Tendo Cristiano Ronaldo e Pepe de um lado, e Tiago do outro, é certo que a 61ª final da Taça/Liga dos Campeões, neste sábado, vai dar a pelo menos um internacional português a medalha de rei da Europa na temporada 2015/16. A poucos dias do Euro, Fernando Santos e restante comitiva e adeptos da Seleção Nacional vão torcer, em primeiro lugar, para que nenhum problema físico venha a afetar os dois jogadores do Real Madrid, antes de se juntarem aos trabalhos de preparação. Mas saber qual ou quais dos portugueses saem por cima do duelo é apenas uma de entre as muitas curiosidades que aumentam a expetativa para o jogo mais importante do ano no que diz respeito à época de clubes.

A terceira de Cristiano?

Começando por Cristiano Ronaldo, vale a pena frisar que o capitão da equipa das quinas pode tornar-se o primeiro jogador português a conquistar o troféu por três vezes, depois dos títulos continentais que venceu em Manchester (2008) e no Real (2014). Atualmente, Ronaldo é um de entre 14 portugueses com dois títulos de campeão - já agora, os outros são Deco, Bosingwa, Paulo Ferreira, Paulo Sousa, Costa Pereira, Mário João, Germano, Ângelo, Cavém, Cruz, José Águas, José Augusto e Coluna. Se o Real vencer, Pepe, vencedor em 2014, junta-se a este lote. Se for o Atlético a ganhar, Tiago terá direito a estreia na lista de portugueses campeões da Europa.

Outros recordes na mira

Cristiano Ronaldo deverá ser consagrado melhor marcador da Liga dos Campeões pela quarta temporada consecutiva, igualando a proeza conseguida por Messi entre 2009 e 2012. O português corre também pela perspetiva de igualar, ou até superar, o seu recorde de golos numa edição da Liga dos Campeões: conseguiu 17 em 2014 e nesta altura já vai com 16 marcados. Se marcar na final, Ronaldo não se limita a igualar este recorde: torna-se o primeiro jogador a marcar em três finais da Liga dos Campeões, desde a mudança de formato, em 1993. Se contarmos com a Taça dos Campeões originais, então o recorde continua na posse de Alfredo Di Stefano, que marcou em cinco decisões, entre 1956 e 1960, sempre com vitórias do Real Madrid.

CR7: 15 golos ao At. Madrid, mas só um a Oblak

O At. Madrid é «cliente» habitual de Cristiano Ronaldo, que marcou 15 golos aos «colchoneros», em 22 jogos oficiais. Desses, venceu 12 e perdeu sete. O lado negativo é que ficou em branco nos últimos cinco: a última vez que faturou diante dos colchoneros foi em janeiro de 2015 – o único que marcou a Jan Oblak, o guarda-redes menos batido das grandes Ligas europeias. Já Pepe soma 12 vitórias e apenas duas derrotas diante do Atlético, com um golo marcado. Tiago, por sua vez, soma quatro vitórias em 14 jogos, tendo marcado dois golos aos seus adversários deste sábado.

11-0 ou 10-1?

Esta é a 14ª final do Real Madrid na Taça/Liga dos Campeões, com o saldo de dez títulos e apenas três desaires nas presenças anteriores. Com mais três triunfos (e finais) do que o Milan, o perseguidor mais próximo, os merengues podem acentuar, ainda mais, o estatuto de dominadores históricos da competição caso consigam a 11ª joia na coroa. Do outro lado está um Atlético Madrid que procura tornar-se o 23º clube (terceiro espanhol) a chegar ao trono europeu. Seja qual for o vencedor, é certo, porém, que a Espanha vai somar a 16ª vitória, distanciando-se de Inglaterra e Itália (12 títulos cada) e acentuando um domínio ainda mais evidente nas últimas três edições, onde contou com cinco dos seis finalistas.

15 resistentes do jogo da Luz

Sem qualquer vitória na prova e com duas derrotas nas únicas finais a que chegou, o At. Madrid já experimentou por duas vezes a sensação de ver a Taça fugir-lhe das mãos nos últimos instantes da decisão. A segunda foi há dois anos, em Lisboa, diante deste mesmo Real Madrid. E, tal como na primeira (40 anos antes, com o Bayern Munique) os colchoneros só sofreram o empate nos descontos, numa cabeçada de Sergio Ramos, que precipitou a derrocada (4-1) no prolongamento.

Dos 14 jogadores utilizados no jogo do estádio da Luz, o Real Madrid mantém nove (Carvajal, Sergio Ramos, Varane, Marcelo, Modric, Isco, Bale, Cristiano Ronaldo e Benzema) nas suas fileiras – embora na prática sejam oito, visto que Varane está excluído da final, por lesão. Por sua vez, o At. Madrid mudou mais, mantendo apenas seis jogadores que atuaram em Lisboa: Juanfran, Godín, Filipe Luís, Koke, Gabi e Tiago.

