira meia hora, com Ivanovic em grande plano, no apoio ofensivo, a oferecer a Fábregas um primeiro «match point», que o catalão desperdiçou com um remate por cima (37 minutos). Mas o aproximar do intervalo deixou os primeiros sinais de que os alemães, bem apoiados por um público, esse sim, exuberante, tinham condições de discutir o resultado – mais ainda quando o excelente Draxler começou a comandar as operações e sujeitou Courtois a dois avisos.

No recomeço, a pressão da dupla Ramires e Matic perdeu intensidade, as subidas de Ivanovic tornaram-se mais espaçadas e o Chelsea ficou uma equipa menos objetiva, a exemplo dos números de driblador de Hazard, agora inconsequentes. Ainda assim, a noite discreta de Drogba esteve quase a ser resgatada, quando o marfinense conseguiu um dos raros momentos «à antiga» e, na cara de Fährmann, rematou cruzado, a centímetros do poste (60 minutos).

Foi o segundo «match point» desperdiçado pelo Chelsea, e esse custou caro: dois minutos mais tarde, a aparente descontracção dos «blues» ficou patente na forma como Ramires se encolheu para não fazer uma falta para cartão amarelo. Draxler, confirmando um talento acima da média, ziguezagueou pelo meio e inventou uma linha de passe para Huntelaar, que bateu o seguríssimo Courtois com um remate rasteiro.

A partir daí, o Chelsea sacudiu a sonolência, em especial com as mexidas de Mourinho: Oscar, Rémy e Diego Costa foram acentuando a pressão, que nos últimos dez minutos se transformou num cerco épica à baliza de Fährmann. Por duas vezes, em remate de Rémy e Terry, a bola foi salva sobre a linha, em outras duas (83 e 85 minutos) Hazard passou a centímetros do golo redentor, mas já era tarde. 

A falta de intensidade do Chelsea não terá durado mais de 20/25 minutos, mas teve consequências pesadas para a equipa. Já a dos seus adeptos da zona nobre, durou mais de hora e meia, e traduziu-se em aplausos tímidos e ligeiros abanares de cabeça no final, antes do regresso à suite, para as profiteroles.