O jogo que mais vezes se disputou nas provas europeias vai jogar-se de novo e é o maior no cartaz dos quartos de final da Liga dos Campeões. Uma história que começa em 1976, quando um louco agrediu o árbitro da partida, e teve o último capítulo em 2014.
'El Loco del Bernabéu' agrede al árbitro y a Müller en el primer partido oficial entre Madrid y Bayern (semis 1976). pic.twitter.com/kxY3wbezhL
— Andrés Cabrera (@AndresCabreraQ) April 23, 2014
Antes disso, há um Juventus-Barcelona e um B. Dortund-Mónaco, para além do Atlético Madrid-Leicester.
Os quartos de final da Liga dos Campeões começam nesta terça-feira, com mais ou menos história nas eliminatórias. Nenhuma maior, claro, do que as de Bayern Munique e Real Madrid.
«El loco del Bernabéu»
Real Madrid e Bayern «conheceram-se» em 1976. Daí para cá, reencontraram-se 22 vezes. O que faz desta primeira mão a 23ª e torna este duelo no confronto mais repetido em provas da UEFA.
O primeiro jogo ocorreu em Espanha e ficou para a história, apesar de um resultado banal: 1-1. Devido a uma falha no sinal, o golo alemão, de Gerd Müller, foi exclusividade do estádio, que veria um adepto agredir não só o ponta de lança bávaro, como o árbitro da partida, o austríaco Erick Linemayer. Foi a noite de «el loco del Bernabéu.»
O As encontrou-o 25 anos mais tarde, em 2001, e «el Loco» contou a história.
«Estava a ver o jogo no segundo piso com a minha mulher que estava grávida de sete meses, a minha cunhada e o meu irmão. Há um penálti sobre Santillana que não é assinalado e fiquei com uma raiva tremenda. Disse à minha mulher que ia à casa de banho para que não suspeitasse do que ia fazer. Desci as escadas até chegar à bancada que está junto ao relvado. Não havia cercas e atirei-me ao árbitro sem pensar. Estava cego! Não é fácil explicar. Os jogadores do Bayern dirigiam-se a mim e o árbitro estava de costas enquanto eu corria para onde ele estava. Assim que ele virou a cabeça para mim, enquanto corria, pude dar-lhe um murro no queixo antes que ele se pudesse defender. Reconheço que o agredi à traição. O guarda-redes deles, Sepp Maier, deu-me uma patada nas costas e deixou-me os pitons marcados durante vários dias. De repente, estava no chão e com várias pessoas em cima de mim. Estava assustado. Quando me levantei, vi que tinha perdido um sapato e o meu gorro. Um empregado do clube disse-me “pega nas tuas coisas e pira-te, vá”. Por isso é que a polícia não me deteve. Voltei à bancada e fui para o meu lugar. Houve gente a dizer-me que tinha tido uns grandes tom**** e outros que diziam que eu era um filho da p***. O que fiz foi um disparate enorme. Um pecado da juventude. Tinha apenas 26 anos. O que mais me dói foi o dano que causei ao Real Madrid, porque eu sinto o clube.»
A vergonha é tanta do que fez que «el loco del Bernabéu» manteve o anonimato até hoje. Apenas se sabem as iniciais: J.D.P.
Photo via @AS_Historia of 'el loco del Bernabéu' attacking ref in Madrid-Bayern in 1976 at Bernabeu: pic.twitter.com/BtCgnHLqGO
— Dermot Corrigan (@dermotmcorrigan) April 23, 2014
O ato teve consequências imediatas: o Real Madrid foi suspenso de participar nas provas europeias. Foi necessária muita diplomacia para o castigo ser reduzido a três jogos de interdição do Bernabéu.
O Bayern viria a sagrar-se campeão europeu em 1976, tal como sucedeu ao Real Madrid da última vez que as equipas se defrontaram. Um 4-0 aplicado pelos espanhóis em solo germânico, numa grande noite de Cristiano Ronaldo, abriu caminho à 10ª Champions dos merengues: era treinador Carlo Ancelotti, hoje técnico dos bávaros.
Clubes e jogadores não precisam de apresentações, mas ambos os treinadores estão limitados nas opções, devido a lesionados. Ora, com 5-5 em eliminatórias ganhas por um e outro, os quartos de final de 2016/17 vão desequilibrar esse dado e, mais importante, um dos principais candidatos ao título ficará pelo caminho precocemente.
Aqui nem o Dream Team
Juventus e Barcelona voltam a encontrar-se nesta terça-feira depois da final de 2014/15 que os catalães venceram por 3-1. Os italianos sofreram muitas alterações em dois anos.
Evra, Pirlo, Pogba, Vidal, Morata, Tévez, Coman, Llorente e Roberto Pereyra estiveram na final de Wembley, mas já não moram no clube. São nove dos 14 utilizados.
O Barça vem de uma derrota na liga espanhola e desloca-se a um terreno onde ninguém vence desde agosto de 2015 (Udinese, Serie A) e cuja última derrota em provas europeias sucedeu há quatro anos: 10 de abril de 2013, com o Bayern Munique.
Também não houve qualquer equipa do Barcelona a vencer no recinto da Juventus. Nem mesmo o Dream Team de Cruijff, que ali perdeu nas meias-finais da Taça da Taças em 1991, antes de perder essa prova para o Manchester United de Alex Ferguson.
«Somos os melhores do mundo», Leonardo Jardim
O Borussia Dortmund é o outro campeão europeu destes quartos de final e terá pela frente o prolífico Mónaco, de Leonardo Jardim. O encontro não tem passado, por isso apenas se fala no presente. Thomas Tuchel atribuiu o favoritismo aos monegascos, mas Leonardo Jardim não foi na cantiga do germânico.
«Sim, sim, tenho conhecimento do que disse. Somos os melhores do mundo», ironizou o português, que rematou de seguida: «Na minha opinião não é assim.»
Em campo, é provável que coabitem dois dos pés esquerdos portugueses mais talentosos da atualidade: Raphael Guerreiro e Bernardo Silva.
Um duelo que se espera eletrizante e jogado em alta velocidade, com Aubameyang de um lado e Kylian Mbappé do outro. Com um Dortmund que já fez 25 golos nesta prova em oito jogos e um Mónaco que leva 133 na temporada. 0-0? Visto assim, é pouco provável.
O Borussia tenta chegar às meias-finais depois de o ter feito pela última vez em 2012/13, em que até foi finalista. Já o Mónaco tenta repetir o feito de 2003/04, em que bateu o Real Madrid nos quartos de final e acabou por ser vice campeão europeu, devido ao FC Porto.
A besta do Leicester, que não esquece
O jogo menos atrativo antes de ser jogado, mas com relativa história. É o terceiro de Espanha frente ao 11º de Inglaterra, que é também o campeão vigente da Premier League.
O Leicester desloca-se ao Vicente Calderón para defrontar a sua besta negra europeia: esta será a terceira vez em quatro participações que o clube enfrenta o Atlético. Nas duas primeiras, foi eliminado.
Aconteceu na Taça das Taças de 1961/62 e na UEFA 1997/98, uma eliminatória com polémica e que os ingleses não esquecem.
Em 2000/01, foi o Estrela Vermelha de Belgrado na mesma Taça UEFA.
A terminar há esse dado também: apesar de o Leicester ter eliminado o Sevilha nos oitavos, o At. Madrid nunca perdeu em casa para oposição inglesa.
A Champions regressa já nesta noite e mais história será feita.