Sétima final «dobrada»

E por falar em repetentes, o dérbi de Madrid vai tornar-se a sétima final com edições repetidas desde a criação da Taça dos Campeões, em 1956, e a primeira a bisar a decisão entre equipas do mesmo país. A primeira final «copiada» foi o Real Madrid-Reims (1956 e 1959), seguindo-se Milan-Benfica (1963 e 1990), Milan-Ajax (1969 e 1995), Ajax-Juventus (1973 e 1996), e, já no século XXI, Milan-Liverpool (2005 e 2007) e Barcelona-Man. United (2009 e 2011).

Também é certo que, seja qual for o vencedor desta edição, não vai acumular a coroa com o título de campeão do seu país, ao contrário do que aconteceu na época passada com o Barcelona. E se for o Real a vencer, apenas teremos confirmada uma tendência histórica: os merengues não conseguem correr em várias frentes em simultâneo, já que nas dez vezes em que venceram a Taça/Liga dos Campeões só em duas ocasiões (1957 e 1958)

O tabu de São Siro

O Real Madrid nunca perdeu uma final europeia com equipas espanholas e também nunca foi afastado pelo At. Madrid em provas da UEFA, mas tem, ainda assim, um enguiço histórico pela frente: nunca venceu jogos oficiais em São Siro, onde já jogou 14 vezes, com dez derrotas e quatro empates. Esse jejum é extensivo a Cristiano Ronaldo, que nunca marcou no mítico estádio milanês, nas quatro vezes em que lá atuou, pelo Manchester United e pelo Real Madrid. Esta é a quarta final da Taça/Liga dos Campeões a disputar-se no estádio de Milão. Só Wembley, com sete, teve mais decisões (cinco na versão antiga, duas na atual).

A sua cara não me é estranha

Este o 32º embate entre equipas do mesmo país na Taça/Liga dos Campeões e a sexta final em versão «doméstica». Os espanhóis são, aliás, os principais culpados por este tipo de frente a frente: aconteceu por 12 vezes, contra 11 entre equipas inglesas, quatro entre italianas, três de alemãs e uma de francesas.

No que se refere a finais, é a terceira decisão cem por cento espanhola, depois do Real Madrid-Valencia de 2000 e do Real-Atlético de 2014. As duas foram ganhas pelos merengues, que têm um saldo amplamente favorável sempre que enfrentam espanhóis na Europa: sete vitórias/apuramentos, e apenas dois desaires, ambos diante do Barcelona (em 1961 e em 2011). O At. Madrid já se cruzou três vezes com os merengues (em 1959 e 2015, além da final perdida de 2014). Já agora, as outras finais «domésticas» foram todas no séc XXI: Milan-Juventus (2003) Man. United-Chelsea (2008) e Bayern-Dortmund (2013).

O efeito Simeone…

Este é o 20º confronto entre os rivais de Madrid desde que Diego Simeone comanda o Atlético. E se, historicamente, a balança está muito inclinada para o lado do Real (107-54 em jogos oficiais), o equilíbrio acentuou-se como nunca desde que o argentino chegou a Manzanares, em dezembro de 2011: sete vitórias para cada lado e cinco empates, nos 19 jogos da era Simeone. Um período durante o qual Real e Atlético conquistaram uma Liga cada (três para o Barcelona), uma Taça do Rei (três para o Barcelona) e uma Supertaça (duas para o Barcelona).

Para os desempatar, por enquanto, só mesmo a Liga dos Campeões que o Real Madrid conquistou de forma dramática há dois anos, em Lisboa, batendo os colchoneros na final. Mas até isso pode ficar igualado neste sábado, caso Simeone se torne o terceiro treinador argentino a sagrar-se campeão europeu, depois de Helenio Herrera (Inter) e Luis Carniglia (Real Madrid).

… e o efeito Zidane

Mesmo não tendo conseguido levar a equipa ao título espanhol, a caminho da 27ª partida oficial como técnico do Real Madrid, Zidane apresenta um saldo impressionante de 21 vitórias, três empates e duas derrotas: uma foi na Champions, com o Wolfsburgo, e acabou por não ter consequências. Mas a primeira, para a Liga… foi em casa com o At. Madrid (1-0, golo de Griezmann).

Depois de ter estado ao lado de Ancelotti como adjunto, na final de 2014, o francês pode tornar-se o sétimo homem a conquistar a Champions como jogador e como treinador principal, seguindo as pisadas de Miguel Muñoz (Real Madrid), Giovanni Trapattoni (Milan e Juventus), Johann Cruijff (Ajax e Barcelona), Carlo Ancelotti (Milan e Real Madrid), Frank Rikaard (Milan, Ajax e Barcelona) e Pep Guardiola (Barcelona).

Zidane pode ainda imitar a proeza de Guardiola, que em 2009 ergueu a Champions no ano de estreia como treinador de elite, e, de passagem, tornar-se o primeiro treinador francês a sagrar-se campeão europeu de clubes. E tornar-se o segundo Bola de Ouro da História a vencer a Champions como campeão, depois de Johann Cruijff. Certo, certo, é que, seja Zidane ou Simeone, o vencedor da final de Milão será o 40º técnico campeão, juntando-se a uma lista de que fazem parte dois portugueses, Artur Jorge e José Mourinho.