Lembram-se do tempo em que as visitas a solo alemão eram um pesadelo para o Real Madrid? Sobretudo na era Mourinho, quando foram, sucessivamente, afastados por Borussia Dortmund e Bayern Munique, os «merengues» criaram uma espécie de aversão combatida a terapia de choque no reinado de Carlo Ancelotti.

De facto, antes de o italiano pegar na equipa e conduzi-la à «Décima», o Real Madrid vinha de três eliminatórias perdidas para emblemas alemães (Bayern nos oitavos em 2007 e nas meias em 2012; Dortmund nas meias em 2013), além de derrotas em fases de grupos frente a Bayer Leverkusen (2004) e Werder Bremen (2007).

Antes da era Ancelotti, dizia-se, a última vitória do Real Madrid na Alemanha tinha acontecido no ano 2000, por 2-3, frente ao Bayer Leverkusen.

Mas, como se disse, na caminhada até Lisboa, o Real foi obrigado a terapia de choque. Enfrentou e deixou pelo caminho, um a um, desde o início da fase a eliminar, Schalke 04, Borussia Dortmund e Bayern Munique.

Fantasma enterrado. A tal ponto que, na época passada, ainda com o italiano ao leme, o Real voltou a solo germânico e voltou a vencer. Esta quarta-feira, o pesadelo voltou.

Chegando a Wolfsburgo híper-favorito e com a confiança que a vitória no Clássico espanhol sempre dá, o Real Madrid voltou aos erros e má fortuna e acabou com a eliminatória comprometida. E só não se usa um adjetivo mais forte, porque a história diz que o Real Madrid até costuma dar a volta a desvantagens de 2-0 quando pode jogar no Bernabéu a segunda mão.

Essa é, porém, a análise global aos mais de 50 anos de história na Taça dos Campeões Europeus, porque se nos reportarmos ao período mais recente o cenário é mais áspero para o Real Madrid.

Os «blancos» vêm numa série de cinco remontadas falhadas. E em quase todas até estamos a falar de uma derrota pela margem mínima.

As últimas tentativas de remontada do Real Madrid na Champions:

2014/15: MEIAS FINAIS, Juventus (2-1; 1-1)

2012/13: MEIAS FINAIS, Borussia Dortmund (4-1; 2-0)

2011/12: MEIAS FINAIS, Bayern Munique (2-1; 2-1*)

2009/10: OITAVOS DE FINAL, Lyon (1-0; 1-1)

2007/08: OITAVOS DE FINAL, Roma (2-1; 1-2)

A última reviravolta conseguida com sucesso foi em 2002, também frente a um rival alemão, no caso o Bayern Munique, mas com apenas um golo de desvantagem. Nos quartos de final, os alemães ganharam em casa por 2-1 mas perderam na capital espanhola por 2-0. O Real Madrid seguiria para a final onde levantaria a Taça frente a outro conjunto alemão, o Bayer LEverkusen, na noite em que brilhou o, agora, treinador, Zidane.

A última vez que o Real Madrid virou em casa uma desvantagem de dois golos trazida da primeira mão foi há 29 anos. Nos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus de 1986/87, o Real perdeu 4-2 no reduto do Estrela Vermelha, mas conseguiu vencer em casa por 2-0, seguindo para as meias-finais, onde seriam eliminados pelo Bayern Munique, que depois disputou e perdeu a final para o FC Porto, em Viena.

Navas perdeu o recorde, Vieirinha perdeu…o dente

Do jogo de Wolfsburgo fica ainda outra má notícia para o Real Madrid: a quebra da imbatibilidade de Keylor Navas.

O Real Madrid ainda não tinha sofrido qualquer golo nesta edição da Liga dos Campeões e guarda-redes candidatava-se a escrever o seu nome no livro de recordes da prova, mas o penálti convertido por Ricardo Rodríguez logo aos 18 minutos acabou com as pretensões do internacional da Costa Rica.

Assim, a marca de Navas ficou fixada em 738 minutos, ainda a alguma distância do recordista, que vai continuar a ser o alemão Jens Lehmann, que esteve 853 minutos sem sofrer golos na Liga milionária.

No campo das peripécias, a mais peculiar foi protagonizada por Vieirinha, o português que saiu vencedor do embate e vai mostrando argumentos rumo ao Euro 2016. Num choque com Toni Kroos, o lateral perdeu…um dente.

Joe Hart e os 11 metros: depois de Messi parou Ibra

No outro jogo desta quarta-feira, além do caricato golo de Ibrahimovic com a colaboração de Fernando, e de um 2-2 que deixa tudo em aberto para a segunda mão embora seja um resultado melhor para os ingleses, fica a fantástica performance de Joe Hart na hora de travar grandes penalidades.

O guardião internacional inglês está a mostrar-se um autêntico especialista, tendo defendido os últimos três penáltis que o seu clube sofreu na Liga dos Campeões. Frente a Barcelona (e Messi), Borussia Monchengladbach e, agora, PSG (e Ibrahimovic) foi o inglês a levar a melhor.

Aliás, os números de Hart são de verdadeiro especialista na arte…