Dani Alves fez um impressionante relato no The Players’ Tribune, uma plataforma que recolhe testemunhos de vários desportistas de elite. O lateral da Juventus escreveu sobre tudo, a infância ao topo, e revelou que o filme da sua vida motiva-o para dar sempre mais.

«Pouco antes de cada partida, eu sigo a mesma rotina. Eu fico de frente ao espelho por cinco minutos e bloqueio todo o resto. Então um filme começa a rodar na minha cabeça. É o filme da minha vida», explicou.

O defesa brasileiro recorda o período em que, com 10 anos, dormia «numa cama de concreto na pequenina casa da família em Juazeiro (BA), Brasil.»

«O colchão é tão fininho quanto o seu dedo mindinho. A casa cheira a terra molhada, e ainda está escuro lá fora. São 5 da manhã, e o sol ainda não nasceu, mas eu tenho de ajudar a meu pai na nossa fazenda antes de ir à escola. Meu irmão e eu vamos para o campo, e nosso pai já está lá, trabalhando. Ele está carregando um tanque grande e pesado nas costas, ele está pulverizando as plantas e as frutas para matar as pragas de uma colheita», vai descrevendo.

O pai teve talento para o futebol mas faltou dinheiro para sair de Juazeiro. Agora, queria algo diferente para o jovem Dani, que aos 13 anos consegue entrar numa academia.

Dani Alves revela depois «uma das únicas mentiras que disse no futebol». Tinha 18 anos, jogava no Bahia e contaram-lhe que o Sevilha estava interessado no seu concurso.

«Você sabe onde fica?», perguntaram-lhe: «Claro que eu sei onde Sevilha fica. Sev-iiiiiilha. Eu amo». Mas não sabia, não fazia a mínima ideia. Percebeu depois que era em Espanha. O certo é que ficou no Sevilha de 2003 a 2008, ano em que o Barcelona bateu à porta.

« Mano, eu vim da Pqp.

E estou aqui agora.

É irreal, mas eu estou aqui.

…Bora.»

Barcelona foi a sua casa até 2016. Porém, foi obrigado a partir e rumou à Juventus, já com 33 anos.

O lateral não esconde o seu amor pelo emblema catalão mas o grande objetivo já estava a ser cumprido: simplesmente, deixar o seu pai orgulhoso.

«Em 2015 ele foi a Berlim para me ver ganhar a final da Champions League pela primeira vez pessoalmente. Eu me lembro que, após as comemorações pela conquista nos gramados, o Barça deu uma festa especial para as famílias dos jogadores.

Nós tivemos que entregar o troféu para as pessoas que nos ajudaram a realizar nossos sonhos. Então eu me lembro que, quando foi a minha vez, passei o troféu para o meu pai.

Então, ele disse uma coisa, que, por ser um palavrão, eu não vou reproduzir aqui exatamente com precisão.

Mas, basicamente, ele disse algo do tipo ‘Meu filho é o cara agora’

E você quer saber? Ele estava chorando como um bebê.

Aquele foi o grande momento da minha vida.»

Daniel Alves não deixa ainda assim de procurar mais, sempre com o filme da sua vida no pensamento. Segue-se a final da Liga dos Campeões pela Juventus, frente ao Real Madrid de Cristiano Ronaldo. O duelo está marcado.

«Como sempre, eu estudarei o Cristiano Ronaldo como uma obsessão. Como sempre, eu irei para a frente do espelho antes da partida e rodar o mesmo filme na minha cabeça», conclui o jogador.

Esta é a versão resumida de um longo relato que pode ler no The Players’ Tribune, aqui. Vale a pena.