Jesus Maria não passa de um humilde lugarejo, 50 kms a norte da cidade de Córdoba, Argentina. O luxo e a ostentação não fazem parte do vocabulário das suas gentes, habituadas às dificuldades de uma arreliadora ruralidade ancestral. Uma ruralidade que castra um povo desconhecedor do significado da palavra «ambição».

Cansada de tantas queixas, uma mulher ergueu-se e decidiu homenagear os valores que sempre nortearam a figura que mais admira. «Ainda e sempre Ernesto Che Guevara», confidencia ao Maisfutebol Monica Nielsen, co-fundadora e presidente do Club Social, Atlético e Deportivo Ernesto Che Guevara, fundado a 14 de Dezembro de 2006.

O nome não deixa margem para dúvidas. Este é um clube especial, sustentado no clamor imortalizado do Hasta la victoria, siempre!. «É a maior homenagem que poderia prestar ao Comandante. Fundámos um clube com o seu nome e em sua memória. Competimos na Liga Regional de Cólon e todos os nossos símbolos estão-lhe associados. Respiramos e inspiramo-nos na obra deixada pelo Che

40 atletas, um único espírito

Inquietudes convergentes conseguiram o que nunca outros sequer sonharam ousar. Transportar a imagem do médico, guerrilheiro, humanista de Che e passar a sua mensagem dentro dos relvados do futebol. Os apoios estatais não existem e é com devoção que Monica Nielsen e restante direcção mantêm de pé o Deportivo Che Guevara.

«Somos uma entidade completamente legalizada e juridicamente imaculada. Temos mais de 40 atletas a praticar futebol em dois escalões, mas ainda esperamos que nos cedam um relvado. Só a boa vontade da Juventude Agrária de Colon nos permite ter algo parecido com uma sede. São muitas dificuldades», desabafa Monica Nielsen, «emocionada» por falar pela primeira vez desta obra «a alguém do outro lado do oceano».

«A minha vida, como a vida de todos os elementos da nossa direcção, está definida pelas convicções de Ernesto Guevara. A solidariedade, os valores de partilha e de igualdade. É isso que pretendemos passar aos nossos atletas. É isso que queremos transpor para os jogos de futebol. O Che era um apaixonado por este desporto e, onde quer que esteja, deve sentir-se orgulhoso pela nossa obra.»

10 pesos mensais para homenagear o Che

No clube todos os atletas pagam 10 pesos mensalmente. Servem para liquidar o policiamento aos jogos, o arrendamento do campo e as despesas com a arbitragem. Não, não se trata de qualquer acto ilícito. Na Liga Regional de Colón cada uma das equipas é responsável pelo pagamento de uma determinada quantia à polícia e aos árbitros sempre que assume a condição de visitado.

«Tudo vale a pena quando a fé não é pequena. O Che seria a única pessoa que seguiria, se ainda estivesse vivo. Se conduzirmos a juventude, modelamos o futuro, como ele muitas vezes dizia. É isso que pretendemos fazer também com o nosso clube», vinca Monica Nielsen.

«Todos os nossos jogadores se identificam com os ideais Guevaristas. São ideais puros, mas irreverentes. É esse também o nosso comportamento em campo. Somos de uma correcção inabalável, mas adoramos vencer.»

Nas camisolas, no emblema, na alma, o mesmo símbolo: a inconfundível expressão, a barba farta, a boina negra. Ernesto Che Guevara vive em Jesus Maria e nos relvados da Liga Regional de Cólon.