* e Henrique Mateus

P - Este Chelsea tem dado mais nas vistas pelo poder de fogo do que pelos equilíbrios defensivos e a solidez. É diferente das outras suas equipas?
R - Não é fácil analisar as minhas equipas e os seus números. Às vezes as pessoas são levadas a direcionar-se de maneira não correta. Recorde de golos na história do futebol espanhol, é uma equipa minha. Recorde de pontos em Inglaterra, é uma equipa minha. Podes dizer que esse recorde de pontos foi feito ganhando 1-0 e 2-1. Mas 2011/12, em Espanha, fomos a equipa com mais golos marcados, de sempre. Éramos defensivos? Acho que não.

- E como compara este Chelsea com os anteriores?
- Começou a ser construído na época passada, com a noção clara de que nos faltavam peças para sermos aquilo que queríamos. Não obstante, chegámos à meia-final da Champions e lutámos pelo campeonato até duas jornadas do final. Mas sabíamos perfeitamente que faltava uma ou outra peça ao nosso projeto. Por que é que não tentámos completar o puzzle na época passada? Porque neste momento, com o fair-play financeiro, o Chelsea não se pode enganar. Passou a ser uma equipa como todas as outras, que tem de gerir os seus meios de uma maneira muito racional. Se tínhamos praticamente a garantia de que poderíamos ter Diego Costa, decidimos não investir num atacante e esperar por um jogador que sabíamos poder vir a ser nosso. Se tivéssemos contratado um ponta-de-lança na época passada poderíamos ter sido campeões? Ou ter ido mais longe na Champions? Se calhar sim. Mas era esse o nosso projeto de equipa? Não, o projeto era trazer de jogadores do perfil do Diego, e também do Cesc, que, para mim, foi uma surpresa.

- Como assim?
- Sabíamos qual o perfil de jogador, mas não era ele a face identificada, porque nunca pensámos na possibilidade de ter o Fábregas. Sempre pensámos que iria ficar em Barcelona ou, a regressar a Inglaterra, iria voltar ao Arsenal. Quando soubemos que era possível, completámos este puzzle, que nos deixa numa situação de uma equipa com muitos anos para crescer, mas com identidade própria. Não sei se é para ganhar o campeonato ou não, sei que a equipa é melhor, e tem de jogar para ganhar o campeonato, sob pena de as coisas correrem mal.

- Após dois anos atípicos na sua carreira, a pressão para ganhar um grande troféu – Premier League ou Champions – é maior?
- São anos atípicos, mas a culpa é minha, não é de mais ninguém. Atípico é ganhar sete campeonatos seguidos. Ganhar dois em Portugal, dois em Inglaterra, dois em Itália e depois, em Espanha, não ganhar o primeiro mas ganhar o segundo. Isto é que é atípico. Nos últimos dois anos, as minhas piores épocas de sempre, vou a duas meias-finais da Champions, uma final da Taça do rei, ganho a Supertaça ao Barcelona, acabo em segundo em Espanha e em terceiro em Inglaterra. Estes são os meus dois anos dramáticos, por isso a culpa é minha.

- Mas põe mais pressão em si mesmo?
- Não. A pressão que eu ponho é a mesma que punha em 2000, quando comecei. Se me fizeres a pergunta sobre o que é que mudou em mim nestes 14 anos, eu digo que mudou tudo, menos a pressão que ponho em mim próprio para tentar fazer as coisas bem e tentar ganhar. De resto, mudou tudo.