O menino que nasceu em Madrid, cresceu em Bilbau e está a fazer-se jogador em Braga ainda deixou uma ameaça real.

Minuto 63. O mundo não tremeu. Mas a Pedreira abanou com o golo de Álvaro Djaló, que relançou o Sporting de Braga na discussão do resultado, numa noite de jogo histórico no Minho.

Houve golo. Depois dele, mais crença. Vontade. Mas não chegou, por fim. O Real Madrid, recordista de títulos na Champions, manteve o 2-1 e deu um passo firme para o apuramento o grupo C, no jogo 200 de Carlo Ancelotti na prova. Entre a magia de Vinícius (duas assistências para golo) e a segurança e confiança de um coletivo que ainda abanou na última meia hora, valeram os golos de Rodrygo e de Bellingham.

Numa noite especial, com quase 30 mil adeptos (29.820) em Braga, o Real passou, mas também sofreu. Houve expectativa até ao último apito.

Da entrada interessante do Braga ao controlo real

Com uma revolução (natural) no onze face ao jogo da Taça – só Vítor Carvalho ficou – o Sp. Braga teve uma boa entrada, com alguma bola no meio-campo contrário. Embora sem criar real perigo, mostrou ao que ia.

Só que quem tem Vinícius, Rodrygo, Modric, Bellingham ou Valverde, arrisca-se a vencer e a ser feliz. O Sp. Braga teve mérito na forma como se bateu. Como acreditou, sobretudo na segunda parte, depois do golo de Djaló. E como ainda incomodou o tubarão espanhol até ao fim. Não chegou.

Aos poucos, o Real Madrid, mais do que dominar, conseguiu ir controlando o jogo na primeira parte. O papel híbrido de Bellingham foi um trunfo, com o inglês ora a surgir na linha média junto a Modric, Camavinga e também Valverde, descaído na esquerda, ora a potenciar a construção e a profundidade em zonas mais centrais (enquanto Fran García dava largura pelo corredor esquerdo), perto de Rodrygo e Vinícius. A variação do Real no posicionamento, no centro de jogo e nas desmarcações deu algumas dores de cabeça a um Sp. Braga que teve constantemente Vítor Carvalho entre Serdar e Niakaté, na missão defensiva e no auxílio ao controlo da profundidade. Por vezes, o miolo também pareceu descompensado quando o Real acelerava. Foi por ali que Camavinga, por exemplo, conseguiu galgar metros em várias situações e aproximar o Real da área de Matheus.

Ao minuto 16, o duo brasileiro do Real fez magia na frente, depois de um passe de Nacho a lançar Vinícius na profundidade. O brasileiro, que tanto trabalho deu a Serdar na Pedreira, partiu de trás, mas superou o turco e cruzou para o desvio certeiro – e feliz – de Rodrygo, no duelo com Niakaté.

Um lance que fez a diferença até ao intervalo, numa primeira parte em que o Sp. Braga não deixou de atacar, embora o tenha feito com alguma calma. Pela certa, procurando não errar e com paciência à procura de espaços. E também à procura de explorar o erro alheio, como aconteceu num mau passe e numa má receção em dois lances. Houve dois avisos na área por Musrati (20m) e Ricardo Horta (24m): ambos levavam selo de golo, não fossem os remates cortados. Depois, Musrati descobriu Djaló e o remate pouco ao lado deixou água na boca em cima do descanso.

Cheirou a empate, mas a desvantagem era real. Os espanhóis, sem velocidade total, aceleraram na hora certa e com o ritmo certo para sair na frente.

Bellingham marca, Djaló responde e (quase) tudo muda

Tal como na primeira parte, o Sp. Braga entrou bem na segunda, deixando o aviso na cabeça de Banza. Mas depois, novamente Vinícius a querer fazer estragos. E também Bellingham a obrigar Matheus a uma bela defesa (50m), dez minutos antes de fazer o 2-0. Valverde acelerou a partir do meio-campo e lançou Rodrygo, que até nem fez o passe ideal para Vinícius, mas este tratou do resto para servir a conclusão do inglês solto à entrada da área. Um golo que foi um claro exemplo da mudança de velocidade na hora certa que o Real teve em momentos decisivos para, no fim, sair com a vitória.

Só que em Braga havia alma e um menino que outrora apoiava o Barcelona para picar o pai, adepto do Real. E que picou o ponto logo a seguir, com o 2-1 numa belíssima jogada: Musrati deu em Djaló, que abriu na direita para o cruzamento de Joe Mendes encontrar Banza na área e o francês devolveu para a conclusão certeira do hispano-guineense.

O 2-1 deu uma nova configuração ao jogo. Deu vida ao Sp. Braga, que correu mais e melhor à procura do empate. Já com Bruma e Abel Ruiz, Ricardo Horta lamentou o 2-2 fruto de uma defesa de Kepa (70m) e Zalazar até marcou, mas Michael Oliver já tinha interrompido o lance (78m), da mesma forma que confirmou o golo anulado a Vinícius Jr (82m). Num vaivém de emoções e bola numa e noutra área, Moutinho ainda pediu um penálti, Matheus evitou que Vinícius causasse mais estragos e Abel Ruiz cheirou o empate.

A ameaça foi real. O Sp. Braga deu luta até ao fim e mostra que também é real, com esta cara, a palavra que terá a dizer na segunda parte da fase de grupos.

(IMAGENS ELEVEN NA DAZN)