Longe das luzes da ribalta e sem pensar em grandes voos. O atual melhor marcador dos campeonatos nacionais é o madeirense Ricardo Chíxaro. Disputa a Série Madeira da 3ª Divisão, ao serviço do Pontassolense e já conta com 23 golos.

O avançado, que vive agora um momento de exposição mediática, permanece sem grandes sonhos no mundo do futebol. Resta-lhe a vontade de ajudar a equipa a conseguir a subida de divisão e ser o melhor marcador do campeonato.

E porque é que um avançado com espírito matador permanece fora do principal nível futebolístico em Portugal? Duas explicações fora do comum para quem tem jeito com a bola. A primeira é o «medo de andar de avião».

Não é caso para ficar em terra, mas o desconforto dos voos fazem com que o jogador não aceite outras oportunidades caso estas não valem realmente a pena. Mas se o medo de andar de avião já foi visto noutros casos, como o de Bergkamp, o segundo motivo é ainda mais original: o gosto por dar aulas impede-o de subir um degrau na carreira.

Na luta pela terceira subida consecutiva

Chíxaro é comedido em relação ao seu percurso de goleador dividindo os mérito com os colegas. «Devo grande parte ao trabalho de equipa», disse. Contudo, não deixa de estar feliz com a notoriedade ganha: «É uma boa sensação. Reconhecer o meu trabalho e valor».

O avançado de 28 anos, que fez a formação no Nacional, e jogou toda a sua vida no arquipélago madeirense, já conseguiu por duas vezes subir de divisão. Ao serviço do Andorinha e do Ribeira Brava, nas últimas duas épocas.

«Tive sorte e mérito de ser campeão em dois clubes diferentes, de forma seguida», realça. A festa realizada no estádio adversário e no barco de regresso à Madeira depois da vitória em Porto Santo na temporada passada foram dos momentos mais marcantes na carreira do avançado, que na altura representava o Ribeira Brava.

Apesar das duas subidas de divisão, Chíxaro preferiu ficar pela terceira divisão. Onde curiosamente volta a lutar pelo título, agora com o emblema do Pontassolense ao peito. Sempre com o incómodo de andar de avião presente, o principal entrave para o progresso na carreira de futebolista é a existência de outra ocupação que devora tempo e gosto ao madeirense. Chíxaro dá aulas numa escola pública de Câmara dos Lobos.

«Optei por ficar sempre na série Madeira, porque no escalão superior teria treinos bidiários . No ano passado tive alguns e tinha que faltar. Saía das aulas tarde, e os treinos por vezes eram às 16h». A 2ªDivisão também não é apelativa a nível financeiro. «Não há grandes diferenças entre as duas competições», admitiu, ao Maisfutebol.

Falta de oportunidades e de empresário

Ainda assim, Chíxaro não deixa de sonhar com uma vida cem por cento futebolística. «Toda a gente tem os seus sonhos. Ainda não apareceu nenhuma oportunidade que me fizesse pensar deixar a profissão», disse.

«Com os golos marcados tenho mais mercado e, se for interessante, posso deixar o ofício de professor por 1 ou 2 anos e dedicar-me ao futebol», declarou. A falta de um empresário também condicionada a progressão. Chíxaro nunca teve um, por falta de oportunidade. Será por isso?

O melhor marcador dos campeonatos nacionais não perde a esperança. Aos 28 anos, ainda pode sonhar.