Nas últimas quatro edições da Champions, o confronto dos oitavos tem sido sistematicamente favorável às equipas que fazem o primeiro jogo fora: foram apuradas em 26 casos, contra apenas 6 para os visitados da primeira mão. Não é coincidência, claro: isto resulta da trajetória de sucesso na fase de grupos, que dá aos vencedores o estatuto de cabeça de série e o privilégio de faze ro segundo jogo em casa. Pois a regra continua a ser respeitada: nesta edição da prova foi preciso esperar pela sexta tentativa para que, finalmente, uma equipa visitada conseguisse vencer um jogo nos oitavos de final da Champions.

Por margem apertada, é certo: o 2-1 da Juventus ao Borussia Dortmund não é um resultado tranquilizador, tanto mais que a equipa italiana corre o risco de jogar a segunda mão sem maestro, depois da lesão muscular sofrida por Pirlo aos 37 minutos.
 


Num jogo que ficou marcado por erros defensivos primários – de Weidenfeller, no primeiro golo da Juve e de Chiellini, no empate momentâneo do Dortmund – acabou por ser um espanhol, Alvaro Morata, a fazer inclinar a balança para a «vecchia signora», apontando o seu primeiro golo europeu da temporada, e apenas o segundo da carreira, num trajeto internacional ainda curto.

Mesmo antecipando as maiores dificuldades no Signal Iduna Park, dentro de três semanas, a Juventus está um pouco melhor do que estava à partida para este jogo. E isso é algo que não podem dizer Shakhtar, Schalke, PSG, Basileia e Manchester City, as outras equipas que começaram esta eliminatória jogando em casa.



Tal como há uma semana, no Schalke-Real Madrid, quem viu o jogo pode ter ficado com uma ligeira sensação de dejá vu: afinal, há um ano, o Barcelona tinha-se imposto por 0-2, fechando a eliminatória no primeiro assalto. Desta vez, os ingleses fizeram um pouco melhor: foram batidos por 1-2, por um Barcelona que, depois da derrota caseira com o Málaga, puxaram os galões e assinaram os regresso. às grandes noite. Já os adeptos do City voltaram a ser confrontados com uma confirmação inconveniente: a de que, apesar do forte investimento nos últimos anos, e dos vários troféus domésticos entretanto conquistados, continuam a estar um patamar abaixo dos grandes da Europa.

No Etihad, Manuel Pellegrini voltou a provar um veneno bem conhecido: foi o seu 15º jogo com o Barcelona, desde 2008, e o saldo está agora em dois empates e 13 derrotas. Deve doer, tanto mais que a derrota tangencial, sendo um mau resultado, poderia ter sido muito pior. Na primeira parte, a equipa catalã sujeitou os «citizens» a um autêntico banho de bola, com Suarez a voltar à sua versão inglesa – o uruguaio nunca foi tão feliz como nos relvados da Premier League.



O «bis» do «vampiro» diante de Joe Hart deve ter feito o internacional inglês recordar-se de um célebre Uruguai-Inglaterra, em que Suarez, miraculosamente recuperado de uma lesão em tempo recorde, afundou as esperanças inglesas com dois golos em outros tantos remates. Mas Suarez não esteve sozinho, já que os primeiros 45 minutos do Barcelona foram, coletivamente, do melhor que os «blaugrana» têm feito desde que Guardiola deixou a equipa.

A ligeira quebra visitante no segundo tempo ainda permitiu ao City, claramente fragilizado pela ausência de Touré, recuperar alguma ilusão: depois de Dzeko falhar algumas ocasiões flagrantes, o grande, grande golo de Aguero ainda fez pensar, por momentos, que seria possível ver uma história diferente. Mas acabou por ser o Barcelona a desperdiçar a oportunidade de pôr um ponto final na eliminatória, quando no último minuto de compensações, Messi conquistou, e desperdiçou, uma grande penalidade e a respetiva recarga, para justificada euforia de Hart.




Foi o terceiro penálti falhado por Messi nas últimas sete tentativas, o 13º em toda a carreira, em 59 tentativas. Mas, desta vez, o lance da recarga, cabeceada para fora com a baliza deserta, desenha um falhanço estranho, invulgar para o talento do argentino que, por sinal, tinha assinado até aí mais uma grande exibição. Conhecendo os seus antecedentes, é de prever que tenha entrado no avião, de volta a Barcelona, já a planear maldades para acertar as contas no jogo da segunda mão.

Nesta quarta-feira fecham-se as contas da primeira mão dos oitavos, com um aportuguesado Mónaco - Jardim, Moutinho, Bernardo Silva, Ricardo Carvalho - a tentar prolongar a tradição, sendo feliz fora de portas. É, talvez, o único caso, em que o claro favorito joga primeiro em casa, num jogo que assinala também o reencontro de Arséne Wenger com o clube que o projetou para a fama, ainda nos anos 90.

À mesma hora, o Atlético Madrid vai à Alemanha tentar confirmar que é uma equipa com vocação para este tipo de provas - e de jogos, de expectativa e contra-ataque - perante um Leverkusen que atravessa o momento mais difícil da época, só tendo vencido um dos últimos cinco jogos oficiais. Lembram-se da regra? Pois é: na época passada, os oito visitantes da primeira mão seguiram em frente. Uma ideia que deve fazer sonhar Leonardo Jardim e companhia...